Sempre me chamou a atenção a escassez de adaptações das obras de Tolkien para os quadrinhos. Afinal, o universo que ele criou é perfeito para a nona arte. Durante uma pesquisa, descobri que O Hobbit foi adaptado para os quadrinhos em 1989 por Charles Dixon e Sean Deming, com ilustrações de David Wenzel. Essa graphic novel é, inclusive, uma das adaptações literárias para quadrinhos mais bem-sucedidas de todos os tempos.
Com a chegada da versão cinematográfica de Peter Jackson, nada melhor do que revisitar esse universo em formato de HQ. Se você ainda não leu o livro, recomendo que o faça; se já conhece a história, os quadrinhos são uma ótima oportunidade para um passeio rápido – embora, como veremos adiante, não tão leve – pela Terra Média.
Na verdade, é complicado chamar o trabalho de Dixon e Deming de “adaptação”. O que eles fizeram foi mais uma edição cuidadosa do texto original de Tolkien para que coubesse no formato das histórias em quadrinhos. Tudo está lá, do começo ao fim, em detalhes minuciosos. E esse talvez seja o maior desafio da obra.
Antes de falar sobre esse ponto, vale um breve resumo para quem não conhece O Hobbit. Publicado em 1937 pelo linguista britânico J.R.R. Tolkien, é uma obra fundamental da fantasia e serve como prelúdio para a trilogia O Senhor dos Anéis. A trama acompanha Bilbo Bolseiro, um hobbit pequeno e de pés peludos, que embarca em uma aventura ao lado de 13 anões e do mago Gandalf para recuperar o tesouro roubado pelo dragão Smaug. A jornada é repleta de perigos, e o relutante Bilbo acaba sendo crucial para salvar seus companheiros em várias ocasiões.
Parece que, por respeito aos fãs mais puristas, Dixon e Deming optaram por transpor integralmente o texto para os quadrinhos, sem grandes cortes ou adaptações. O resultado é uma obra fiel, claro, mas carregada de longos textos narrativos que acompanham sequências extensas, exigindo muito esforço do ilustrador David Wenzel para representar nem que fosse um trecho. Por isso, apesar do tom leve do livro original, a leitura dos quadrinhos não é tão simples ou rápida. A graphic novel demanda atenção e concentração, o que acaba quebrando o ritmo da leitura. Toda adaptação precisa ajustar a obra original ao meio a que se destina — seja de livro para filme, filme para quadrinhos ou o contrário. Tentar transferir tudo literalmente quase nunca funciona bem, e é isso que acontece aqui.
Não é necessário incluir todos os detalhes, pois isso sobrecarrega o espaço disponível. Se Dixon e Deming tivessem condensado a narrativa, certamente teríamos uma história mais dinâmica e envolvente. Do jeito que ficou, a graphic novel é basicamente o livro completo ilustrado.
Sei que muitos fãs discordarão, mas é importante ressaltar que quando uma adaptação deixa de ser adaptação para se tornar uma simples transposição, o resultado costuma ficar aquém do esperado. Imaginem o desastre se Peter Jackson tivesse simplesmente filmado O Senhor dos Anéis sem cortes, ampliando personagens menores e reduzindo outros.
Por outro lado, um aspecto que merece destaque em O Hobbit é a arte de David Wenzel. Mesmo com tanto texto, é possível apreciar o cuidado nos detalhes. Ele buscou dar um toque infantil à narrativa, com cada um dos 13 anões, Bilbo e Gandalf desenhados com traços bem distintos. As splash pages, usadas com moderação, são belas e poderiam facilmente virar quadros para fãs da obra.
Confesso, porém, que pessoalmente não me identifiquei com o estilo artístico de Wenzel. Não sei exatamente o porquê — talvez os traços arredondados, os rostos ou as cores —, mas o desenho não me agradou, o que tornou a leitura mais difícil. Ainda assim, reconheço a qualidade do trabalho e minha avaliação negativa se deve apenas ao roteiro, não à arte.
Se você é fã de Tolkien, essa graphic novel é leitura obrigatória. Mesmo que não seja, mas queira relembrar a história sem reler o livro, vale conferir antes da estreia do primeiro filme da nova adaptação de O Hobbit.
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Sobre o autor: cresci assistindo a clássicos do cinema de ação e aventura, desde Marion Cobretti até Maverick, e sempre me inspirei em personagens icônicos como Daniel-San e Sarah Connor. Sou fã de narrativas que combinam emoção e fantasia, e acompanho de perto lançamentos e críticas de quadrinhos e filmes para compartilhar minhas impressões com os leitores.
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Críticas recentes publicadas:
– Cassidy: Omnibus – Vol.2
– Rick Grimes 2000
– Reinado do Demônio
– A Morte Invisível (Júlia Kendall #28)
– Sa Wala: Tudo por Nada
– Demolidor: Quarentena (2021-2022)
– Star Wars: Legacy Of Vader #1
– Void Rivals – Vol. 3
– TVA (2024)
Perguntas Frequentes:
1. O que torna a graphic novel de O Hobbit, adaptada por Charles Dixon e Sean Deming, diferente de outras adaptações literárias para quadrinhos?
R: Essa graphic novel é uma transposição quase integral do texto original de Tolkien para o formato dos quadrinhos, mantendo todos os detalhes e textos narrativos. Isso resulta em uma obra muito fiel, mas que exige mais atenção e concentração do leitor, tornando a leitura menos dinâmica e mais extensa que o livro original.
2. Como é o estilo artístico da graphic novel de O Hobbit ilustrada por David Wenzel?
R: A arte de David Wenzel apresenta traços arredondados e um toque infantil, com personagens bem distintos, especialmente os 13 anões, Bilbo e Gandalf. Apesar de ser detalhada e cuidadosa, o estilo pode não agradar a todos os leitores, pois tem um aspecto mais suave e colorido que pode tornar a leitura mais difícil para alguns.
3. Para quem é recomendada a leitura da graphic novel de O Hobbit?
R: A leitura é recomendada especialmente para fãs de Tolkien que desejam uma versão fiel e ilustrada da história. Também é indicada para quem quer relembrar a trama de forma visual antes de assistir às adaptações cinematográficas, embora a leitura demande mais tempo e atenção devido à fidelidade ao texto original.
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