Se você ainda não conhece Death Note ou a edição Black Edition, ou mesmo se já é familiarizado com a série e busca uma visão geral sobre minha opinião, recomendo conferir minhas análises dos volumes anteriores:
– Death Note: Black Edition I
– Death Note: Black Edition II
– Death Note: Black Edition III
– Death Note: Black Edition IV
– Death Note: Black Edition V
Aviso: a crítica a seguir contém spoilers inevitáveis dos volumes anteriores.
O último volume de Death Note inicia com todas as peças do jogo muito bem posicionadas nesse duelo estratégico entre L-Kira (Light Yagami) e os seus oponentes Near e Mello. O mundo, em sua maioria, está quase totalmente a favor das ações de Kira, enquanto aqueles que discordam vivem acuados. A resistência contra a dominação do autoproclamado “novo deus” fica por conta do SPK, formado por Near e três agentes do FBI, além de Mello, que age de modo independente. O grupo de Light já mostra sinais de desgaste, com suspeitas internas sobre a verdadeira identidade de Kira causando divisões.
Na primeira metade do volume VI, que corresponde ao 11º tankobon, Near toma a iniciativa de conquistar a confiança de Aizawa e Mogi, membros do time de Light. Com movimentos precisos, ele consegue restringir bastante as possibilidades de ação de Kira. Agora, a comunicação de Light com Teru Mikami — o chamado X-Kira que executa as mortes em seu lugar — só ocorre por meio de Kiyomi Takada, repórter da NHN escolhida por Mikami como porta-voz de Kira. Curiosamente, Takada é ex-namorada de Light, apoia integralmente as ações de Kira e é completamente dedicada a ele.
Entretanto, tanto Light quanto Near têm seus próprios planos, que permanecem ocultos nesta primeira metade do volume. Tsugumi Ohba mantém o suspense, de forma semelhante ao momento em que Light foi preso por 50 dias em um elaborado esquema de controle. Assim como naquele episódio, aqui o desenrolar depende de movimentos estratégicos e de algumas coincidências significativas — como a relação prévia entre Light e Takada, que se mostra essencial. O suspense criado pela inteligência dos dois lados funciona muito bem e prepara o terreno para o confronto final.
Esse embate, presente na segunda metade do volume (tankobon 12), acontece exatamente como eu esperava, não nos detalhes da trama, mas na atmosfera geral. A sensação lembra um spaghetti western de Sergio Leone: muita calma, planos detalhados acontecendo simultaneamente, e, de repente, um desfecho explosivo. Apesar do sucesso desse estilo em filmes, especialmente nas mãos de Leone, no formato mangá o resultado acaba sendo menos impactante.
A batalha final, ocorrendo toda dentro de um galpão abandonado, é surpreendentemente anti-climática, sendo precedida e seguida por longas explicações dos planos de ambos os lados. Enquanto os gênios refletem sobre suas estratégias — narradas por Ohba — fica claro para o leitor o que está por vir. Quando o clímax finalmente chega, não há uma ação direta, mas sim uma nova sequência de detalhamentos que evidenciam a genialidade do vencedor, quase como uma competição intelectual. Em termos de ação, o mangá oferece pouco, mas isso está alinhado com seu foco sempre maior no enfrentamento psicológico do que em confrontos físicos.
Falando em embate de mentes, desde o início Ohba caminhou na linha tênue entre o certo e o errado, o bem e o mal, sem evitar as áreas cinzentas da moralidade. Ainda assim, talvez perdendo a chance de provocar algo mais ousado, ele optou por um desfecho mais moralista, politicamente correto e, no fim das contas, bastante comedido. Poder-se-ia argumentar que, por se tratar de uma obra voltada para o público jovem, esse tipo de conclusão seria adequado. Porém, acredito que os jovens leitores estão prontos para narrativas mais complexas e desafiadoras, que vão além do clássico “o bem vence o mal”. Ohba vinha trilhando esse caminho, mas acabou tropeçando no final.
Isso, claro, não diminui a qualidade da obra como um todo. Death Note é um trabalho instigante, envolvente e, no balanço geral, bastante satisfatório. Apenas sua conclusão não atinge plenamente a profundidade proposta inicialmente.
**Death Note: Black Edition V**
Roteiro: Tsugumi Ohba
Arte: Takeshi Obata
Lançamento oficial: Japão, dezembro de 2003 – maio de 2006 (Black Edition a partir de fevereiro de 2013)
Lançamento no Brasil: 2013
Editora: JBC Mangás
Páginas: 424
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Sou alguém que aprendeu a fazer caretas com Marion Cobretti, a escapar de enrascadas como John Matrix, e me encantei por Stephanie Zinone, embora Emmeline Lestrange e Lisa tenham sido concorrentes à altura. Inspirei-me em Daniel-San para aprender a lutar, pilotei aviões de cabeça para baixo como Maverick, viajei no tempo para proteger Sarah Connor, cuidei de Gizmo com devoção, e enfrentei demônios no Bairro Proibido. Já fui policial, blade runner, assassino, mas às vezes volto a essas atividades, solto um “yippe ki-yay m@th&rf%ck&r” e pego uma Ferrari ou um V8 Interceptor para dar uma volta com Jessica Rabbit.
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Outras críticas recentes:
– Cassidy: Omnibus – Vol.2
– Rick Grimes 2000
– Reinado do Demônio
– A Morte Invisível (Júlia Kendall #28)
– Sa Wala: Tudo por Nada
– Demolidor: Quarentena (2021-2022)
– Star Wars: Legacy Of Vader #1
– Void Rivals – Vol. 3
– TVA (2024)
Perguntas Frequentes:
1. O que é a edição Black Edition de Death Note e como ela difere das edições anteriores?
A edição Black Edition de Death Note é uma versão especial que reúne volumes duplos da série original, com capa em preto e papel de melhor qualidade. Lançada no Brasil pela editora JBC a partir de 2013, essa edição oferece uma experiência de leitura mais premium e compacta em comparação às edições tankobon originais.
2. Como é o desenvolvimento do confronto final entre Light Yagami (Kira) e Near no último volume da série?
O último volume apresenta um duelo estratégico e psicológico intenso entre Light e Near. A narrativa foca em planos detalhados e movimentos calculados de ambos os lados, com pouca ação física e muito suspense. Embora o embate lembre um spaghetti western pela atmosfera, o desfecho é considerado mais anti-climático e moralista, priorizando a genialidade intelectual ao invés de um confronto explosivo.
3. Qual a opinião do autor da crítica sobre o desfecho da série Death Note?
O autor da crítica acredita que, apesar da qualidade geral e do enredo instigante da série, o final fica aquém do potencial apresentado inicialmente. O desfecho é visto como politicamente correto e comedido, sem explorar narrativas mais complexas ou moralmente desafiadoras, o que poderia ter enriquecido a obra para seu público jovem e maduro.
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