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Análise Crítica do Filme Critica O Espirito De 45: Vale a Pena Assistir?

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Existe um limite entre documentário e propaganda política? É justificável usar o impacto do audiovisual para transmitir uma visão política contundente, mesmo que isso implique deixar de lado algumas verdades ou perspectivas?

Essas questões ficaram martelando na minha mente após assistir a O Espírito de 45, documentário que marca o retorno do diretor britânico Ken Loach a um gênero que foi fundamental em sua carreira nos anos 80. Loach nunca escondeu — e nem deveria — sua veia socialista, que está enraizada em seu trabalho, tanto na ficção quanto nos documentários.

O Espírito de 45 é fruto de uma extensa pesquisa e da recuperação de imagens autênticas, como cenas e propagandas do período pós-Segunda Guerra Mundial na Inglaterra. O filme mostra que os soldados que voltaram do conflito, junto daqueles que trabalharam nas fábricas e minas, não queriam retornar a um país arrasado pela recessão e pela miséria do período entre guerras. O povo ansiava por mudanças e, por conta desse espírito, o Partido Conservador de Winston Churchill sofreu uma derrota expressiva para o Partido dos Trabalhadores — que, aliás, não tem qualquer relação com o PT brasileiro.

Segundo Loach, essa transformação, sustentada por depoimentos de pessoas que viveram a época e por historiadores contemporâneos, representou uma virada histórica no país. Houve a estatização de setores essenciais como água, eletricidade, transporte e mineração, além da construção de moradias populares e controle de preços. A união popular teria sido o combustível para essa euforia que tirou o poder da aristocracia e devolveu aos trabalhadores o controle sobre suas vidas.

O diretor apresenta um panorama histórico convincente, revelando a miséria pouco conhecida daquele período e como ela foi superada pela união da população e pela atuação de políticos comprometidos. Loach deixa clara sua posição crítica à iniciativa privada, usando um exemplo do passado para alertar sobre questões atuais. Para ele, o socialismo funcionou dentro de um país capitalista.

Sempre defendi que documentários devem expressar opinião, e nesse sentido, a obra de Ken Loach merece nota máxima. Porém, quando se trata de profundidade, o filme decepciona. Ao abordar a insatisfação popular e a união social, o diretor não explora as dificuldades enfrentadas, os conflitos políticos, as complicações na implementação das políticas do Partido Trabalhista e os desafios do Estado após duas décadas de transformações.

Na verdade, o documentário passa a impressão de que tudo aconteceu de forma simples e imediata, sem atritos sociais ou políticos. Pelo argumento simplificado de Loach, o socialismo teria chegado e resolvido tudo num piscar de olhos.

Se ao menos fosse assim tão simples…

É evidente que Ken Loach tem sua agenda e que nem todos concordarão com ela. Ainda assim, sua mensagem, mesmo que superficial e maniqueísta, permanece na mente, inclusive daqueles que conhecem os desafios históricos. No entanto, ao final do filme, o diretor não resiste à tentação de transformar sua crítica em panfletagem, usando imagens impactantes que manipulam o público, numa tática que lembra os tabloides ingleses ao explorar a vida das celebridades.

Loach faz isso ao contrastar a política intervencionista e “liberal” com a abordagem “repressiva e conservadora” de Margaret Thatcher, a partir de 1979. A imagem da primeira-ministra surge em momentos estratégicos para provocar risos e escárnio, enquanto qualquer análise séria desaparece. Assim, o diretor mina seu próprio trabalho. Não estou defendendo Thatcher ou seu governo, apenas destacando que essa postura irônica no terço final do filme cria um tom de deboche que compromete a credibilidade da obra, embora agrade aos socialistas fervorosos — que, aliás, não gostam de ser identificados pelo nome.

Quando uma crítica se transforma numa propaganda explícita, com uma agenda política rasa que ignora a complexidade dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos da época, fica difícil levar o documentário a sério. Loach cai no exagero e, com isso, destrói o espírito do próprio trabalho. Uma pena.

O Espírito de 45 (The Spirit of ’45 – Reino Unido, 2013)
Direção: Ken Loach
Roteiro: Ken Loach
Duração: 94 minutos

Perguntas Frequentes:
1. Qual é a principal crítica feita ao documentário “O Espírito de 45” em relação à sua abordagem histórica?
O documentário é criticado por apresentar um panorama simplificado e superficial dos acontecimentos, ignorando as dificuldades, conflitos políticos e desafios enfrentados durante a implementação das políticas do Partido Trabalhista no pós-Segunda Guerra Mundial.

2. Como o diretor Ken Loach utiliza sua visão política no documentário, e isso afeta a credibilidade da obra?
Ken Loach expressa claramente sua veia socialista, utilizando imagens e narrativas que exaltam o socialismo e criticam a iniciativa privada, especialmente ao contrastar a política intervencionista com a abordagem conservadora de Margaret Thatcher. Essa postura, especialmente no final do filme, é vista como panfletária e irônica, o que compromete a credibilidade do documentário.

3. É justificável usar documentários para transmitir uma visão política contundente mesmo que isso implique deixar de lado algumas verdades ou perspectivas?
O texto sugere que, embora documentários possam e devam expressar opinião, uma abordagem simplista e maniqueísta que ignora a complexidade histórica e política pode diminuir a seriedade da obra e transformá-la em propaganda rasa, comprometendo seu valor informativo e analítico.

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