Em pleno final de 2012, é complicado entender a estreia nos cinemas brasileiros de um filme produzido em 2010. Nosso número de salas de exibição é pequeno e, ao optar por lançar um título “antigo”, mesmo que assinado por um diretor consagrado, parece sinalizar falta de novidades no mercado, o que claramente não corresponde à realidade atual. Mas deixando as observações de lado, vamos à análise do filme, que é o que interessa.
Ken Loach, renomado cineasta britânico conhecido por obras como Ventos da Liberdade — que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes em 2006 — assina Rota Irlandesa, seu antepenúltimo trabalho, baseado em roteiro de Paul Laverty. A parceria entre Loach e Laverty é antiga, remontando justamente a Ventos da Liberdade.
O título faz referência a uma estrada entre a Zona Verde do Iraque, controlada pelos Estados Unidos, e o aeroporto de Bagdá, considerada a rota mais perigosa do mundo. É nesse cenário que Frankie (John Bishop), soldado contratado por uma empresa privada de segurança, perde a vida. Seu melhor amigo Fergus (Mark Womack), também ex-funcionário da mesma empresa e responsável por convencer Frankie a ir ao Iraque, suspeita que há algo errado, pois conhecia a sorte do amigo. A desconfiança aumenta quando Fergus recebe um celular contendo provas que podem incriminar eventos relacionados à morte de Frankie. Decidido, ele parte para investigar o que realmente aconteceu.
Fiel ao seu estilo politizado, Ken Loach busca mostrar os bastidores da “guerra privada” e as práticas de tortura associadas ao exército americano. No entanto, o diretor não se empenha em dar peso à questão, apresentando temas que já são bastante discutidos pela mídia mundial, mesmo após a retirada das tropas americanas do Iraque. O filme não surpreende, a não ser pela dificuldade de Loach em captar a atenção do espectador para a narrativa e, sobretudo, para o protagonista.
Fergus é retratado como um homem instável, com uma relação problemática e quase obsessiva em relação a Frankie. Ele carrega culpa pela morte do amigo e parte para uma vingança impulsiva e pouco planejada. Considerando que Fergus é um soldado experiente — fato enfatizado por outros personagens — é difícil aceitar os erros grosseiros que ele comete, como agir sem ter todas as informações ou negligenciar a proteção de pessoas ameaçadas pelos antagonistas. Além disso, após o clímax, o desfecho apresenta decisões que destoam completamente da personalidade de Fergus e da esposa de Frankie.
Rota Irlandesa não é um filme sem valor, mas definitivamente está aquém do padrão esperado de Ken Loach, o que causa certa estranheza. As cenas que abordam arrependimento, raiva e vingança são previsíveis e carecem de originalidade, algo que seria perdoável em cineastas menos experientes, mas não condiz com a trajetória de Loach e Laverty.
Rota Irlandesa (Route Irish, Reino Unido/França/Itália/Bélgica/Espanha, 2010)
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Elenco: Mark Womack, John Bishop, Geoff Bell, Stephen Lord, Najwa Nimri, Andrea Lowe, Jamie Michie, entre outros
Duração: 109 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Por que o filme “Rota Irlandesa” foi lançado nos cinemas brasileiros apenas em 2012, se foi produzido em 2010?
R: O lançamento tardio pode ser atribuído ao número limitado de salas de cinema no Brasil e à escolha dos distribuidores em lançar um filme mais antigo, possivelmente por falta de novidades no mercado local, embora essa percepção não reflita necessariamente a realidade atual.
2. Qual é o tema central do filme “Rota Irlandesa” dirigido por Ken Loach?
R: O filme aborda a “guerra privada” no Iraque, focando nas práticas de empresas privadas de segurança, tortura associada ao exército americano e a investigação da morte de um soldado contratado nesse contexto.
3. Como é retratado o personagem Fergus em “Rota Irlandesa” e quais são as críticas em relação à sua caracterização?
R: Fergus é mostrado como um homem instável, obsessivo e impulsivo, que comete erros grosseiros apesar de ser um soldado experiente. Essa caracterização é criticada por parecer incoerente e pouco convincente, destoando da personalidade esperada para o protagonista.
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