O Juiz Dredd é um ícone dos quadrinhos, criado em 1977 por John Wagner (roteiro) e Carlos Ezquerra (arte), para o segundo número da renomada revista britânica 2000 AD, que segue em publicação até hoje. Ambientado em um futuro distópico onde o planeta Terra foi devastado e restam apenas algumas cidades gigantes e superpopulosas, Dredd é um personagem americano conhecido por seu comportamento rude, violência extrema, a característica de nunca retirar seu capacete e seu modo de falar em poucas palavras.
As histórias de Dredd sempre foram marcadas por uma crítica social afiada e um humor tipicamente britânico, além de um nível de violência absurdo — e, ao mesmo tempo, divertido. Como o personagem é um policial implacável que acumula as funções de juiz, júri e executor, as tramas frequentemente terminam em cenas sangrentas.
Com a estreia da nova adaptação do personagem no cinema prevista para amanhã, decidi comentar sobre um arco de Judge Dredd originalmente publicado entre 1993 e 1994, compilado nos Estados Unidos sob o título Inferno. Na verdade, trata-se de dois arcos interligados: Purgatório e Inferno.
Na primeira parte, escrita por Mark Millar (autor de Kick-Ass, entre outros) e ilustrada por Ezquerra (reconhecido por Apenas um Peregrino), acompanhamos a espetacular e brutal fuga do ex-juiz Grice, também violento, de uma prisão situada na lua Titã, de Saturno. Curiosamente, o próprio Juiz Dredd não aparece nessa etapa, que ocupa pouco menos da metade do volume.
Grice tem como objetivo destruir Mega-City One e, em especial, deseja assassinar Dredd com requintes de crueldade. Sua fuga é marcada por uma série de mortes, tanto causadas por ele e seus seguidores quanto pelo diretor sádico Khurtz, que se deleita em torturar e realizar experimentos com os prisioneiros.
Embora o enredo seja bastante linear e sem grandes inovações, o nível de crueldade nas situações chama a atenção — como quando um prisioneiro é forçado a devorar vivo seu ratinho de estimação, alimentado inclusive com a própria carne, ou quando pessoas são jogadas em máquinas de triturar pedras. Há exageros até dentro de ações já exageradas, como um personagem que é lançado em um poço de ferro fundido fervente e reaparece apenas levemente chamuscado alguns quadros depois.
Com a chegada dos prisioneiros a Mega-City One, o arco Inferno começa e Dredd finalmente entra em cena, agindo sem a menor demonstração de piedade e eliminando o máximo de inimigos no menor tempo possível. Além da ameaça representada por Grice, uma bomba viral é detonada na cidade, infectando tanto juízes quanto grande parte da população civil.
Neste momento, o tom da história muda, trazendo quadros mais verborrágicos escritos por Grant Morrison, enquanto Ezquerra continua como desenhista. Isso resulta em textos mais elaborados, mas também em exposições longas e, por vezes, desnecessárias, que não contribuem para o ritmo da narrativa.
Apesar disso, ambos os roteiros apresentam desfechos grandiosos e satisfatórios, desde que o leitor não espere reflexões profundas ou temas mais complexos.
O destaque maior, sem dúvida, fica por conta da arte de Carlos Ezquerra. Ele é, talvez, o maior especialista em desenhar rostos marcados e expressivos no universo dos quadrinhos. Suas representações de feições ásperas, todas detalhadas e únicas, chegam a lembrar obras de Picasso após o impacto inicial.
Ezquerra também se destaca pelo uso criativo das páginas, evitando estruturas rígidas de quadros. Ele expande painéis de forma harmoniosa, apenas quando necessário, e adiciona uma riqueza de detalhes nas cenas mais complexas, sempre focando no essencial. Por exemplo, durante o confronto entre Dredd e Bundy — uma mulher musculosa que é braço direito de Grice — os detalhes concentram-se nos personagens, enquanto o fundo permanece simples.
Como um extra, o volume inclui duas histórias curtas e independentes dos arcos principais. A primeira, intitulada Eu Detesto Natal, escrita por Millar e ilustrada por Ezquerra, apresenta uma narrativa natalina que evidencia o desprezo de Dredd por essa época do ano, com um final divertido e inesperado. A segunda, chamada Top Gun, também de Millar, mas com arte de Ron Smith, mostra Dredd testando duas novas armas — uma pistola Lawgiver e uma motocicleta Lawmaster — em uma missão que, naturalmente, não sai como planejado. Aqui, Millar parece menos inspirado e não consegue atingir o tom humorístico desejado, enquanto o traço de Smith, especialmente após a comparação com Ezquerra, parece menos impactante.
Embora Inferno não seja o exemplo mais brilhante de quadrinhos do Juiz Dredd, o arco é competente e o trabalho visual de Ezquerra compensa, na maior parte do tempo, os deslizes no roteiro e na estrutura. É uma leitura divertida e recomendada para fãs e interessados no personagem.
Minha formação como fã de cultura pop é vasta: aprendi a fazer cara feia com Marion Cobretti, a escapar de enrascadas com John Matrix, e me encantei por Stephanie Zinone, mesmo com concorrentes à altura como Emmeline Lestrange e Lisa. Comecei a lutar inspirado em Daniel-San, a pilotar aviões de cabeça para baixo com Maverick, viajei pelo tempo para proteger Sarah Connor, cuidei de Gizmo antes da meia-noite e, ocasionalmente, enfrento demônios no Bairro Proibido. Já fui policial, blade-runner e assassino, mas sempre que posso, volto às antigas atividades, soltando um “yippe ki-yay, motherfucker” e pegando a Ferrari do pai do Cameron ou o V8 Interceptor do Max para uma volta com Jessica Rabbit.
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Outras críticas recentes:
– Cassidy: Omnibus – Vol.2
– Rick Grimes 2000
– Reinado do Demônio
– A Morte Invisível (Júlia Kendall #28)
– Sa Wala: Tudo por Nada
– Demolidor: Quarentena (2021-2022)
– Star Wars: Legacy Of Vader #1
– Void Rivals – Vol. 3
– TVA (2024)
Perguntas Frequentes:
1. Quem são os criadores do personagem Juiz Dredd e em que contexto ele foi criado?
O Juiz Dredd foi criado em 1977 por John Wagner (roteiro) e Carlos Ezquerra (arte) para o segundo número da revista britânica 2000 AD. A história se passa em um futuro distópico, em cidades gigantes e superpopulosas da Terra devastada, e apresenta Dredd como um policial implacável que acumula as funções de juiz, júri e executor.
2. O que diferencia o arco “Inferno” na saga do Juiz Dredd?
O arco “Inferno”, publicado originalmente entre 1993 e 1994, é composto por duas partes interligadas: Purgatório e Inferno. Ele destaca a fuga brutal do ex-juiz Grice da prisão em Titã e sua ameaça à Mega-City One, bem como uma epidemia viral na cidade. A arte detalhada de Carlos Ezquerra e o tom violento e crítico são características marcantes dessa história.
3. Quais são os pontos fortes e fracos do arco “Inferno” segundo a análise do artigo?
Os pontos fortes incluem a arte expressiva e detalhada de Carlos Ezquerra, que compensa certas falhas no roteiro, e o tom divertido e violento das histórias. Entre os pontos fracos estão roteiros um pouco lineares, exposições verborrágicas e algumas falhas no ritmo narrativo, especialmente na segunda parte do arco escrita por Grant Morrison.
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