Situada no sétimo ano da Guerra de Troia, a peça Troilo e Créssida, uma das tragédias de Shakespeare, oscila entre momentos cômicos e uma atmosfera mais séria. Escrita por volta de 1602, logo após Hamlet, a obra traz reflexões que remetem à era moderna, fazendo com que pareça dialogar com a Inglaterra elisabetana, apesar de seu cenário na Grécia Antiga.
Levando isso em consideração, Jonathan Miller, em sua adaptação para a série BBC Television Shakespeare, optou por vestir os personagens com trajes renascentistas. Essa escolha gera inicialmente uma certa confusão no público, que fica em dúvida sobre a época em que a história se passa, e depois provoca um constante desconforto, já que as roupas contrastam fortemente com os cenários, lembrando o tempo todo que algo está fora do lugar. Do ponto de vista artístico, essa mescla pouco harmoniosa entre duas épocas acaba desviando a atenção da trama principal. No final das contas, parece que Miller usou o tom da obra apenas como justificativa para economizar no orçamento.
Outro ponto negativo da produção é a simplicidade dos cenários, que são poucos e pouco detalhados. Limitando-se a algumas locações geralmente filmadas em estúdio, a impressão é a de estar assistindo a uma peça teatral gravada, situação que é agravada pelas interpretações exageradas, especialmente a de Charles Gray no papel de Pandarus. Por outro lado, esse clima teatral ajuda a manter a comédia presente na obra, que ainda assim funciona bem.
O que salva a adaptação de parecer apenas uma peça filmada é o trabalho da fotografia, assinada por Jim Atkinson, que confere mais dinamismo às cenas, evitando cortes secos repetitivos. A câmera consegue explorar as limitações do cenário, escondendo, em vários momentos, sua simplicidade.
No entanto, as falhas do filme não se restringem aos aspectos técnicos. O roteiro apresenta certa confusão, não conseguindo equilibrar de forma harmoniosa a relação entre Troilo e Créssida com o contexto da guerra de Troia. Isso gera uma sensação constante de desorientação no espectador, que pode ter ainda mais dificuldade caso não esteja familiarizado com o inglês elisabetano de Shakespeare, idioma que a BBC manteve rigorosamente na adaptação.
Troilo e Créssida é, portanto, um filme que se perde em suas próprias limitações cênicas e causa estranhamento visual por causa do figurino. A narrativa não é conduzida de maneira eficaz e, devido à sua longa duração, dificilmente consegue prender a atenção do público. No fim, trata-se de uma adaptação que não consegue se definir entre a comédia e a tragédia presentes na obra original.
Troilo e Créssida (Troilus and Cressida) – Reino Unido, 1981
Direção: Jonathan Miller
Roteiro: William Shakespeare
Elenco: Charles Gray, Anton Lesser, Tony Steedman, Suzanne Burden, Max Harvey, Peter Walmsley, Vernon Dobtcheff, Geoffrey Chater, Benjamin Whitrow, Bernard Brown, Anthony Pedley, Jack Birkett, Kenneth Haigh, Simon Cutter, Esmond Knight
Duração: 190 minutos
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Refugiado de uma galáxia muito, muito distante, acabei neste planeta do setor 2814 por engano. Minha paixão por filmes me levou a explorar o universo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha obsessão pelo entretenimento terrestre vai além das telonas — literatura, séries e games também fazem parte desta longa jornada.
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Perguntas Frequentes:
1. Por que a adaptação de Jonathan Miller para “Troilo e Créssida” utiliza trajes renascentistas mesmo com a história ambientada na Grécia Antiga?
R: Miller escolheu vestir os personagens com roupas renascentistas para estabelecer um diálogo entre a obra de Shakespeare e a Inglaterra elisabetana, refletindo a atmosfera moderna presente no texto original. Essa escolha cria um contraste visual que pode causar desconforto e confusão no público, mas serve para destacar a atemporalidade dos temas abordados.
2. Quais são os principais pontos negativos da adaptação de “Troilo e Créssida” da BBC dirigida por Jonathan Miller?
R: Entre os aspectos negativos estão a simplicidade dos cenários, que parecem mais uma peça teatral filmada, as interpretações exageradas dos atores, o figurino que gera estranhamento visual, e o roteiro que não equilibra bem o romance entre Troilo e Créssida com o contexto da guerra, causando desorientação no espectador, especialmente para quem não está familiarizado com o inglês elisabetano.
3. O que contribui para que a adaptação de “Troilo e Créssida” não pareça apenas uma peça gravada, apesar dos cenários simples?
R: O trabalho de fotografia de Jim Atkinson confere dinamismo às cenas, utilizando movimentos de câmera que exploram as limitações dos cenários e evitam cortes secos repetitivos, o que ajuda a tornar a experiência visual mais interessante e menos estática.
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