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Opinião sobre Marvel Zumbis temporada 1

A animação “Marvel Zumbis Temporada 1” emerge como um marco inegável na constante expansão do universo cinematográfico da Marvel, não apenas por mergulhar de cabeça em uma das premissas mais sombrias e queridas dos quadrinhos, mas por fazê-lo com uma ousadia formal que desafia as expectativas habituais da marca. Lançada no Disney+ em setembro de 2025, esta minissérie de quatro episódios, que se desdobra em uma experiência que se assemelha mais a um longa-metragem dividido em capítulos do que a uma temporada convencional, é uma continuação direta do aclamado episódio “What If… Zombies?!” de 2021. Sob a batuta de Bryan Andrews, que retorna à direção e assume também o papel de showrunner, e com o roteiro de Zeb Wells, a produção se aventura por um território de horror zumbi que é, pela primeira vez na animação do estúdio, classificado para maiores de 17 anos (TV-MA). Essa classificação não é um mero detalhe; ela é a licença poética que permite à série explorar a visceralidade e a brutalidade inerentes a um apocalipse zumbi, algo há muito aguardado pelos fãs mais ávidos das HQs originais de Robert Kirkman.

A trama de “Marvel Zumbis” nos transporta para cinco anos após os eventos do episódio precursor de “What If…?”, onde a praga zumbi já se espalhou sem controle, transformando a maioria dos heróis e vilões do MCU em famintos mortos-vivos. Um grupo heterogêneo de sobreviventes, liderado por figuras como Kamala Khan (Ms. Marvel), Kate Bishop e Riri Williams (Coração de Ferro), embarca em uma desesperada missão para encontrar uma cura ou, ao menos, uma forma de conter a ameaça que assola o que resta da humanidade. A narrativa, embora linear, se beneficia da estrutura em quatro partes para construir uma aventura que, apesar de compacta, procura oferecer momentos de respiro e escalada de tensão. A decisão de manter a duração total em torno de duas horas, com cada episódio com aproximadamente 30 minutos, levanta a questão de por que não foi lançada como um filme único. Contudo, essa fragmentação permite uma distribuição de ritmo que, em certos momentos, funciona para digerir a densidade do horror e da ação.

A direção de Bryan Andrews, já familiarizada com o estilo de animação e o tom multifacetado de “What If…?”, aqui se aprofunda na estética sombria. A animação, que mantém o estilo cel-shaded com cenários 2D, agora emprega uma paleta de cores mais escura e uma iluminação mais dramática, acentuando a atmosfera de desolação e perigo. O gore, justificado pela classificação TV-MA, é apresentado de forma explícita, mas com um traço que, apesar de violento, não se desliga totalmente do estilo visual da Marvel. Isso cria um contraste interessante, onde a familiaridade dos personagens se choca com a brutalidade de suas mortes e transformações, um elemento chave para o impacto da série. A violência é um motor narrativo, não apenas um adorno, ilustrando o desespero e a barbárie de um mundo onde até os mais poderosos caem.

O roteiro de Zeb Wells, em colaboração com Andrews, se esforça para equilibrar a ação incessante com momentos de ressonância emocional, buscando no cerne da tragédia zumbi a reflexão sobre a humanidade e a esperança em um cenário apocalíptico. A escolha de Kamala Khan como uma figura central nesse novo grupo de sobreviventes é particularmente perspicaz. Sua juventude e otimismo inerentes servem como um contraponto crucial à desesperança generalizada, explorando o quão longe a fé no bem pode perdurar quando tudo ao redor desmorona. A série também acerta ao introduzir novas dinâmicas, como a de Blade Knight, uma fusão entre Blade e o Cavaleiro da Lua, que adiciona um sabor fresco à mistura de personagens. O elenco de vozes, repleto de talentos do MCU original como Iman Vellani, Elizabeth Olsen, Paul Rudd e Florence Pugh, injeta autenticidade e profundidade aos personagens, mesmo em suas versões mais grotescas ou vulneráveis. A interpretação de Elizabeth Olsen como a Rainha Vermelha (Wanda Maximoff zumbificada) é um destaque, oferecendo uma ameaça formidável e tragicamente poderosa.

Contudo, a estrutura condensada da “temporada 1” pode ser uma faca de dois gumes. Embora a ação seja constante e empolgante, a profundidade de alguns arcos de personagem e o desenvolvimento de certos aspectos do novo mundo zumbi são sacrificados em prol do ritmo frenético. A série, por vezes, se apoia na premissa da história em quadrinhos e no episódio de “What If…?” para preencher lacunas, assumindo um conhecimento prévio do espectador que nem sempre se concretiza. Alguns críticos apontam que o impacto emocional poderia ser maior se houvesse mais tempo para o público se apegar a certos personagens antes de suas inevitáveis e brutais mortes.

Em sua essência, “Marvel Zumbis Temporada 1” é um espetáculo de horror e ação que entrega o que promete: uma visão implacável e sangrenta do universo Marvel corrompido. É um deleite para os fãs que esperavam uma abordagem mais madura e visceral do conceito, e um experimento bem-sucedido para a Marvel Studios Animation. Apesar de algumas limitações no desenvolvimento narrativo devido à sua brevidade, a série se destaca pela coragem de abraçar plenamente o gênero de horror, a direção competente e um elenco de vozes que mantém a essência dos heróis, mesmo quando estão irreconhecíveis. É uma jornada sombria, mas cativante, que deixa um apetite voraz por mais histórias nesse canto profano do multiverso.

Marvel Zumbis Temporada 1 (Marvel Zombies – Estados Unidos, 2025)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Zeb Wells
Elenco: Iman Vellani, Dominique Thorne, Hailee Steinfeld, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Florence Pugh, David Harbour, Simu Liu, Awkwafina, Randall Park, Wyatt Russell, Hudson Thames, Todd Williams.
Duração: 125 min.
Nota: ⭐⭐⭐⭐