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Análise Crítica do Filme Critica As Alegres Comadres De Windsor 1982: Vale a Pena Assistir?

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Embora não seja uma das grandes comédias de Shakespeare, As Alegres Comadres de Windsor conquista facilmente o público graças à criatividade de seu humor e à relevância de seu enredo. Muitas das situações apresentadas na peça ainda são reconhecíveis em nossa sociedade, e é essa proximidade com as confusões envolvendo as senhoras do título, seus maridos e Sir John Falstaff que aproxima a trama do espectador, garantindo boas risadas — ou até um pouco de compaixão pelo desafortunado cavalheiro, alvo das brincadeiras das comadres Ford e Page.

Quem conhece as duas partes de Henrique IV percebe a notável diferença entre o Falstaff dessas obras e o Falstaff de As Alegres Comadres. Conforme apontam a maioria dos críticos, parecem dois personagens distintos, mantendo apenas a mesma aparência física e o gosto pela boemia e pela malandragem. Entretanto, suas atitudes e o ambiente em que se inserem diferem bastante, distanciando esse Falstaff do cínico amigo do príncipe Hal.

Há uma tradição antiga que cerca a criação de As Alegres Comadres, sendo a mais famosa a história de que a peça teria sido encomendada pela rainha Elizabeth I e escrita por Shakespeare em apenas 15 dias, trazendo uma nova visão sobre Falstaff. Se essa encomenda realmente existiu, ela pedia que o foco estivesse nos amores do cavalheiro, algo que Shakespeare aborda, mas sob uma perspectiva cômica e cheia de reviravoltas. Os interesses amorosos de Falstaff são, na verdade, duas mulheres casadas — a senhora Page e a senhora Ford — que, ao receberem cartas idênticas de cortejo dele, unem forças para pregar-lhe uma peça, criando falsas expectativas e colocando-o em situações embaraçosas.

Para compreender a cronologia, é importante lembrar que os acontecimentos da peça se passam durante o reinado de Henrique IV, embora a organização social, os medos e os comportamentos retratados reflitam muito mais o período da vida de Shakespeare. Isso talvez torne essa obra uma das mais próximas da realidade inglesa de sua época, seja em termos sociais, políticos, culturais ou mesmo na construção dramática dos personagens.

A adaptação de David Jones apresenta uma abordagem interessante, destacando a posição social das personagens e os conflitos linguísticos e culturais que as separam. Essa leitura funciona até certo ponto, mas, por outro lado, prejudica o humor central da peça, que, mesmo no original, só se consolida a partir do terceiro ato, quando a trama já está bastante avançada. Embora elementos cômicos estejam presentes desde o início, a comédia propriamente dita demora a se firmar. Considerando isso, a ambientação de Jones em uma vila próxima ao castelo de Windsor — de onde vem o título “As Alegres Comadres”— enfraquece ainda mais o impacto humorístico inicial, pois além da longa apresentação dos personagens herdada da obra original, cria-se uma atmosfera distinta.

O elenco entrega uma performance coletiva de alto nível, com destaque para Richard Griffiths como Falstaff e Ben Kingsley no papel do nervoso mestre Page. Apesar de não estar totalmente convencido de que essa interpretação quase psicótica de Page seja o que Shakespeare pretendia — já que o personagem, durante a leitura, parece mais um homem ciumento do que um louco —, Kingsley consegue imprimir um toque humorístico que torna essa característica mais aceitável.

A cena final, com a festa das fadas e outras criaturas, em que Falstaff fica apavorado com as aparições e aparece com chifres de veado na cabeça, é o ponto alto do filme. A concepção de David Jones para esse momento é impecável, criando um ritual pagão com ótima trilha sonora para o poema do bardo, resultando em um desfecho que ganha ainda mais simpatia que o já espirituoso final original. A alternância entre momentos de calma e excitação funciona muito bem para encerrar a comédia, permitindo que o espectador aproveite cada instante como uma despedida envolvente.

Mesmo com algumas falhas na estrutura inicial da comédia e uma atmosfera questionável em sua adaptação, David Jones oferece uma leitura divertida da obra de Shakespeare, contando com um elenco talentoso e fazendo uso eficiente dos poucos recursos disponíveis. Ao final, o filme provoca risadas sobre os absurdos das relações humanas, convida à reflexão e transmite uma lição que Falstaff precisou aprender da maneira difícil: nunca se deve tentar enganar uma mulher esperta.

As Alegres Comadres de Windsor (The Merry Wives of Windsor) – Reino Unido, 1982
Direção: David Jones
Roteiro: William Shakespeare
Elenco principal: Alan Bennett, Ben Kingsley, Richard O’Callaghan, Tenniel Evans, Bryan Marshall, Richard Griffiths, Gordon Gostelow, Nigel Terry, Michael Robbins, Miranda Foster, Judy Davis, Prunella Scales, Ron Cook
Duração: 170 minutos

Perguntas Frequentes:
1. Qual é a principal diferença entre o personagem Falstaff em “As Alegres Comadres de Windsor” e nas peças “Henrique IV”?

Embora mantenha a mesma aparência física e o gosto pela boemia e malandragem, o Falstaff em “As Alegres Comadres de Windsor” apresenta atitudes e um ambiente diferentes, distanciando-se do cínico amigo do príncipe Hal retratado nas peças “Henrique IV”. Os críticos apontam que parecem dois personagens distintos.

2. Como a adaptação de David Jones para “As Alegres Comadres de Windsor” se diferencia em relação ao humor e à ambientação da peça original?

A adaptação de David Jones destaca a posição social das personagens e os conflitos culturais, mas isso enfraquece o humor central da peça, que só se consolida a partir do terceiro ato. A ambientação em uma vila próxima ao castelo de Windsor cria uma atmosfera diferente, que prejudica o impacto humorístico inicial presente no original.

3. Qual é o significado da cena final com a festa das fadas na adaptação de David Jones?

A cena final apresenta um ritual pagão com ótima trilha sonora que valoriza o poema de Shakespeare, criando um desfecho espirituoso e envolvente. Essa sequência é considerada o ponto alto do filme, alternando momentos de calma e excitação, e proporcionando ao espectador uma despedida marcante da comédia.

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