Uma fábula contemporânea que inspira e eleva o ânimo — essa seria uma descrição apropriada para “A Garota das Nove Perucas”, um filme germano-belga dirigido por Marc Rothemund (conhecido por “Uma Mulher Contra Hitler”) e protagonizado pela talentosa Lisa Tomaschewsky no papel principal.
A narrativa, conduzida de maneira leve e com um humor sutil, acompanha Sophie Ritter (interpretada por Tomaschewsky) e a reação de sua família e amigos ao descobrirem que ela possui uma forma rara de câncer no pulmão. Sem muitas opções, Sophie é internada e inicia um tratamento rigoroso de quimioterapia.
Diante de um histórico familiar de câncer, o choque inicial é profundo. Sophie acabou de ingressar na faculdade, um marco de independência e esperança para o futuro — ou ao menos era o que ela e seus entes queridos acreditavam. Após celebrar o Ano-Novo com sua melhor amiga, Annabel (Karoline Teska), seu ânimo estava elevado, até que recebe a notícia devastadora, direta e sem rodeios, do médico. É um golpe duro, especialmente por se tratar de uma história real.
No entanto, o tom levemente humorístico da obra, sem ser cômico propriamente dito, ajuda a equilibrar a intensidade da situação, tornando o processo mais suportável para o espectador. Embora algumas cenas mostrem de forma explícita a inserção e retirada das agulhas, o diretor opta por não esconder esses momentos, reforçando o realismo da trama. Isso funciona como um lembrete de que, apesar de parecer, o filme não é um conto de fadas.
Quando Sophie começa a perder os cabelos, ela decide raspar tudo e passa a usar diferentes perucas. É nesse ponto que o filme se distancia do que a sinopse oficial sugere. Esta menciona que Sophie assume várias personalidades distintas, cada uma associada a uma peruca, mas essa simplificação não condiz exatamente com o que é apresentado. Embora Sophie adote nomes e atitudes diferentes conforme suas perucas, ela mantém plena consciência de que essa é uma estratégia para escapar da dor e das dificuldades do tratamento. O diretor Marc Rothemund não dramatiza essas personalidades como entidades separadas, mas sim destaca a forma como Sophie encara a vida diante da adversidade.
Com um futuro promissor à frente, Sophie se recusa a se deixar abater e faz o possível para desafiar seu destino. As perucas tornam-se um recurso para que ela retome a faculdade, viaje com sua amiga, aproveite a vida social e até inicie um relacionamento com seu melhor amigo. Além disso, ela se aproxima de pessoas ao seu redor, como um enfermeiro simpático, um senhor que enfrenta o mesmo tratamento e, especialmente, outra jovem que está passando pela quimioterapia há mais tempo.
A performance de Lisa Tomaschewsky é digna de elogios. Com seus olhos expressivos, ela consegue criar uma conexão imediata com o público, mesmo nos momentos mais difíceis. Sua interpretação transita com naturalidade entre uma jovem vibrante, uma paciente fragilizada e as diversas nuances das personalidades que Sophie assume. O espectador acredita em sua luta e nas mudanças de comportamento sem esforço.
Apesar do tom de fábula que permeia o filme, isso não deve ser encarado como um ponto negativo, embora possa simplificar demais a complexidade do processo. Sophie vem de uma família amorosa e com recursos, e, vivendo na Alemanha, tem acesso ao melhor tratamento disponível, seja por meio do seguro social ou financeiro. Não há, portanto, elementos que aumentem seu sofrimento além da doença em si. Esses fatores, somados às perucas coloridas, conferem uma leveza pouco comum para um tema tão delicado.
“A Garota das Nove Perucas” traz esperança para quem precisa e eleva o espírito dos que assistem, mas ao evitar aprofundar-se no drama, acaba tendo um impacto menor e transmitindo uma mensagem que pode parecer distante da realidade da maioria das pessoas. Ainda assim, nem todo filme sobre doenças graves precisa focar no lado mais sombrio da situação, não é mesmo?
Ficha Técnica:
Título: A Garota das Nove Perucas (Heute Bin Ich Blond)
País: Alemanha/Bélgica
Ano: 2013
Direção: Marc Rothemund
Roteiro: Kati Eyssen, Sophie van der Stap (história)
Elenco: Lisa Tomaschewsky, Karoline Teska, David Rott, Alice Dwyer, Peter Prager, Gerald Alexander Held, Jasmin Gerat, Daniel Zillmann, Katrin Pollitt
Duração: 115 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a trama central do filme “A Garota das Nove Perucas” e como ele aborda o tema do câncer?
O filme acompanha Sophie Ritter, uma jovem que descobre ter uma forma rara de câncer no pulmão e enfrenta o tratamento de quimioterapia. A narrativa é leve e utiliza um humor sutil para mostrar como Sophie lida com a doença, incluindo o uso de diferentes perucas para enfrentar a perda dos cabelos e manter sua vida social e emocional ativa.
2. Como o filme retrata as diferentes personalidades de Sophie e o uso das perucas durante o tratamento?
Embora Sophie adote nomes e atitudes diferentes associadas às suas perucas, o filme mostra que essas são estratégias conscientes para escapar da dor e das dificuldades do tratamento, não personalidades separadas. O diretor destaca a forma como Sophie encara a vida e a adversidade, sem dramatizar as mudanças como entidades distintas.
3. Qual é o tom geral do filme e como ele equilibra o drama da doença com elementos de esperança?
“A Garota das Nove Perucas” tem um tom de fábula contemporânea com leveza e humor sutil, que ajuda a equilibrar a intensidade da situação. Apesar de mostrar cenas realistas do tratamento, o filme evita focar no lado mais sombrio da doença, transmitindo uma mensagem de esperança e elevando o ânimo do espectador.
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