“O Menino que Descobriu o Vento” (título original: “The Boy Who Harnessed the Wind”) é mais do que um filme; é uma janela para a resiliência do espírito humano e a inegável força da inventividade diante das adversidades mais cruéis. Dirigido pelo aclamado ator Chiwetel Ejiofor, em sua estreia na direção, o longa-metragem de 2019 transporta o espectador para o Malauí, no início dos anos 2000, e nos apresenta à história real de William Kamkwamba, um jovem que, munido de curiosidade e determinação, transformou a realidade de sua aldeia. Ejiofor, conhecido por suas atuações marcantes, como em “12 Anos de Escravidão”, demonstra aqui uma sensibilidade notável para adaptar a memória de Kamkwamba e Bryan Mealer, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo íntima e universal.
A trama se desenrola em um cenário de beleza árida e desafios brutais. William Kamkwamba, interpretado com uma mistura cativante de inteligência e vulnerabilidade por Maxwell Simba, é um garoto de 13 anos com um amor inato pela mecânica e pela ciência. Sua paixão é abruptamente interrompida quando a seca atinge sua aldeia em Wimbe, resultando na perda das colheitas e na impossibilidade de sua família arcar com as taxas escolares. A crise de fome se instala, forçando a comunidade a lidar com a escassez de alimentos e a desesperança. É neste ponto que o filme eleva sua aposta, mostrando que a privação pode ser o catalisador para a inovação. William, impedido de frequentar a escola formalmente, continua seus estudos de forma clandestina na biblioteca local, onde descobre livros de física e engenharia que acendem uma nova chama de esperança.
O roteiro, também assinado por Ejiofor, consegue equilibrar a urgência da crise humanitária com a jornada pessoal de descoberta de William. Não se trata apenas de uma história sobre a construção de um moinho de vento; é uma exploração das complexas relações familiares, da dinâmica de uma comunidade à beira do colapso e da luta entre o pragmatismo da sobrevivência e o otimismo da inovação. O relacionamento de William com seu pai, Trywell Kamkwamba, vivido por Chiwetel Ejiofor com uma profundidade impressionante, é o cerne emocional do filme. A resistência inicial do pai, enraizada na tradição e no medo de perder o pouco que lhes resta, contrasta com a visão futurista do filho. Esse conflito geracional e cultural é tratado com nuances, revelando a complexidade da tomada de decisões em tempos de extrema necessidade.
A direção de Ejiofor é competente e envolvente. Ele utiliza a cinematografia de Dick Pope para pintar paisagens que são belas e desoladoras ao mesmo tempo, destacando a textura do solo seco e os rostos marcados pela luta diária. A trilha sonora, composta por Antonio Pinto, complementa a narrativa, pontuando os momentos de tensão e esperança sem nunca se tornar excessiva. As atuações, de forma geral, são convincentes, com Maxwell Simba entregando uma performance central que carrega o filme com autenticidade. Aïssa Maïga, como Agnes Kamkwamba, a mãe de William, oferece um retrato poderoso de força e determinação materna.
Os temas abordados são ricos e multifacetados. O filme celebra a educação como um farol de oportunidade, mesmo quando o acesso a ela é negado. Ele ressalta a importância da ciência e da engenharia como ferramentas para resolver problemas reais e impactar diretamente a vida das pessoas. Além disso, “O Menino que Descobriu o Vento” é um testemunho da perseverança, da crença em si mesmo e da capacidade de um indivíduo de inspirar e mobilizar uma comunidade inteira. É uma narrativa que inspira e educa, mostrando que, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, a inteligência e a vontade podem gerar mudanças significativas. Para aqueles que desejam assistir a esta emocionante jornada, o filme está disponível em plataformas como Netflix e Prime Video.
Em suma, “O Menino que Descobriu o Vento” é um drama biográfico que transcende a simples reconstituição de fatos. É uma ode à criatividade humana e à capacidade de encontrar soluções inovadoras onde muitos veem apenas desespero. Chiwetel Ejiofor entrega um trabalho de direção maduro e sensível, resultando em um filme que emociona, informa e, acima de tudo, inspira. É uma história de triunfo que ressoa com a mensagem de que a esperança, impulsionada pelo conhecimento, pode de fato mover montanhas – ou, neste caso, gerar eletricidade e água para uma aldeia necessitada. O filme se destaca como um lembrete pungente do potencial ilimitado do espírito humano.
O Menino que Descobriu o Vento (The Boy Who Harnessed the Wind – Reino Unido, 2019)
Direção: Chiwetel Ejiofor
Roteiro: Chiwetel Ejiofor, William Kamkwamba, Bryan Mealer
Elenco: Maxwell Simba, Chiwetel Ejiofor, Aïssa Maïga
Duração: 113 min.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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