Introdução:
O mangá Death Note, criado por Tsugumi Ohba com ilustrações de Takeshi Obata, estreou na renomada revista japonesa Shonen Jump em dezembro de 2003. Sua publicação se estendeu até maio de 2006, totalizando 108 capítulos. Devido ao enorme sucesso, a obra foi lançada em 12 volumes tankobon e gerou diversas produções derivadas, como um prelúdio, uma sequência, guias de leitura, anime, livros, jogos e filmes live action. Com a aproximação do décimo aniversário da série, decidimos analisar todo o material, dedicando uma crítica semanal a cada volume, seguindo a edição recente conhecida como Black Edition.
Mas afinal, o que é a Black Edition? Trata-se de uma versão especial do mangá, dividida em seis volumes de aproximadamente 400 páginas cada, que reúnem dois tankobon em um só, apresentando capas pretas elegantes e minimalistas. Além disso, o papel utilizado tem gramatura superior e cada volume inicia com oito páginas coloridas. Essa edição já foi lançada internacionalmente e, no Brasil, está sendo publicada pela JBC Mangás.
Com essa breve apresentação, vamos à análise do primeiro volume da Death Note: Black Edition.
Análise:
A ideia central de Death Note é extremamente envolvente e parte de uma questão intrigante: se você tivesse o poder de tirar a vida de quem quisesse, o que faria? A partir dessa reflexão filosófica, que não possui uma resposta simples, Tsugumi Ohba constrói uma narrativa rica, povoada por personagens humanos complexos e um universo sobrenatural que é revelado aos poucos, aumentando o mistério.
Para explorar essa premissa, Ohba introduz o Death Note, um caderno capaz de matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito nele, desde que o rosto da vítima esteja em mente. A morte ocorre em 40 segundos, causada por ataque cardíaco, independentemente da localização da pessoa. Essa ideia já captura a atenção, não é mesmo?
Confesso que fiquei totalmente fisgado pela trama.
A leitura de Death Note é quase compulsiva, apesar de algumas falhas que mencionarei adiante. É importante destacar que o conceito vai muito além desse resumo, mas, para não estragar o prazer da descoberta, citarei apenas um detalhe crucial: os Death Notes são originalmente ferramentas usadas pelos deuses da morte, chamados shinigamis. Um deles, Ryuk — uma criatura magra, alada e com aparência que lembra uma mistura do Lobo da DC Comics com o Apocalipse da Marvel — decide, entediado, deixar cair um Death Note no mundo dos humanos para observar o que aconteceria.
Quem encontra o caderno é Light Yagami, um estudante brilhante que, também entediado, enxerga ali a chance de transformar o mundo ao eliminar criminosos em diversos países. Após se tornar o detentor do Death Note, Light passa a enxergar e interagir com Ryuk, que mantém uma postura neutra e não pode ser visto por mais ninguém.
Convencido de que pode criar uma sociedade melhor por meio dessas ações, Light inicia uma série de assassinatos que rapidamente chamam a atenção da Interpol e de um enigmático detetive conhecido apenas como “L”. Trabalhando por meio de um assistente misterioso e comunicando-se apenas via computador, sem revelar o rosto, L monta uma equipe para capturar esse serial killer de criminosos, que logo recebe o apelido de Kira — uma adaptação japonesa da palavra inglesa “killer”. Naturalmente, L também é um gênio, e o que se desenrola é um embate de inteligência entre esses dois personagens.
Com essa base, que inclui diversas camadas e detalhes, Ohba é altamente eficaz ao construir suspense. A arte de Takeshi Obata, limpa e com excelente domínio na transição entre quadros, dá vida à complexa rede que envolve Light e L, sem confundir o leitor, e ainda aproveita muito bem a presença do demoníaco e bem-humorado Ryuk.
Um dos grandes acertos da série é o uso de Ryuk como um comentarista da trama. Como apenas Light e nós leitores podemos ouvi-lo, Ohba o utiliza para esclarecer o que está acontecendo e, numa função semelhante à do coro na tragédia grega, ele também ajuda a extrair lições e dilemas morais da narrativa. Para quem não conhece, o coro grego, tradicionalmente composto por vários membros, comentava os eventos da peça, ajudando o público a compreender a história e refletir sobre seus significados. Aqui, Ohba inverte essa lógica ao transformar o coro em uma única entidade, que ainda é parte integrante da história, o que contribui para uma ambiguidade interessante nas observações de Ryuk.
Obata complementa isso com inserções visuais perfeitas, mostrando o rosto do demônio entre os quadros, com sua boca aberta e olhos arregalados, sem falar, momentos que convidam o leitor à reflexão.
No entanto, nem tudo é perfeito.
Ohba exige uma suspensão de descrença bastante elevada logo no início, ao apresentar Light Yagami como alguém que aceita rapidamente a existência do Death Note e se lança sem hesitação numa onda assassina, motivado pela ideia de “mudar o mundo”. Esse processo ocorre em apenas cinco dias e em poucas páginas, o que torna essa transformação um tanto abrupta e difícil de aceitar. Light chega a afirmar explicitamente sua intenção de tornar-se o deus desse novo mundo idealizado.
Esse ritmo acelerado pode incomodar, pois parece conveniente demais para um adolescente. Mesmo que justificativas sejam apresentadas em volumes posteriores, essa crítica se restringe ao conteúdo do primeiro volume da Black Edition, que reúne os dois primeiros tankobon.
Outro ponto que desafia a lógica é o fato de que o Death Note exige conhecer o nome e o rosto da vítima para matar alguém. E quem é o único capaz de enfrentar Light? L, cujo nome e rosto são desconhecidos. Conveniente, não?
Apesar dessas questões que podem causar estranhamento, elas não apagam os méritos da obra. O trabalho conjunto de Ohba e Obata é envolvente, tornando difícil parar de ler mesmo diante de longos parágrafos explicativos.
E é justamente esse o aspecto mais delicado da narrativa.
Ohba constrói um universo detalhado, explorando a vida de Light, sua família, Ryuk e o mundo dos shinigamis. Contudo, ele não deixa margem para dúvidas, o que resulta em uma narrativa repleta de longos monólogos internos e exposições em balões de pensamento, que detalham cada ação de forma exagerada. Muitas vezes, essas informações poderiam ser apenas sugeridas, tornando o texto mais fluido. Além disso, cada capítulo termina com a apresentação parcial das regras do Death Note, esclarecendo ainda mais a trama.
Esse excesso de explicação pode tornar a leitura cansativa e prejudicar o ritmo da história, mesmo com o esforço de Obata para equilibrar texto e imagem. É curioso que, em uma trama sobre o duelo de dois gênios, o texto às vezes pareça simplificado demais.
Death Note: Black Edition I, apesar dessas limitações, é uma leitura que certamente não decepciona e deixa o leitor ansioso pelo próximo volume, além de proporcionar ótimas discussões morais para compartilhar com amigos.
Ficha técnica de Death Note: Black Edition I
Roteiro: Tsugumi Ohba
Arte: Takeshi Obata
Publicação original: Japão, dezembro de 2003 a maio de 2006 (Black Edition desde fevereiro de 2013)
Lançamento no Brasil: 2013
Editora: JBC Mangás
Páginas: 392
Perguntas Frequentes:
1. O que é a Death Note Black Edition e como ela difere da edição original do mangá?
A Black Edition é uma versão especial do mangá Death Note que reúne dois volumes tankobon em um só, totalizando cerca de 400 páginas por volume. Ela apresenta capas pretas elegantes e minimalistas, papel de gramatura superior e inicia cada volume com oito páginas coloridas. Essa edição oferece uma experiência de leitura diferenciada e de alta qualidade, sendo publicada no Brasil pela JBC Mangás.
2. Qual é a premissa central de Death Note e quem são os protagonistas principais da história?
Death Note gira em torno de um caderno sobrenatural capaz de matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito nele, desde que o usuário visualize o rosto da vítima. O protagonista é Light Yagami, um estudante brilhante que encontra o caderno e decide usá-lo para eliminar criminosos e criar um mundo ideal. Ele é desafiado pelo enigmático detetive conhecido como “L”, que tenta capturar Light, dando início a um duelo de inteligência entre os dois.
3. Quais são as principais críticas feitas ao primeiro volume da Death Note Black Edition?
Apesar de ser uma obra envolvente, o primeiro volume apresenta algumas falhas, como a transformação rápida e pouco convincente de Light em um assassino determinado, ocorrendo em poucos dias e páginas. Além disso, a narrativa contém muitos monólogos internos e exposições detalhadas que podem tornar a leitura cansativa e prejudicar o ritmo da história. Também há questionamentos sobre a lógica do enredo, como a dificuldade de prender Light quando seu nome e rosto são desconhecidos.
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