Após um início pouco inspirado em “007 Viva e Deixe Morrer”, Roger Moore finalmente encontra o tom ideal em “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”. Grande parte do mérito vai para o roteiro enxuto, assinado por Richard Maibaum — um veterano da franquia, com seis roteiros no currículo — e Tom Mankiewicz, que também conhecia bem o universo de James Bond, tendo escrito duas histórias anteriores. Outro ponto alto do filme é o vilão, Scaramanga, interpretado pelo icônico Christopher Lee, conhecido por seu papel como Saruman em “O Senhor dos Anéis”.
Apesar dos cenários exóticos — passando por Hong Kong, Macau e Tailândia — o destaque do filme é seu tom mais intimista e contido. Longe das tramas grandiosas e mirabolantes, o roteiro aposta em uma narrativa investigativa sólida, ainda que o clímax acabe por decepcionar um pouco.
Na trama, James Bond (Moore) é convocado por M (Bernard Lee) após o MI-6 receber uma bala dourada com o codinome 007 gravado nela. A suspeita é que Scaramanga — um assassino famoso, quase lendário, que utiliza uma pistola de ouro e cobra um milhão de dólares por serviço — tenha como alvo o espião britânico. M oferece a Bond a opção de pedir demissão ou tirar férias, já que um agente caçado perde sua utilidade. Como era de se esperar, Bond escolhe enfrentar Scaramanga de frente. Paralelamente, há também a questão da recuperação de um dispositivo de energia solar chamado Solex, que acaba ficando quase secundário na narrativa.
A investigação de Bond se desenrola de forma orgânica: ele começa pela bala, passa por Moneypenny (Lois Maxwell), viaja a Beirute para recuperar uma bala de ouro do umbigo de uma dançarina, segue para Macau para conversar com um fabricante de armas e, finalmente, conhece Andrea Anders (interpretada pela bela Maud Adams, que retornaria em “Octopussy”) antes de chegar à ilha secreta de Scaramanga.
Uma das poucas extravagâncias do filme é a base secreta britânica localizada dentro do navio Queen Elizabeth, afundado na baía de Hong Kong. A estrutura inclinada permite um uso criativo dos cenários, que apesar de inicialmente parecerem estranhos, são tecnicamente impressionantes. Além disso, esse ambiente estabelece um paralelo interessante com o “parque de diversões” de Scaramanga, que abre e encerra o longa.
Sem espaço para muitas brincadeiras, Moore entrega um Bond mais sério e focado, lembrando em alguns momentos Sean Connery. Seu lado mais humorístico aparece, porém de forma sutil, sem descaracterizar o personagem.
Na direção, Guy Hamilton, em seu quarto e último filme da franquia, retorna ao bom momento que havia mostrado em “Goldfinger”. É curioso notar que os dois melhores trabalhos de Hamilton na série têm o ouro como elemento central, e os vilões de ambos usam armas desse metal — em “Goldfinger”, inclusive, o revólver é dourado. A direção é econômica, com enquadramentos bem pensados e uma edição ágil que evita cenas excessivamente longas. Nem tudo é perfeito: a sequência de perseguição envolvendo barco e carro conta até com a volta do incômodo xerife J.W. Pepper (Clifton James), personagem que já havia aparecido em “007 Viva e Deixe Morrer”, e alguns efeitos sonoros destoam, lembrando produções mais toscas. O confronto final entre Bond e Scaramanga também deixa a desejar: apesar de serem considerados os melhores assassinos do mundo, o duelo ocorre em um cenário que lembra uma atração da Disney e termina rápido demais, sem transmitir um real senso de perigo. Talvez Maibaum pudesse ter investido em um desfecho mais impactante, até mesmo recorrendo a elementos já usados em filmes anteriores, como as eletrizantes lutas finais de “007 Contra Goldfinger” ou “007 Contra a Chantagem Atômica”. Ainda assim, há certa elegância na simplicidade do desfecho.
A trilha sonora, composta por Monty Norman — criador do tema clássico de Bond — e arranjada novamente por John Barry, acompanha o filme com precisão, embora sem trazer novidades, sendo uma das composições menos marcantes de Barry na série. A música de abertura, que leva o mesmo título do filme, causou polêmica na época por seu conteúdo sexual sugestivo. Letras como “ele tem uma arma poderosa”, “amor é sempre necessário quando ele está contratado” e o provocativo “seu olhar pode estar sobre você ou sobre mim, em quem ele vai atirar” (uma brincadeira com a palavra “bang”, que em inglês também significa “transar”) geraram indignação.
No fim das contas, “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” é um entretenimento sólido que merece seu lugar entre os melhores filmes da saga de James Bond.
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**007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (The Man With the Golden Gun, Inglaterra, 1974)**
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Richard Maibaum, Tom Mankiewicz
Elenco: Roger Moore, Christopher Lee, Britt Ekland, Maud Adams, Hervé Villechaize, Clifton James, Richard Loo, Soo-Tek Oh, Marc Lawrence, Bernard Lee, Lois Maxwell, Marne Maitland, Desmond Llewelyn, James Cossins, Yao Lin Chen, Carmen Du Sautoy, Gerald James
Duração: 125 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Quem são os roteiristas responsáveis pelo roteiro de “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” e qual a importância deles para a franquia James Bond?
R: O roteiro foi escrito por Richard Maibaum e Tom Mankiewicz. Maibaum é um veterano da franquia, com seis roteiros no currículo, enquanto Mankiewicz já havia escrito duas histórias anteriores de James Bond, garantindo assim um roteiro enxuto e fiel ao universo do espião britânico.
2. Quais são os principais cenários do filme e como eles contribuem para a narrativa?
R: O filme passa por locais exóticos como Hong Kong, Macau e Tailândia. Além disso, destaca-se uma base secreta britânica localizada dentro do navio Queen Elizabeth afundado na baía de Hong Kong. Esses cenários oferecem um uso criativo e tecnicamente impressionante dos espaços, reforçando o tom intimista e investigativo da trama.
3. Como é retratado o vilão Scaramanga e qual ator o interpreta em “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”?
R: Scaramanga é um assassino lendário que utiliza uma pistola de ouro e cobra um milhão de dólares por serviço. Ele é interpretado por Christopher Lee, ator icônico conhecido também por seu papel como Saruman em “O Senhor dos Anéis”. O personagem é central para o filme e contribui para um dos pontos altos da produção.
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