Em 1962, nove anos após a criação do icônico personagem James Bond por Ian Fleming, foi lançado o primeiro filme da franquia que se tornaria a mais duradoura do cinema. Este lançamento aconteceu quatro anos depois da publicação do sétimo livro da série, “Dr. No”, e dois anos antes da morte do autor, causada por complicações de um ataque cardíaco. Desde então, a saga já conta com 22 filmes oficiais, além de dois não-canônicos, e um novo título previsto para estrear em novembro deste ano. Essa franquia é a segunda mais lucrativa da indústria do entretenimento, ficando atrás apenas da série Harry Potter em faturamento total (desconsiderando merchandising e sem comparar individualmente os filmes).
“Dr. No” marca um início modesto, porém firme, para as aventuras do agente secreto britânico. Ao contrário das produções posteriores, aqui não encontramos os gadgets tecnológicos impressionantes ou cenas de ação intensas que são marcas registradas da série. A trama é simples e direta: Bond precisa impedir um plano de dominação mundial. Ainda assim, elementos clássicos como as Bond Girls, o charme inconfundível do espião e sua postura imperturbável estão presentes, inclusive com seu famoso martíni “shaken, not stirred”.
Curiosamente, “007 Contra o Satânico Dr. No” (título que, admitamos, soa exagerado e até divertido em português) não é uma história de origem. Bond já é um agente experiente, e há referências a missões anteriores, embora nunca mostradas ou aprofundadas. O personagem, interpretado por Sean Connery aos 32 anos, aparece pela primeira vez numa partida de bacará (na variante Chemin de Fer), onde exibe toda sua confiança e habilidade, ao mesmo tempo em que é cortejado pela primeira Bond Girl, Sylvia Trench (Eunice Gayson). A direção de Terence Young consegue, em poucos minutos, transmitir a essência do personagem: frio, seguro, inteligente e sedutor.
Sean Connery, embora não tenha sido a primeira escolha de Ian Fleming ou do produtor Albert R. Broccoli, foi fundamental para consolidar Bond como um ícone. Sua interpretação, ainda que mais contida em “Dr. No”, permanece como a mais emblemática da franquia.
Quanto à história, Bond é enviado à Jamaica para investigar o desaparecimento do agente John Strangways (Tim Moxon) e sua secretária, ambos do MI6. Com o apoio do agente da CIA Felix Leiter (Jack Lord), ele começa a desconfiar de atividades suspeitas em uma ilha pertencente a um recluso chinês chamado Dr. No.
A primeira metade do filme, realizada com um orçamento bastante limitado, foca na investigação de Bond. A simplicidade da trama torna evidente, logo nos primeiros 15 minutos, o caminho que o espião deve seguir. Somente na segunda metade ele parte para Crab Key, onde a ação acontece, ainda que de forma mais lenta.
O ritmo do roteiro, escrito por três autores, é um ponto que não funciona tão bem. A história não possui substância suficiente para preencher os 110 minutos de duração, resultando em cenas que não impulsionam o enredo de maneira eficaz. O senso de urgência presente no início se dilui com as repetidas tentativas de assassinato contra Bond, a ponto do próprio roteiro ironizar essa situação em determinado momento.
Além disso, tanto o vilão Dr. No (interpretado por Joseph Wiseman, um ator ocidental representando um personagem oriental, prática comum na época) quanto a marcante Honey Ryder (Ursula Andress) aparecem somente nos últimos 40 minutos, o que limita o desenvolvimento desses personagens. É verdade que, em geral, os antagonistas e as mulheres na franquia tendem a ser superficiais, mas aqui essa característica é ainda mais acentuada.
No balanço geral, “007 Contra o Satânico Dr. No” é uma introdução eficaz ao universo criado por Ian Fleming e oferece um entretenimento agradável. Após o sucesso deste primeiro filme, a série evoluiu rapidamente, produzindo títulos de qualidade que serão analisados aqui no Plano Crítico nos próximos meses.
Ficha técnica do filme:
– Título original: Dr. No
– País: Inglaterra
– Ano: 1962
– Direção: Terence Young
– Roteiro: Richard Maibaum, Johanna Harwood e Berkely Mather
– Elenco principal: Sean Connery, Ursula Andress, Joseph Wiseman, Jack Lord, Bernard Lee, entre outros
– Duração: 110 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a importância do filme “007 Contra o Satânico Dr. No” dentro da franquia James Bond?
O filme “007 Contra o Satânico Dr. No”, lançado em 1962, foi o primeiro longa-metragem da franquia James Bond. Ele marcou o início das aventuras cinematográficas do agente secreto britânico, consolidando elementos clássicos da série, como as Bond Girls e o charme do espião. Apesar de um orçamento limitado e ritmo mais lento, o filme estabeleceu a base para o sucesso e evolução da franquia.
2. Como é a caracterização de James Bond no filme “Dr. No” e quem interpretou o personagem?
James Bond é apresentado como um agente experiente, frio, seguro, inteligente e sedutor. No filme, ele aparece pela primeira vez jogando bacará e exibindo sua habilidade e confiança. Sean Connery, com 32 anos na época, foi o ator que interpretou Bond pela primeira vez no cinema, sendo fundamental para consolidar o personagem como um ícone.
3. Quais são as principais críticas feitas ao roteiro e desenvolvimento dos personagens em “007 Contra o Satânico Dr. No”?
O roteiro, escrito por três autores, é criticado por não ter substância suficiente para preencher os 110 minutos do filme, resultando em cenas que não impulsionam o enredo eficazmente. O senso de urgência inicial se dilui com repetidas tentativas de assassinato a Bond. Além disso, personagens como o vilão Dr. No e a Bond Girl Honey Ryder aparecem apenas nos últimos 40 minutos, limitando seu desenvolvimento, e tanto antagonistas quanto as mulheres são retratados de forma superficial.
- Nenhum índice disponível.