Final Fantasy VII marcou uma importante evolução na franquia ao fazer a transição do 2D para o 3D, consolidando-se como um dos jogos mais emblemáticos da série. Foi também o primeiro título da saga a ser lançado fora das plataformas da Nintendo, ajudando a estabelecer o PlayStation, tanto o original quanto o 2, como a casa oficial de Final Fantasy por muitos anos.
Logo na abertura, o jogo impressiona com uma cena cinematográfica que não depende de textos explicativos, mas sim da força visual para ambientar o jogador. Nessa introdução, conhecemos a cidade de Midgar, um lugar sombrio e com um estilo claramente cyberpunk, onde a natureza é praticamente inexistente. A cena mostra um trem chegando à estação, seguido por um confronto entre figuras desconhecidas e guardas, até a aparição do protagonista, Cloud.
Se for seu primeiro contato com o jogo, esse momento pode causar um choque visual: a qualidade gráfica da abertura não corresponde aos modelos dos personagens controlados fora das batalhas. Eles aparecem como pequenas figuras poligonais, quase como sprites 2D adaptados para o 3D, com poucos detalhes além das cores. O contraste entre os cenários detalhados em 2D e esses modelos simples acaba prejudicando a impressão inicial. Por isso, Final Fantasy VII pode parecer datado para quem o encara pela primeira vez, mas vale a pena superar essa barreira para aproveitar a experiência completa.
Felizmente, os gráficos melhoram consideravelmente durante as batalhas, quando personagens e inimigos ganham detalhes mais elaborados dentro de ambientes totalmente tridimensionais. A câmera dinâmica, que se movimenta de forma fluida durante o combate, traz uma sensação de ação e intensidade que destaca o sistema de turnos do jogo. A mecânica de batalha mantém o tradicional active time battle, que aqui é enriquecido pelo sistema de Limit Break: conforme os personagens recebem dano, uma barra se enche, permitindo que eles usem ataques especiais poderosos.
Outro aspecto que recebeu uma reformulação significativa foi o sistema de magia. As magias agora são obtidas por meio de pequenos orbes chamados matérias, que podem ser equipadas em slots dos equipamentos que os personagens usam. Isso possibilita uma grande liberdade para montar a equipe, permitindo que qualquer personagem assuma papéis diferentes, como guerreiro, ladrão ou mago. Essa flexibilidade remete ao sistema de Jobs de Final Fantasy III, mas com muito mais liberdade para o jogador. Na minha opinião, o sistema de matérias de Final Fantasy VII só fica atrás do sistema de Final Fantasy X dentro da série.
Quanto à progressão, os personagens sobem de nível da maneira tradicional, ganhando experiência para evoluir (afastando-se dos métodos mais excêntricos vistos em outros títulos, como Final Fantasy II). A novidade é a introdução dos AP (Ability Points), que funcionam como pontos de experiência específicos para as matérias. Quanto mais uma matéria é usada, mais AP ela acumula, desbloqueando novas habilidades para serem usadas enquanto estiver equipada. Essa mecânica simples abre um leque enorme de possibilidades para personalizar os personagens.
Além das inovações em gameplay, o que realmente elevou Final Fantasy VII foi sua história, uma das mais maduras da série, ao lado de Final Fantasy VI, e seus personagens inesquecíveis. O enredo segue Cloud Strife, um suposto ex-membro da elite SOLDIER que se junta ao grupo rebelde AVALANCHE, que luta contra a corporação Shinra. Segundo AVALANCHE, a Shinra está drenando a energia vital do planeta para gerar eletricidade, colocando a vida do mundo em risco. O jogo não poupa esforços para mostrar a Shinra como uma vilã implacável, envolvida em sequestros e até na destruição de comunidades inteiras.
Mas o verdadeiro perigo vai muito além da Shinra. A sombra que paira sobre toda a trama é Sephiroth, o SOLDIER mais poderoso que enlouqueceu após descobrir sua verdadeira origem. Junto com Kefka, de Final Fantasy VI, Sephiroth é considerado o antagonista mais ameaçador e icônico da série. Sua loucura, alimentada por uma raiva que ultrapassa a Shinra e se volta contra tudo, é refletida em sua música tema, intitulada “World’s Enemy” no jogo Crisis Core. Assim como Kefka, Sephiroth aparece ao longo do jogo, embora de forma esparsa, mantendo uma presença constante e ameaçadora.
Um dos momentos mais marcantes com Sephiroth é sua cena mais famosa, que se tornou um símbolo da série.
Outro ponto alto de Final Fantasy VII é a forma como o jogo apresenta suas cidades. Diferente dos títulos anteriores, onde as localidades eram limitadas a uma pequena área com algumas casas exploráveis, Midgar é retratada como uma verdadeira metrópole, com várias regiões, vilas e um grande número de habitantes. Passamos as primeiras horas do jogo inteiramente dentro da cidade, saindo para o mundo aberto apenas depois de vários eventos importantes. Essa transição para o “mundo exterior” traz uma sensação de liberdade e até um alívio, deixando para trás a atmosfera opressiva de Midgar.
O mundo do jogo é repleto de outras cidades, cavernas e vilas a serem exploradas, acessíveis conforme avançamos na história e adquirimos novos meios de transporte. Entre eles, destacam-se os chocobos, criaturas que já fazem parte da franquia desde Final Fantasy II, mas que em Final Fantasy VII ganham um novo nível de importância. Pela primeira vez, é possível criar chocobos, participar de corridas para aprimorá-los e conseguir diferentes espécies com habilidades especiais. Essa é uma das atividades opcionais mais divertidas e envolventes do jogo.
Além disso, o game introduz chefes opcionais, monstros poderosos que representam um desafio muito maior que os inimigos comuns. Eles oferecem recompensas valiosas para quem os derrota, mas convém salvar o progresso antes de enfrentá-los, pois são verdadeiros testes à habilidade do jogador.
Não posso deixar de mencionar a trilha sonora de Final Fantasy VII, assinada por Nobuo Uematsu. Embora ele tenha atingido o auge em Final Fantasy VI, aqui ele mantém a qualidade, criando músicas que se tornaram clássicos da série e ajudam a definir o clima dos momentos mais importantes do jogo. O destaque vai para “One-Winged Angel”, tema da batalha final contra Sephiroth. A faixa mistura elementos do tema de “Psicose” com “Carmina Burana” e foi fundamental para consolidar a fama do vilão. É também a primeira vez na série em que uma música vocal é usada, com um refrão em latim que traduz a fúria intensa de Sephiroth: “Estuans Interius / Ira vehementi / Sephiroth”, que significa “Queimando por dentro com raiva violenta”.
Final Fantasy VII é, sem dúvida, um marco na história dos RPGs, combinando uma narrativa profunda, personagens inesquecíveis e uma trilha sonora excepcional. Seu único ponto fraco são os modelos dos personagens fora das batalhas, que podem ser difíceis de aceitar, especialmente para jogadores contemporâneos. Porém, superando essa questão, encontramos um dos melhores jogos já criados.
**Final Fantasy VII**
Desenvolvedora: Square
Lançamento: 31 de janeiro de 1997 (Japão), 7 de setembro de 1997 (EUA)
Gênero: RPG de turnos
Plataformas: PS, PSN, PC, Mac, Linux
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Refugiado de uma galáxia muito, muito distante, acabei neste planeta por engano. Minha paixão por cinema e audiovisual me levou a explorar esse universo, mas meu interesse pelo entretenimento não se limita à sétima arte: literatura, séries e jogos fazem parte essencial dessa jornada.
**Outras críticas:**
– The Last of Us: Left Behind
– Indiana Jones e o Cajado dos Destinos
– Assassin’s Creed Shadows
– The Last of Us Part I
– Mortal Kombat (2011)
– Red Dead Redemption 2
– Cyberpunk 2077
– Lost: Via Domus
– Lost: The Mobile Game
Perguntas Frequentes:
1. Quais foram as principais inovações de Final Fantasy VII em relação aos jogos anteriores da franquia?
Final Fantasy VII marcou a transição do 2D para o 3D, foi o primeiro da série lançado fora das plataformas Nintendo, introduziu o sistema de matérias para magias, que permite grande liberdade na personalização dos personagens, e implementou melhorias nas batalhas com uma câmera dinâmica e o sistema de Limit Break. Além disso, apresentou uma narrativa mais madura e uma ambientação detalhada, especialmente na cidade de Midgar.
2. Como funciona o sistema de magia e progressão dos personagens em Final Fantasy VII?
As magias são obtidas por meio das matérias, pequenos orbes que podem ser equipados nos slots dos equipamentos dos personagens, permitindo que eles assumam diferentes papéis. Os personagens evoluem ganhando níveis pela experiência tradicional, enquanto as matérias acumulam AP (Ability Points) que desbloqueiam novas habilidades conforme são usadas, possibilitando uma personalização detalhada.
3. Por que Final Fantasy VII é considerado um jogo emblemático na história dos RPGs?
Além de sua inovadora transição para gráficos 3D e sistema de gameplay complexo, Final Fantasy VII é reconhecido por sua história profunda e madura, personagens marcantes como Cloud e Sephiroth, uma ambientação rica em detalhes, especialmente em Midgar, e uma trilha sonora excepcional composta por Nobuo Uematsu, que inclui temas icônicos como “One-Winged Angel”. Apesar dos gráficos simples fora das batalhas, o jogo é visto como um dos melhores já criados no gênero.
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