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Análise Crítica do Filme Critica Noite De Reis Ou O Que Quiserem: Vale a Pena Assistir?

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Embora não tenha a complexidade e o engenho de A Comédia dos Erros — obra que a antecede cronologicamente —, Noite de Reis reafirma a habilidade de Shakespeare em explorar temas como o amor, a troca de identidades e as reações humanas em situações de crise. Utilizando os mesmos elementos da comédia ácida presente na trama dos Drômios e Antífolos, o dramaturgo se inspirou no conto de sua época, Of Apollonius and Silla, de Barnabe Rich, para criar uma narrativa marcada por uma forte musicalidade e, de forma inédita, evidenciar as fragilidades e imperfeições do comportamento masculino.

Esse enfoque, porém, não era totalmente novo. Shakespeare já havia destacado a força feminina em relação ao homem, ao menos em certos momentos, como em A Megera Domada. Contudo, em Noite de Reis ele concede maior relevância e superioridade intelectual às personagens femininas, especialmente ao despir o Duque Orsino e outros homens da peça, numa situação conhecida popularmente: homens tendem a se mostrar vulneráveis e impensados diante de paixões intensas.

A trama se passa na Ilíria, cenário mencionado anteriormente em Henrique VI – Parte 2, mas nunca explorado como palco principal de uma obra de Shakespeare. Após um naufrágio, os gêmeos Sebastian e Viola se perdem, cada um acreditando que o outro morreu. Viola, então, se disfarça de homem sob o nome Cesario e passa a servir o Duque Orsino, que a envia como mensageira para Olivia, uma condessa órfã que vive em luto pelo irmão falecido. A rede de relações se complica com personagens caricatos, como o tio de Olivia, o servo Malvolio, e a serva Maria, que desempenham papéis fundamentais na construção do humor da narrativa.

A adaptação do diretor britânico Trevor Nunn captura muito bem a essência da peça, inclusive seus pontos menos fortes. Sua versão não altera as ações principais, mas situa os personagens em um ambiente cortesão, cenário onde a história se desenrola. O início, que apresenta a transformação de Viola em Cesario, é tratado de forma rápida, embora inclua detalhes, como a situação política da Ilíria, que não acrescentam muito à trama. Para quem não conhece a peça, essa parte inicial pode parecer confusa, mas logo o contexto se esclarece e a comédia ganha força.

Com um elenco talentoso, Nunn criou espaços bem definidos para cada ato e, de modo inteligente, interligou os diferentes momentos da narrativa — algo que não acontece da mesma forma no texto original, mas que confere uma complexidade maior ao filme, valorizando as ações isoladas. Um exemplo marcante é a cena em que Feste conversa com Malvolio sobre a loucura deste, enquanto paralelamente outras sequências também exploram esse tema.

Imogen Stubbs, no papel de Viola, é o destaque principal do filme. A atriz constrói uma postura masculina convincente, porém delicada e juvenil, que mantém até a revelação final, já na penúltima cena. Sem recorrer a exageros vocais ou gestuais, Stubbs entrega uma interpretação notável, que se completa com a entrada de Steven Mackintosh como Sebastian, quando os irmãos finalmente se reencontram. Essa cena, carregada de emoção, é crucial para o desenvolvimento da trama, que depois resolve o episódio envolvendo Malvolio e encaminha o desfecho feliz.

No entanto, o final de Noite de Reis, tanto na peça quanto no filme, deixa a desejar. Nunn opta pelo solilóquio cantado de Feste para encerrar a obra, escolha que exagera o tom de comédia romântica que envolve as revelações finais sobre as identidades. Além disso, há uma desaceleração abrupta na narrativa, apesar de o ritmo ter sido bem conduzido até então. O desempenho de Ben Kingsley como Feste, embora competente, não alcança um nível marcante, contrastando com a atuação de Richard E. Grant como Sir Andrew, que se destaca pelo humor e timing precisos.

Noite de Reis é um filme agradável que acerta na maior parte do tempo, mas cujo final pode incomodar quem conhece a obra original. Essa crítica, contudo, reflete mais a minha insatisfação com a peça em si do que com a adaptação, que segue fielmente o roteiro. De todo modo, reconheço o mérito de Trevor Nunn no trabalho e recomendo a quem procura uma comédia inteligente sobre troca de identidades, disfarces, amores não correspondidos e finais felizes. Não é a melhor comédia de Shakespeare, mas certamente é uma produção digna e bem realizada.

Noite de Reis ou O Que Quiserem (Twelfth Night or What You Will) – Reino Unido/Irlanda/EUA, 1996
Direção: Trevor Nunn
Roteiro: Trevor Nunn (baseado na obra de William Shakespeare)
Elenco: Imogen Stubbs, Steven Mackintosh, Nicholas Farrell, Sidney Livingstone, Ben Kingsley, James Walker, Helena Bonham Carter, Nigel Hawthorne, Mel Smith, Imelda Staunton, Toby Stephens, Richard E. Grant
Duração: 134 minutos

Perguntas Frequentes:
1. Qual é a principal temática explorada em “Noite de Reis” e como Shakespeare aborda as personagens femininas na obra?
– “Noite de Reis” explora temas como o amor, a troca de identidades e as reações humanas em situações de crise. Shakespeare destaca a superioridade intelectual e a força das personagens femininas, especialmente evidenciando as fragilidades masculinas diante de paixões intensas.

2. Como a adaptação cinematográfica de Trevor Nunn retrata a peça “Noite de Reis”?
– A adaptação de Trevor Nunn mantém as ações principais da peça, situando os personagens em um ambiente cortesão. O filme apresenta um ritmo bem conduzido, com um elenco talentoso, destacando-se Imogen Stubbs como Viola. Porém, o final é considerado um ponto fraco, com desaceleração abrupta e escolhas que podem desagradar aos fãs da obra original.

3. Quais são os destaques do elenco na versão de 1996 de “Noite de Reis”?
– Imogen Stubbs se destaca como Viola, entregando uma interpretação convincente e delicada. Steven Mackintosh também é importante como Sebastian. Ben Kingsley interpreta Feste com competência, embora não marcante, enquanto Richard E. Grant chama a atenção pelo humor e timing precisos no papel de Sir Andrew.

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