Dinheiro pode não comprar felicidade, mas certamente foi o que trouxe Sean Connery de volta à franquia 007, mesmo após ele ter prometido não retornar. Isso porque, após George Lazenby declarar que não voltaria à série depois de seu único filme e os produtores não conseguirem encontrar um substituto à altura, Connery tornou-se a única opção restante. O ator não hesitou e pediu nada menos que 1,25 milhão de libras esterlinas – algo equivalente a cerca de 20 milhões de libras hoje, ou mais de 32 milhões de dólares –, além da garantia de dois filmes de sua escolha. Um valor astronômico, até para os padrões atuais, mas que a United Artists aceitou.
Assim, Connery retorna pela última vez como James Bond na série oficial (ele ainda faria um retorno posterior para a refilmagem de 007 Contra a Chantagem Atômica) e protagoniza 007 – Os Diamantes São Eternos. Infelizmente, esse filme não encerra sua trajetória como espião de forma memorável. Para o roteiro, o experiente Richard Maibaum retorna, agora ao lado de Tom Mankiewicz, que voltaria a escrever para a franquia mais duas vezes. Contudo, o resultado desse trabalho fica muito aquém do que Maibaum costumava entregar.
O primeiro problema está exatamente em Sean Connery. Aos 41 anos, ele retorna ao papel já aparentando estar envelhecido, fora de forma e visivelmente desanimado, mesmo com o alto pagamento recebido. Como o ator sempre foi a peça-chave do sucesso da série, vê-lo assim no seu filme de despedida acaba criando uma certa antipatia em relação ao longa. Dá a impressão de que ele está ali forçado a trabalhar.
Além disso, a principal locação do filme, Las Vegas, não ajuda. Em 1971, a cidade ainda não era esse paraíso turístico para adultos que conhecemos hoje; embora os cassinos dominassem a paisagem, o ambiente ainda carregava uma atmosfera deserta e sem graça, algo que fica evidente nas cenas. Essa falta do exotismo presente em locações anteriores, como a Turquia em Moscou Contra 007 ou a Jamaica em 007 Contra o Satânico Dr. No, acaba decepcionando, especialmente porque a maior parte das cenas de ação se passa em Las Vegas.
Outro ponto negativo é o roteiro. A cena que antecede os créditos mostra Bond perseguindo Blofeld, responsável pela morte de sua esposa no filme anterior. Após interrogar diversos capangas, ele finalmente encontra Blofeld, interpretado por Charles Gray, que assume o papel depois das versões de Donald Pleasance e Telly Savalas, mas dessa vez com um visual alterado e vários “clones” criados por cirurgias plásticas. Bond mata um dos clones em uma banheira de lama e, depois, afoga Blofeld em lama fervente, em uma sequência mal planejada, mal executada e sem nenhum impacto dramático.
Após a abertura, com Shirley Bassey cantando novamente a música-tema — ela que já havia interpretado o tema de Goldfinger — somos apresentados a Mr. Kidd (Putter Smith) e Mr. Wint (Bruce Glover), que assassinham contrabandistas de diamantes sistematicamente. Voltarei a comentar sobre esses personagens em breve. Bond é então incumbido de investigar o caso, já que suspeita-se que, assim como no esquema de manipulação do preço do ouro em Goldfinger, alguém esteja fazendo o mesmo com o mercado das pedras preciosas.
No entanto, a partir daí o filme se distancia bastante da trama bem estruturada e do ritmo que fizeram Goldfinger um clássico. Bond é colocado em situações que beiram o absurdo, como tentativas de assassinato dentro de um caixão, em tubulações subterrâneas, e culmina em uma das perseguições mais ridículas já vistas: Bond pilotando um jipe lunar que parece mais um robô da série Perdidos no Espaço, enquanto é perseguido por adultos em motos que parecem brinquedos para Oompa-Loompas. Outro ponto negativo é a quantidade exagerada de idas e vindas na narrativa, que apenas tenta aumentar artificialmente a complexidade de uma história simples.
Nem a Bond Girl principal consegue salvar o filme. Jill St. John interpreta Tiffany Case, uma contrabandista de diamantes com beleza mediana e um Q.I. duvidoso, já que se envolve em várias confusões de forma quase desacreditada, como se não entendesse o que acontece ao seu redor.
O clima de ameaça é praticamente inexistente. A dupla Mr. Kidd e Mr. Wint poderia facilmente ganhar o título de assassinos mais ridículos do cinema. Para piorar, eles competem com outra dupla igualmente caricata: as lutadoras de biquíni chamadas Bambi (Lola Larson) e Tambor (Trina Parks). As cenas envolvendo esses personagens são tão constrangedoras que tiram qualquer senso de urgência ou credibilidade do filme.
Infelizmente, o clima campy de 007 – Os Diamantes São Eternos continuaria a marcar a série durante a longa, e para muitos, excessiva passagem de Roger Moore pelo papel de Bond, contribuindo para um declínio na qualidade da franquia.
**007 – Os Diamantes São Eternos (Diamonds Are Forever, Reino Unido, 1971)**
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Richard Maibaum, Tom Mankiewicz
Elenco: Sean Connery, Jill St. John, Charles Gray, Lana Wood, Jimmy Dean, Bruce Cabot, Putter Smith, Bruce Glover, entre outros
Duração: 120 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Por que Sean Connery voltou a interpretar James Bond em “007 – Os Diamantes São Eternos” mesmo após ter prometido não retornar à franquia?
Sean Connery retornou ao papel devido à dificuldade dos produtores em encontrar um substituto à altura após a saída de George Lazenby. Ele aceitou voltar mediante um pagamento muito alto e a garantia de participar de dois filmes de sua escolha.
2. Quais foram as principais críticas feitas ao filme “007 – Os Diamantes São Eternos”?
O filme foi criticado pelo desempenho desanimado de Sean Connery, roteiro fraco com cenas absurdas, ambientação pouco atraente em Las Vegas, personagens caricatos como Mr. Kidd e Mr. Wint, além de uma Bond Girl com pouca profundidade e um clima geral de falta de ameaça e credibilidade.
3. Como “007 – Os Diamantes São Eternos” influenciou a franquia James Bond nos filmes seguintes?
O tom campy e a qualidade questionável do filme acabaram marcando a série durante a passagem de Roger Moore como Bond, contribuindo para um declínio na qualidade e no estilo dos filmes seguintes da franquia.
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