Como analisar a saga de Martha Washington e a abordagem para avaliá-la
Avaliar a extensa jornada da heroína Martha Washington, criada por Frank Miller e ilustrada por Dave Gibbons, é um desafio devido à variedade de histórias que compõem sua narrativa. Ao contrário de uma única graphic novel, a saga é formada por várias minisséries e one-shots que se entrelaçam, formando um conjunto coeso.
Martha Washington surgiu em 1990 com a minissérie de quatro edições Give Me Liberty, cujo título é inspirado em uma frase famosa de Patrick Henry, um dos fundadores dos Estados Unidos. No Brasil, essa obra foi lançada pela Editora Globo como Liberdade e, posteriormente, pela Mythos com o título Liberdade: A Todo Custo.
Após essa estreia, Miller e Gibbons expandiram o universo da personagem com Martha Washington Goes to War (1994), uma minissérie de cinco edições também publicada pela Mythos. Em 1995, lançaram dois one-shots: Happy Birthday, Martha Washington e Martha Washington Stranded in Space, que ainda não foram editados no Brasil. Em 1997, veio a minissérie Martha Washington Saves the World, seguida dez anos depois pelo one-shot Martha Washington Dies, também inédito por aqui.
O Omnibus reúne essas publicações que abrangem cerca de 17 anos, organizadas cronologicamente dentro da mitologia da personagem, além de incluir materiais extras raros. Para realizar a análise, optei por uma abordagem intermediária: apresentar uma crítica única, mas destacando cada minissérie e one-shot com avaliações individuais.
Vamos às impressões, seguindo a ordem cronológica do Omnibus.
Give Me Liberty (1990)
Ambientada em um futuro distópico a partir de 1995, a narrativa mostra os EUA sob um regime fascista liderado pelo presidente Rexall. Neste contexto, surgem guetos murados que rapidamente se tornam verdadeiras prisões, marcadas pela violência e segregação.
Martha cresce nesse ambiente difícil, desenvolvendo habilidades excepcionais com computadores e sobrevivendo a uma internação em um manicômio. Em 2009, após um atentado contra Rexall, sua sucessão por Nissen muda o cenário político, enquanto Martha se junta à força de paz PAX, que atua em missões globais, incluindo uma intervenção na Amazônia brasileira para combater a exploração predatória.
A personagem evolui de uma jovem assustada para uma soldada implacável, enfrentando inimigos como o tenente Moretti, cuja relação com ela é complexa e cheia de nuances. A trama ganha tons épicos, acompanhando a ascensão de Martha nas fileiras militares.
Frank Miller, após seu sucesso com O Cavaleiro das Trevas e desentendimentos com a DC, encontrou na Dark Horse uma liberdade criativa para explorar críticas políticas e sociais de maneira mais contundente. Essa característica, presente em Give Me Liberty, é tanto um ponto forte quanto um aspecto que pode parecer exagerado, pois a narrativa às vezes é guiada mais pela mensagem política do que pela coerência da história.
Martha, por sua vez, funciona mais como um elo para a trama do que como um personagem plenamente desenvolvido, mantendo-se numa zona de transição entre a inocência e a maturidade.
Dave Gibbons, conhecido por seu trabalho em Watchmen, contribui com uma arte detalhada e uma excelente composição dos quadros, embora algumas repetições visuais sejam notadas. A paleta de cores primárias aplicada por Robin Smith, entretanto, pode transmitir uma sensação de monotonia que afeta o impacto visual geral.
Nota: 3,5 de 5
Happy Birthday Martha Washington (1995)
Este one-shot reúne três histórias curtas e uma revista produzida para acompanhar uma action figure da personagem, formando um conjunto eclético.
Em Collateral Damage, Martha se alia a soldados rebeldes numa Nova Iorque devastada, com diálogos que expõem a futilidade da guerra. Logistics mostra uma missão para invadir um centro de processamento de carne proibida, com nuances que questionam as reais intenções da operação. State of the Art aborda a falha da tecnologia militar, apresentando um confronto em que ambos os lados recorrem a métodos cada vez mais simples e eficazes. Por fim, Insubordination presta homenagem a Jack Kirby, retratando uma investigação sobre o Capitão Kurtz, herói da Segunda Guerra Mundial que desobedeceu ordens para continuar lutando, simbolizando uma versão do Capitão América no universo de Martha.
Diferentemente de Give Me Liberty, a coloração aqui é mais natural e eficiente, o que ajuda na imersão, mesmo quando personagens com visuais extravagantes são apresentados.
Nota: 4 de 5
Martha Washington Goes to War (1994)
Neste ponto da saga, Martha já é uma soldada experiente, envolvida na luta contra os rebeldes na Segunda Guerra Civil americana. A narrativa introduz elementos sobrenaturais, com relatos de “fantasmas invisíveis” no campo de batalha, e uma trama envolvendo experimentos feitos pelo Cirurgião Geral, um antagonista cruel.
Essa minissérie marca um avanço no desenvolvimento da personagem, que começa a questionar a moralidade dos lados em conflito. A tecnologia assume papel central, com a introdução de uma inteligência artificial que auxilia Martha.
Miller abandona o tom mais realista da primeira minissérie para explorar temas mais fantásticos, ampliando o universo e oferecendo uma visão mais equilibrada, menos focada apenas na crítica social.
Por outro lado, a arte de Gibbons combinada com as cores computadorizadas e fundos fotorealistas de Angus McKie resulta em algumas imagens pouco convincentes, embora sejam momentos esporádicos.
Nota: 4 de 5
Martha Washington Stranded in Space (1995)
Este one-shot apresenta duas histórias ambientadas no espaço. Na primeira, Crossover, Martha encontra Big Guy, robô de outra série de Miller, em um encontro entre universos criativos. A narrativa é poética e reflexiva, contrastando com a ação intensa das histórias anteriores.
A segunda, Attack of the Flesh-Eating Monsters, é uma divertida paródia dos filmes clássicos de extraterrestres e do jogo de cartas Mars Attacks!, preparando o terreno para a ameaça principal da minissérie seguinte.
Nota: 4,5 de 5
Martha Washington Saves the World (1997)
Aqui, Miller e Gibbons oferecem uma despedida inspirada em Kubrick para a heroína, com uma trama espacial que remete a 2001: Uma Odisseia no Espaço. A inteligência artificial Venus, criada anteriormente, ganha autonomia e tenta eliminar Martha e Pearl durante seu retorno à Terra.
Após escapar, Martha embarca numa missão científica a bordo de uma nave gigantesca para investigar um asteroide colidido com Júpiter, enquanto Venus trama seus planos.
Apesar de se afastar do tom crítico e realista das obras anteriores, a narrativa funciona como um encerramento adequado, mostrando a evolução da personagem que superou inúmeras adversidades sociais e pessoais.
A arte de Gibbons está em seu auge, com composições que variam entre quadros pequenos e splash pages impressionantes.
Nota: 4,5 de 5
Martha Washington Dies (2007)
Dez anos após a última minissérie, Miller e Gibbons encerram a saga com um tom intimista. A história se passa em 2095, no centésimo aniversário de Martha, agora cega, em um planeta devastado. Guerreiros a cercam enquanto ela narra sua trajetória de vida.
A narrativa, possivelmente contada por uma descendente, não esclarece o desaparecimento de Martha por vinte anos nem os detalhes da situação crítica da Terra.
Martha se torna um símbolo de esperança, morrendo em um momento de luz após pronunciar a frase Give Me Liberty.
O final poético abre espaço para possíveis novas histórias, tanto sobre os anos ausentes de Martha quanto sobre o futuro do planeta.
Nota: 3,5 de 5
Considerações finais
Embora a saga de Martha Washington apresente falhas, elas não devem afastar os leitores. A personagem é fascinante, e a narrativa de Frank Miller, mesmo nos momentos menos inspirados, mantém o interesse do início ao fim. Para fãs de quadrinhos, a obra é essencial e merece lugar de destaque na coleção.
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Com essa análise, fica claro que a saga de Martha Washington é uma obra complexa, que mescla crítica social, ação e elementos fantásticos, demonstrando a versatilidade de seus criadores e a riqueza do universo construído ao longo de quase duas décadas.
Perguntas Frequentes:
1. Quem são os criadores da saga de Martha Washington e qual é a importância deles para a obra?
R: A saga foi criada por Frank Miller, responsável pelo roteiro, e Dave Gibbons, que cuidou da arte. Miller trouxe sua visão crítica e ousada, após trabalhos renomados como O Cavaleiro das Trevas, enquanto Gibbons, conhecido por Watchmen, contribuiu com um traço detalhado e bem composto. A parceria resultou numa narrativa rica e visualmente marcante.
2. Como a saga de Martha Washington está organizada e quais são suas principais publicações?
R: A saga é composta por várias minisséries e one-shots lançados entre 1990 e 2007, incluindo Give Me Liberty, Martha Washington Goes to War, Happy Birthday Martha Washington, Martha Washington Stranded in Space, Martha Washington Saves the World e Martha Washington Dies. O Omnibus reúne essas histórias em ordem cronológica, facilitando a leitura e análise da evolução da personagem e do universo.
3. Quais são os principais temas abordados na saga de Martha Washington e como eles se manifestam na narrativa?
R: A saga mistura crítica social, política, ação e elementos fantásticos. Ela retrata um futuro distópico com regimes autoritários, guerras civis e exploração ambiental, ao mesmo tempo em que explora o crescimento pessoal de Martha, conflitos morais e avanços tecnológicos, como inteligência artificial. Essa combinação cria uma história complexa e multifacetada que desafia o leitor a refletir sobre questões contemporâneas.
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