O diretor ítalo-brasileiro Antonio Campos, embora estabelecido nos Estados Unidos, fala português fluentemente, ainda que com um leve sotaque. Durante o Festival do Rio 2012, ele não apenas apresentou seu mais recente filme, como também participou de uma breve sessão de perguntas e respostas ao final da exibição.
A trama de seu filme é bastante direta, o que pode ser justamente o motivo de despertar interesse, mesmo que esteja longe da perfeição.
Simon (interpretado por Brady Corbet) é um jovem americano recém-formado em neurociências, especializado na relação entre o cérebro e os olhos, assunto que ele repete várias vezes. Ele está em Paris, tentando superar uma dolorosa separação de sua namorada. Desde o início, fica claro que Simon enfrenta algum tipo de distúrbio, mas o roteiro, também assinado por Campos, opta por não nomear ou aprofundar essa questão. Mesmo tentando manter contato constante com sua ex e falando frequentemente com a mãe por videoconferência, Simon acaba se envolvendo com Victoria (Mati Diop), uma prostituta, e a partir daí sua vida começa a desmoronar.
O personagem vive em um universo próprio, onde as fronteiras entre o certo e o errado, o ético e o antiético, o amor e a excitação são bastante tênues. Ele não consegue distinguir claramente essas diferenças e age no impulso, sem se importar com quem possa machucar, seja verbal ou fisicamente. Envolvido em esquemas de extorsão, tentando iniciar outro relacionamento, enfrentando dificuldades financeiras e conflitos, Simon parece perdido em meio ao caos de sua existência.
Antonio Campos evita explicações simplistas, embora a conclusão de que Simon sofre de problemas psicológicos seja quase inevitável. O que chama a atenção é a forma como o diretor retrata essa condição.
A música assume um papel ativo no filme, integrando-se aos personagens em vez de funcionar apenas como trilha sonora de fundo. Por exemplo, ouvimos o som alto quando Simon usa fones de ouvido, simbolizando seu distanciamento do mundo ao redor. A música também está presente no bar onde conhece Victoria e nas cenas em que ela liga o aparelho de som em sua casa. A seleção musical é de qualidade e bastante envolvente.
A câmera, geralmente na mão, acompanha Simon de perto, muitas vezes filmando por trás, na altura do ombro, focando nele enquanto o resto do cenário fica borrado, reforçando a sensação de isolamento do protagonista.
Porém, esses recursos acabam sendo usados em excesso. Em alguns momentos, a música fica alta e até intrusiva. A intenção do diretor torna-se evidente logo no início, mas depois a repetição dessa estratégia perde impacto e parece gratuita. O uso constante da câmera tremida e na mão segue a mesma lógica: interessante nas primeiras vezes, mas, com o passar do tempo, transforma-se em uma distração ou em um vício visual. Além disso, há inúmeras cenas em que a câmera é posicionada na altura da virilha dos personagens, mostrando closes excessivamente próximos, o que acaba soando desnecessário.
Esses artifícios visuais repetitivos acabam mascarando uma narrativa que, embora instigante e com ecos de obras como O Talentoso Ripley, não oferece muito mais para explorar. Brady Corbet entrega uma performance sólida, lembrando seu papel em Violência Gratuita, ainda que sem a intensidade extrema ou o planejamento meticuloso presentes no filme de Haneke.
No fim das contas, Simon Killer teria se beneficiado de uma edição mais enxuta, capaz de evitar a repetição de cenas que acabam evidenciando as fragilidades da história.
Simon Killer (Estados Unidos, 2012)
Direção: Antonio Campos
Roteiro: Antonio Campos
Elenco: Brady Corbet, Mati Diop, Michaël Abiteboul, Alex Desjoux, Marc Gaviard, Alexandra Neil, Nicolas Ronchi, Etienne Rotha Moeng, Constance Rousseau, Lila Salet, Solo
Duração: 106 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Quem é o protagonista do filme “Simon Killer” e qual é sua principal característica?
R: O protagonista é Simon, um jovem americano recém-formado em neurociências que enfrenta um distúrbio psicológico não especificado e vive um conflito interno entre o certo e o errado, agindo impulsivamente e sem se importar com as consequências para os outros.
2. Como o diretor Antonio Campos utiliza a música e a câmera para retratar a condição do personagem principal?
R: A música é usada de forma ativa, integrando-se às cenas para simbolizar o distanciamento de Simon do mundo, como quando ele ouve música alta com fones de ouvido. A câmera, geralmente na mão e em ângulos próximos, reforça a sensação de isolamento do protagonista, embora o uso excessivo desses recursos acabe prejudicando o impacto.
3. Quais são as críticas principais feitas ao filme “Simon Killer” segundo o artigo?
R: O filme é criticado pelo uso repetitivo e excessivo da música alta e da câmera tremida, que se tornam distrativos, além de cenas com closes desnecessários. A narrativa, apesar de instigante, é considerada pouco explorada e o filme teria se beneficiado de uma edição mais enxuta para evitar a repetição e evidenciar suas fragilidades.
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