Para quem deseja se aprofundar nos três primeiros volumes de Death Note: Black Edition, recomendo a leitura das minhas análises anteriores, disponíveis nos seguintes links: Black Edition I, Black Edition II e Black Edition III.
A seguir, o texto traz inevitavelmente spoilers dos acontecimentos anteriores, além de alguns detalhes do Volume IV, já que uma análise completa depende de certas revelações essenciais.
Tsugumi Ohba demonstra ser um mestre na escrita de mangás. Apesar de seu estilo por vezes prolixo e excessivamente explicativo — um aspecto que já comentei em análises anteriores e ao qual já me acostumei —, não resta dúvida de que ele não teme desafiar o status quo. Para fazer uma comparação, Ohba seria o equivalente a George R.R. Martin no universo dos mangás. Portanto, se você cria apego a algum personagem, prepare-se: ele pode morrer, ter sua personalidade transformada ou passar por mudanças drásticas.
Após o emocionante desfecho do Volume III, que mostrou a equipe liderada por L e Light capturando o terceiro Kira durante uma perseguição por Tóquio, o Volume IV apresenta a conclusão do elaborado “mega plano mestre” de Light Yagami. Esse plano envolve sua própria prisão, a perda da memória sobre seu passado como Kira, colaborar com L para capturar Kira enquanto está algemado e uma série de eventos que se desenrolam ao longo de centenas de páginas. Surpreendentemente, mesmo com sua habitual verborragia, Ohba consegue manter o suspense e esconder os detalhes do plano intricadíssimo de Light, proporcionando surpresas a cada capítulo.
Quando o plano finalmente chega ao fim, Ohba opta por um extenso flashback para esclarecer todos os detalhes minuciosamente. Essa necessidade de explicar tudo de maneira didática acaba prejudicando o clímax, impedindo que ele seja apreciado em toda a sua intensidade.
No entanto, Ohba ainda guarda uma carta na manga: ele elimina L da trama. Já esperávamos que isso poderia acontecer, pois Light/Kira tinha esse objetivo, mas dificilmente acreditávamos que, após cerca de 1.200 páginas, um personagem tão crucial seria eliminado de forma tão definitiva. É uma demonstração de coragem notável por parte do autor.
Esse momento é daqueles que o leitor precisa reler várias vezes para compreender plenamente o impacto. Inicialmente, suspeitei que L estivesse fingindo sua morte, imaginando que Ohba poderia recorrer a algum tipo de ressurreição, como visto em quadrinhos da Marvel ou DC. Contudo, o autor segue fiel à lógica da narrativa e dá um passo natural para frente, sem olhar para trás.
Isso leva a uma pergunta inevitável: como criar um antagonista para Light agora?
Se você acompanhou Death Note até aqui, já deve ter aprendido a suspender a descrença. Desde o princípio, somos levados a aceitar que Light Yagami é um jovem que utiliza o caderno da morte com extrema naturalidade, almejando tornar-se um deus. Também precisamos aceitar que L é um superdetetive cujo rosto e nome permanecem desconhecidos — convenientemente, já que o dono do caderno depende dessas informações para matar. Além disso, o plano complexo de Light para desviar as suspeitas sobre si mesmo é bastante mirabolante. E esses são apenas alguns exemplos.
Seguindo essa linha, agora devemos aceitar que L era apenas um entre vários prodígios treinados em uma espécie de “fábrica” de detetives, disfarçada de orfanato na Inglaterra. Essa revelação não é totalmente surpreendente, pois Ohba já havia deixado pistas da existência de outros detetives, e a introdução de Near e Mello como seus sucessores não soa tão forçada, embora seja, sem dúvida, inusitada.
O que poucos esperavam era a rivalidade que surge entre Near e Mello, que rapidamente adotam posturas opostas. Near, que lembra bastante L, lidera a SPK, uma organização sancionada pelo presidente dos Estados Unidos para capturar Kira. Já Mello desaparece do radar e passa a chefiar um grupo mafioso, com o mesmo objetivo, mas utilizando métodos violentos e questionáveis, tudo para competir com seu antigo colega de orfanato.
No meio desse cenário, Light Yagami, o verdadeiro Kira, enfrenta situações de alta tensão, incluindo o sequestro de sua irmã e um resgate espetacular que envolve o sequestro de um avião na rota Tóquio-Los Angeles — cenas dignas de um filme de ação. Apesar do enredo parecer exagerado em sua descrição, a combinação do roteiro de Ohba com a arte e a direção de Takeshi Obata resulta em um volume repleto de ação e reviravoltas. Provavelmente, trata-se do conjunto de páginas com maior variedade de situações e ritmo dinâmico em toda a série, o que traz um refrescante ar de novidade.
Embora haja muita informação para assimilar, o ritmo acelerado faz com que Ohba escreva de forma mais enxuta, com explicações mais objetivas e sem rodeios. Dessa maneira, o Volume IV funciona como um verdadeiro “page-turner”, sendo ainda mais envolvente que os anteriores. Para coroar, o final traz um cliffhanger impactante e chocante.
Com apenas mais dois volumes restantes, a expectativa sobre o que acontecerá a seguir se torna quase insuportável. Se isso não é um sinal claro de qualidade, não sei mais o que seria.
Death Note: Black Edition IV
Roteiro: Tsugumi Ohba
Arte: Takeshi Obata
Lançamento oficial: Japão, dezembro de 2003 a maio de 2006 (Black Edition a partir de fevereiro de 2013)
Lançamento no Brasil: 2013
Editora: JBC Mangás
Páginas: 400
—
Sou alguém que cresceu imerso em personagens icônicos: aprendi a fazer caretas com Marion Cobretti, a dar cano nas pessoas inspirado em John Matrix e me apaixonei por Stephanie Zinone, mesmo com fortes concorrentes como Emmeline Lestrange e Lisa. Comecei a lutar com a inspiração de Daniel-San e a pilotar aviões acrobaticamente com Maverick. Já viajei do futuro para eliminar Sarah Connor, cuido religiosamente de Gizmo antes da meia-noite e de vez em quando preciso visitar o Bairro Proibido para livrá-lo de demônios. Já fui policial, blade runner e assassino, mas de vez em quando retorno a essas atividades, soltando um “yippe ki-yay m@th&rf%ck&r” enquanto pego a Ferrari do pai do Cameron ou o V8 Interceptor do louco Max para dar uma volta por Ridgemont High com Jessica Rabbit.
Perguntas Frequentes:
1. O que acontece com o personagem L no Volume IV de Death Note: Black Edition e qual é a importância dessa mudança na trama?
– No Volume IV, o autor Tsugumi Ohba elimina o personagem L de forma definitiva, o que é uma demonstração de coragem notável. Essa mudança é crucial porque L era um antagonista central de Light Yagami, e sua saída da história abre espaço para novos personagens, como Near e Mello, que assumem o papel de perseguidores de Kira com métodos e personalidades distintas.
2. Quem são Near e Mello e qual é o papel deles na continuação da história após a saída de L?
– Near e Mello são sucessores de L, treinados em uma espécie de “fábrica” de detetives disfarçada de orfanato na Inglaterra. Near lidera a organização SPK, que utiliza meios oficiais para capturar Kira, enquanto Mello chefiará um grupo mafioso e adota métodos violentos para competir com Near. A rivalidade entre eles cria uma dinâmica nova e complexa na perseguição a Light Yagami.
3. Como é o estilo de escrita de Tsugumi Ohba e como ele influencia o ritmo e o suspense em Death Note: Black Edition IV?
– Tsugumi Ohba é conhecido por um estilo por vezes prolixo e explicativo, mas também por sua habilidade em criar planos complexos e surpreendentes, mantendo o suspense. No Volume IV, apesar de algumas partes explicativas que impactam o clímax, o autor acelera o ritmo da narrativa e torna o enredo mais enxuto e dinâmico, resultando em um volume muito envolvente, com muitas cenas de ação e reviravoltas que prendem a atenção do leitor.
- Nenhum índice disponível.