Você já ouviu falar em “retcon”? Esse termo, uma abreviação de “retroactive continuity” (continuidade retroativa), é usado para descrever quando uma história insere eventos passados que não faziam parte da narrativa original.
Embora o retcon apareça em livros, seu uso mais frequente e notório ocorre nas histórias em quadrinhos, principalmente nas gigantes DC e Marvel. Essas editoras acumulam décadas de histórias com várias idas e vindas, o que muitas vezes deixa os leitores confusos. Alguns retcons são bem elaborados e resultam em histórias interessantes — como a revelação de Bucky Barnes como o Soldado Invernal na saga do Capitão América, escrita brilhantemente por Ed Brubaker. Porém, na maioria das vezes, essa técnica serve apenas para atrair leitores desavisados e vender mais revistas. Afinal, quem conseguiu aceitar algumas das mudanças recentes da Marvel, como o romance de Gwen Stacy com Norman Osborn, o “choque de realidade” envolvendo o Superboy, ou a constante inserção de Wolverine em praticamente todo o passado do Universo Marvel? Sem falar no novo “filho negro de Nick Fury” que é praticamente idêntico ao Samuel L. Jackson e que também trabalha para a S.H.I.E.L.D. Pensar nisso tudo chega a deixar a cabeça confusa.
A minissérie S.H.I.E.L.D., lançada em 2010 e criada por Jonathan Hickman e Dustin Weaver, é um grande exemplo de retcon dentro do universo dos quadrinhos. Essa agência de espionagem, que funciona como uma espécie de CIA dos super-heróis, começou com um passado bem americano sob o comando do Nick Fury original, um homem branco. Com o tempo, a S.H.I.E.L.D. evoluiu para uma organização mais politicamente correta, quase como uma ONU da espionagem, afastando Fury da linha de frente.
Nessa série, descobrimos que a S.H.I.E.L.D. não é apenas uma entidade global, mas também atemporal — ela existe desde 2620 a.C., quando Imhotep, empunhando um escudo com uma águia (que deu nome à agência) e um cetro, derrotou uma invasão na Ninhada. As armas simbólicas de Imhotep foram passadas ao longo dos séculos, de mãos em mãos, para grandes personagens do Oriente e do Ocidente, sempre com o objetivo de proteger a Terra de catástrofes.
Apesar da série abordar esse passado remoto, seu foco principal está em duas linhas temporais: o recrutamento de grandes nomes da ciência ocidental como Galileu, Leonardo da Vinci e Isaac Newton, e o “presente” da narrativa, situado em 1953. Nesse contexto, Nathaniel Richards (pai do Reed Richards) e Howard Stark (pai de Tony Stark) recrutam um jovem chamado Leonid em Nova York e o levam para Roma, onde ele descobre a existência de uma cidade subterrânea chamada Urbis Immortalis, base da S.H.I.E.L.D.
Leonid possui um poder não muito claro, já que sua pele é translúcida e cheia de estrelas, e acaba sob a tutela de Isaac Newton — que, surpreendentemente, ainda está vivo. Além disso, ele enfrenta ataques de uma entidade misteriosa chamada Night Machine. A partir daí, a história apresenta uma série de personagens históricos importantes, retratados como os primeiros super-heróis do mundo.
No entanto, a narrativa não vai muito além disso: parece mais uma desculpa para encaixar o maior número possível de figuras históricas e elementos antigos do Universo Marvel ao longo das seis edições, tentando construir uma história minimamente coerente. Infelizmente, Hickman e Weaver não conseguem cumprir essa missão de forma satisfatória.
O fio condutor da trama — o recrutamento de Leonid — é tão claramente um artifício para apresentar a “verdadeira história da S.H.I.E.L.D.” que acaba soando forçado. Leonid basicamente faz perguntas e se impressiona com as respostas, que são exibidas em flashbacks variados. Esses flashbacks nem sempre ajudam no desenvolvimento da trama, servindo mais para inserir ainda mais personagens e eventos na cronologia da agência. Com essa abordagem expositiva, os autores demoram a entrar no que realmente importa e a desenvolver o conflito principal. Quando isso finalmente acontece, o volume está perto do fim, e nada é resolvido. Embora seja apenas o primeiro volume, a sensação que fica é semelhante à de assistir a série Lost: os mistérios se acumulam e se atropelam, sem que respostas claras sejam dadas. As poucas “soluções” apenas geram mais perguntas.
Assim, o resultado é uma narrativa confusa e, por vezes, irritante. Os desenhos de Weaver e Hickman são belíssimos, mas acabam atrapalhando a compreensão. As splash pages são impressionantes em detalhes e grandiosidade, mas nas cenas de ação, com muitas imagens pequenas por página, o leitor tem dificuldade para entender o que está acontecendo — é como assistir a um filme de Michael Bay sob efeito de LSD.
No fim das contas, pelo menos neste primeiro volume, S.H.I.E.L.D. não traz nada de realmente relevante ou empolgante para o Universo Marvel, funcionando mais como uma curiosidade. No final, é um investimento que deixa a desejar.
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Aprendi a fazer cara feia com Marion Cobretti, a escapar de enrascadas com John Matrix e me encantei por Stephanie Zinone, mesmo com Emmeline Lestrange e Lisa na disputa. Comecei a lutar inspirado por Daniel-San e a pilotar aviões de cabeça para baixo como Maverick. Já vim do futuro para salvar Sarah Connor, alimento o Gizmo religiosamente antes da meia-noite e, vez ou outra, preciso proteger o Bairro Proibido dos demônios. Sou ex-policial, ex-blade-runner, ex-assassino, mas às vezes volto às antigas, solto um “yippee ki-yay, motherfucker” e pego a Ferrari do pai do Cameron ou o V8 Interceptor do louco do Max para dar uma volta com Jessica Rabbit por Ridgemont High.
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Críticas recentes:
– Cassidy: Omnibus – Vol. 2
– Rick Grimes 2000
– Reinado do Demônio
– A Morte Invisível (Júlia Kendall #28)
– Sa Wala: Tudo por Nada
– Demolidor: Quarentena (2021-2022)
– Star Wars: Legacy Of Vader #1
– Void Rivals – Vol. 3
– TVA (2024)
Perguntas Frequentes:
1. O que é retcon e como ele é usado nas histórias em quadrinhos da Marvel e DC?
R: Retcon, abreviação de “retroactive continuity” (continuidade retroativa), é uma técnica narrativa que insere eventos passados que não faziam parte da história original. Nas editoras Marvel e DC, o retcon é frequente para atualizar, modificar ou expandir o universo das histórias em quadrinhos, embora às vezes possa causar confusão entre os leitores.
2. Qual é a premissa da minissérie S.H.I.E.L.D. (2010) e como ela utiliza o retcon?
R: A minissérie S.H.I.E.L.D., criada por Jonathan Hickman e Dustin Weaver, revela que a agência de espionagem existe desde 2620 a.C., conectando figuras históricas famosas como Galileu e Isaac Newton como primeiros agentes da organização. A série usa o retcon para estabelecer uma história antiga e atemporal da S.H.I.E.L.D., mas a narrativa é considerada confusa e pouco satisfatória na construção de sua trama principal.
3. Quais são as principais críticas à minissérie S.H.I.E.L.D. em relação à sua história e arte?
R: Embora os desenhos de Weaver e Hickman sejam visualmente impressionantes, a arte pode atrapalhar a compreensão devido ao excesso de detalhes e à disposição das imagens. A narrativa é vista como confusa, com muitos flashbacks e exposição que atrasam o desenvolvimento do conflito principal, deixando o leitor com mais perguntas do que respostas e sem resoluções claras no primeiro volume.
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