Com mais de 80 anos e quase seis décadas dedicadas ao cinema, os irmãos Paolo e Vittorio Taviani retornam à direção após seu último trabalho conjunto em 2007. Reconhecidos por obras marcantes como Pai Patrão, A Noite de São Lourenço, Kaos e Bom Dia Babilônia, eles são conhecidos por criar um cinema sensível, voltado para as relações familiares e emoções profundas. Seus filmes costumam explorar conflitos internos e rupturas sociais ou emocionais, temas que despertam sentimentos como culpa, mágoa, ódio e desejo de vingança em seus personagens, elementos recorrentes em seus roteiros ao longo dos anos.
Em César Deve Morrer, os Taviani se reinventam tanto na concepção quanto na técnica. Trata-se do primeiro filme digital da dupla, o que permitiu uma abordagem mais dinâmica na movimentação das câmeras, além de ângulos variados e uma decupagem detalhada das cenas, aspectos realçados pela montagem do experiente Roberto Perpignani, que já colaborou com os diretores em outras produções.
Antes de assistir ou formar uma opinião sobre César Deve Morrer, é fundamental entender que o filme não é um documentário. Mesmo mostrando os ensaios da peça Júlio César, de William Shakespeare, a obra não busca documentar, no sentido tradicional, a libertação dos presos por meio do teatro como forma de reabilitação artística.
A ambientação ocorre dentro da prisão de segurança máxima de Rebibbia, na Itália, onde a atmosfera claustrofóbica intensifica o drama. Os atores são os próprios detentos, que conhecem de perto os temas da peça — conspiração, assassinato e conflitos por poder —, o que confere uma naturalidade impressionante à atuação. A narrativa reflete o temor presente na obra shakespeariana, sobre uma Inglaterra ameaçada pela ausência de um sucessor legítimo, espelhando a Roma Antiga e a transição do poder de César para Otávio. No entanto, os presos nunca são retratados como inocentes ou absolvidos pelos diretores. O teatro aparece simplesmente como parte do programa de reabilitação, através do qual alguns conseguem avanços, como um detento que se torna ator de teatro e cinema.
Embora enriquecido pela realidade em que foi produzido, o filme pode ser mal interpretado, visto por alguns como “um documentário que não se leva a sério” ou “uma mistura inadvertida de teatro e documentário”. Essas leituras refletem uma observação superficial e falta de compreensão dos gêneros cinematográficos, especialmente de um filme-ensaio tão singular como este. É verdade que há cenas com características documentais, mas esperar verossimilhança absoluta nos diálogos ou uma separação clara entre drama e realidade não faz sentido, pois trata-se de um drama teatral com nuances reais, justamente por ser filmado dentro de uma prisão e com presidiários no elenco.
Com uma equipe técnica digna de aplausos, César Deve Morrer representa um renascimento na carreira dos irmãos Taviani. A obra prova que a maturidade pode trazer não apenas sabedoria, mas também excelência na direção, além de demonstrar que é possível criar um filme impactante sem recorrer a exageros narrativos, efeitos técnicos extravagantes ou orçamentos exorbitantes.
César Deve Morrer (Cesare deve morire, Itália, 2012)
Direção: Paolo Taviani, Vittorio Taviani
Roteiro: Paolo Taviani, Vittorio Taviani (adaptação da obra de William Shakespeare)
Elenco: Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti, Vincenzo Gallo, Rosario Majorana, Francesco De Masi, Gennaro Solito, Vittorio Parrella
Duração: 76 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a principal característica que diferencia “César Deve Morrer” dos filmes anteriores dos irmãos Taviani?
R: “César Deve Morrer” é o primeiro filme digital dirigido pelos irmãos Taviani, o que permitiu uma abordagem mais dinâmica nas câmeras, com ângulos variados e uma decupagem detalhada das cenas, além de ser filmado dentro de uma prisão de segurança máxima com atores que são os próprios detentos.
2. O filme “César Deve Morrer” é um documentário sobre a reabilitação de presos por meio do teatro?
R: Não. Embora mostre os ensaios da peça “Júlio César” de Shakespeare e tenha cenas com características documentais, o filme não é um documentário tradicional nem busca retratar a libertação dos presos. Trata-se de um drama teatral com nuances reais, filmado dentro da prisão com detentos atores, criando uma obra singular entre drama e realidade.
3. Quais temas recorrentes aparecem nas obras dos irmãos Taviani e também em “César Deve Morrer”?
R: Os irmãos Taviani exploram frequentemente temas como conflitos internos, rupturas sociais e emocionais, sentimentos de culpa, mágoa, ódio e desejo de vingança. Em “César Deve Morrer”, esses temas aparecem refletidos na peça de Shakespeare e na vivência real dos presos, intensificados pela ambientação claustrofóbica da prisão.
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