Com a consolidação da persona de James Bond em Goldfinger, coube ao diretor Terence Young — responsável pelos dois primeiros filmes da franquia — e aos roteiristas Richard Maibaum, veterano da série, e John Hopkins elevar ainda mais o nível da saga. O resultado foi 007 Contra a Chantagem Atômica (Thunderball), que traz o agente secreto enfrentando novamente a organização criminosa S.P.E.C.T.R.E. em um plano de extorsão global envolvendo armas nucleares.
O grande diferencial deste filme em relação aos anteriores está em sua ambição. Assim como os planos da vilã S.P.E.C.T.R.E., os produtores buscaram criar algo mais grandioso. Diferentemente das produções atuais, nas quais o espetáculo muitas vezes sobrepõe a narrativa, Thunderball consegue ser uma continuação à altura de Goldfinger, mesmo sem superar os dois filmes que o precederam em qualidade.
A trama começa com uma sequência quase cômica, na qual James Bond (Sean Connery) enfrenta um criminoso disfarçado de mulher, portando uma exagerada — e, no fim das contas, dispensável — mochila a jato. Depois disso, durante exames obrigatórios no MI-6, Bond se depara com um mistério que o leva a investigar o sequestro de um jato militar da OTAN, cujas ogivas nucleares foram roubadas para a chantagem atômica mencionada no título. A partir daí, 007 parte para as Bahamas em busca de Emilio Largo (Adolfo Celi), o segundo em comando da S.P.E.C.T.R.E.
O filme se destaca pela ousadia das cenas subaquáticas, que começam com o roubo dos mísseis e culminam em uma impressionante batalha naval entre os soldados americanos, Bond e os capangas de Largo, nas proximidades de Miami. É importante lembrar que estamos falando de um filme de 1965, produzido muito antes da era dos efeitos digitais. Todas as sequências debaixo d’água foram filmadas nas locações reais, e não em estúdio, contando com dezenas de extras. A qualidade técnica dessas cenas é impressionante: elas não apenas avançam a história, como também são organizadas de maneira clara, evitando confusão para o público. Por exemplo, a cena inicial, com poucos mergulhadores e um avião submerso, foi rodada a 15 metros de profundidade em águas habitadas por tubarões. Já a batalha final foi feita em águas mais rasas no Pier de Clifton, nas Bahamas, para minimizar o risco dos predadores marinhos, com a participação do fotógrafo submarino Ricou Browning — famoso por interpretar a criatura em Lagoa Negra (1954). Outro ponto notável é o comprometimento de Sean Connery, que realizou cenas perigosas, como a sequência na piscina de tubarões, onde ficou separado dos animais apenas por uma placa móvel de acrílico e precisou ser removido rapidamente para evitar ataques.
Porém, o excesso de cenas subaquáticas acaba tornando a narrativa um tanto repetitiva, já que Bond encontra uma justificativa para mergulhar a cada dez minutos. Embora essas sequências estejam bem encaixadas na história, o diretor Terence Young parece ter preferido manter todas elas intactas para exibir a técnica, o que faz com que muitas delas sejam longas, especialmente a batalha final, que se estende por cerca de vinte minutos, seguida ainda por uma fuga de iate. Apesar de visualmente impressionantes, essas cenas não possuem o dinamismo necessário para manter um ritmo mais ágil ao filme.
Quanto aos personagens, a tradição dos vilões extravagantes continua. Largo, com seu tapa-olho, é ao mesmo tempo memorável e superficial. Ele é exagerado nas ações, mas não tão inteligente quanto Goldfinger. Já Bond recebe um roteiro que destaca seu lado mais chauvinista, típico da época. É até curioso vê-lo evitar as investidas da enfermeira da clínica e soltar comentários machistas sobre outras mulheres, culminando em uma cena de sexo subaquático com a Bond Girl Domino (Claudine Auger), mostrada apenas pelas bolhas. Embora retrate o contexto dos anos 1960, esse aspecto pode causar certo desconforto nos espectadores contemporâneos.
Apesar dos exageros, Thunderball é um representante sólido da saga do agente mais mulherengo do cinema. Além disso, o filme marca uma espécie de virada na narrativa de James Bond, pois a partir daqui, cada produção buscaria ser maior e mais explosiva que a anterior.
007 Contra a Chantagem Atômica (Thunderball, Reino Unido, 1965)
Direção: Terence Young
Roteiro: Richard Maibaum, John Hopkins
Elenco: Sean Connery, Claudine Auger, Adolfo Celi, Luciana Paluzzi, Rik Van Nutter, Guy Doleman, Molly Peters, Martine Beswick, Bernard Lee, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Roland Culver, Earl Cameron, Paul Stassino, Rose Alba, Philip Locke
Duração: 130 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Quais são os principais destaques técnicos e de produção do filme “007 Contra a Chantagem Atômica” (Thunderball)?
O filme é especialmente conhecido por suas ousadas cenas subaquáticas, filmadas em locações reais e não em estúdio, com dezenas de extras e sem o uso de efeitos digitais, algo revolucionário para a época (1965). Destacam-se a sequência inicial a 15 metros de profundidade em águas com tubarões e a longa batalha naval filmada nas Bahamas, que contou com a participação do fotógrafo submarino Ricou Browning.
2. Como é retratada a personalidade de James Bond e o perfil dos vilões em “Thunderball”?
James Bond é retratado com um lado mais chauvinista, típico dos anos 1960, com comentários machistas e comportamento mulherengo, o que pode causar desconforto ao público contemporâneo. Já o vilão Emilio Largo mantém a tradição dos antagonistas extravagantes da franquia, sendo memorável por seu tapa-olho, porém menos inteligente e mais exagerado em suas ações do que vilões anteriores como Goldfinger.
3. Qual a importância de “007 Contra a Chantagem Atômica” para a evolução da franquia James Bond?
Thunderball representa uma virada na saga, pois estabeleceu um padrão de produções cada vez maiores e mais explosivas, elevando o nível em comparação aos filmes anteriores. Embora não supere Goldfinger em qualidade, o filme mantém a ambição e grandiosidade da franquia, consolidando o estilo e o sucesso da série.
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