Maior e mais animado, mas ainda com as mesmas falhas.
Francis Ford Coppola não é estranho a lançar versões alternativas de seus filmes, muitos dos quais enfrentaram produções turbulentas e interferências dos estúdios. Cotton Club é um dos exemplos mais emblemáticos desse tipo de situação na carreira do renomado diretor. Conforme destacado em críticas da versão original, o longa sofreu diversos contratempos, incluindo atrasos nas filmagens, reescritas do roteiro e uma série de outros problemas que fizeram o orçamento disparar. A versão lançada nos cinemas em 1984 reflete essas dificuldades, embora o filme ainda apresente qualidades e um resultado final razoável. Agora, décadas depois, Coppola revisita a obra com uma nova edição chamada Cotton Club: Encore, na qual ele remodela a narrativa original, adicionando quase trinta minutos de cenas inéditas e retirando pouco mais de dez minutos da versão anterior.
Uma das maiores qualidades dessa nova montagem é a inclusão de três números musicais inéditos, além da ampliação de outros já presentes. O aspecto festivo, repleto de energia e celebração das coreografias, é onde o filme realmente se destaca — e onde Coppola parece mais à vontade com a câmera. Essa parte ganha ainda mais espaço aqui, com destaque para a performance inusitada e engraçada de Susan (Jackée Harry), que esbanja atitude e um timing cômico impecável ao lado da banda, bem como para a contagiante apresentação do Sandman (Gregory Hines) em “Tall, Tan and Terrific”, de Fats Waller. Grande parte dessa versão estendida se dedica a essa vertente musical, tornando o filme mais vibrante e divertido. Porém, há dois problemas evidentes: a diferença visual marcante entre as novas sequências e o material original, que prejudica a uniformidade do filme em algumas transições; e o fato de que essas adições ressaltam o principal problema do longa — a falta de equilíbrio, de tom e de foco entre o musical e a trama criminal, que continua mal desenvolvida e sem soluções claras, mesmo após a reestruturação feita por Coppola.
No geral, a narrativa envolvendo a máfia ainda atrapalha o andamento do filme. O antagonista principal, Dutch Schultz (James Remar), mantém todas as suas cenas, embora algumas delas possam facilmente ser cortadas para tornar a história mais enxuta. Coppola não acrescenta nada que aprofunde o retrato da era da Lei Seca nem o contexto das gangues, e o contraste com o maior número de números musicais apenas torna essa parte da trama mais fraca e superficial do ponto de vista dramático. Para não dizer que não há novidades, há alguns minutos extras dedicados ao intrigante Bumpy Johnson (Laurence Fishburne), mas nada que tire o personagem do Harlem do papel secundário e pouco aproveitado. De forma semelhante, o romance pouco envolvente entre Dixie Dwyer (Richard Gere) e Vera Cicero (Diane Lane) também não recebe atualizações significativas.
Por outro lado, a segunda história de amor proibido do filme, envolvendo Sandman e Lila Rose (Lonette McKee), ganha mais destaque e desenvolvimento, com o roteiro aprofundando também os comentários sobre questões raciais, que passam a ter maior relevância na trama. Essa relação é mais interessante e menos superficial do que o romance dos protagonistas principais, fazendo com que a versão alternativa de Coppola some pontos nesse aspecto. Os pontos positivos da nova edição, especialmente o foco ampliado nas sequências musicais e o enriquecimento do arco dos personagens negros, elevam um pouco a qualidade de Cotton Club, embora também evidenciem os problemas da obra original e deixem o filme ainda mais longo. Não se trata de uma troca exata, pois há mérito na visão renovada do diretor, que oferece uma experiência mais alinhada com sua proposta original, apesar de Encore continuar apresentando falhas.
Cotton Club: Encore (The Cotton Club Encore, EUA, 2019)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: William Kennedy, Francis Ford Coppola, Mario Puzo (baseado no livro The Cotton Club, de James Haskins)
Elenco: Richard Gere, Gregory Hines, Diane Lane, Lonette McKee, Bob Hoskins, James Remar, Nicolas Cage, Allen Garfield, Gwen Verdon, Fred Gwynne, Laurence Fishburne, Jackée Harry
Duração: 139 minutos
Minha trajetória começou na Grand Line, passei pelo Templo do Ar do Leste, escalei o Monte da Justiça em Happy Harbour e mergulhei nas profundezas de Atlântida. Ainda busco o One Piece. Nessas viagens, explorei mundos através das imagens dos quadrinhos, imaginei-os nas páginas dos livros e vivi suas histórias nas telas do cinema. Ainda não cheguei a Laugh Tale, mas aproveito cada passo do caminho.
Quais são as principais diferenças entre a versão original de “Cotton Club” (1984) e a nova edição “Cotton Club: Encore” lançada por Francis Ford Coppola?
R: A versão “Encore” inclui quase trinta minutos de cenas inéditas, especialmente números musicais ampliados e novos, tornando o filme mais vibrante e festivo. Entretanto, mantém o problema do desequilíbrio entre o musical e a trama criminal, que continua mal desenvolvida. Além disso, há uma diferença visual perceptível entre as novas cenas e o material original, afetando a uniformidade do filme.
A nova edição “Cotton Club: Encore” traz melhorias na narrativa e nos personagens?
R: Sim, a edição destaca mais a segunda história de amor proibido entre Sandman e Lila Rose, aprofundando temas raciais e dando mais relevância aos personagens negros, como Bumpy Johnson. Porém, a trama principal envolvendo a máfia e o romance entre Dixie Dwyer e Vera Cicero permanece pouco desenvolvida e superficial.
“Cotton Club: Encore” é recomendada para quem gostou da versão original do filme?
R: Para fãs da versão original e admiradores do trabalho de Coppola, “Encore” oferece uma experiência mais próxima da visão original do diretor, com cenas musicais mais intensas e um foco maior em aspectos culturais e raciais. Contudo, o filme fica ainda mais longo e mantém falhas estruturais que podem incomodar espectadores que buscam uma narrativa mais equilibrada.
- Quais são as principais diferenças entre a versão original de “Cotton Club” (1984) e a nova edição “Cotton Club: Encore” lançada por Francis Ford Coppola?
- A nova edição “Cotton Club: Encore” traz melhorias na narrativa e nos personagens?
- “Cotton Club: Encore” é recomendada para quem gostou da versão original do filme?