Aviso: este texto foi escrito na época do lançamento de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, em 2012, mas as observações aqui feitas também valem perfeitamente para a segunda parte da saga.
Embora o lançamento da primeira parte de O Hobbit, previsto para 14 de dezembro, não precise de muitas justificativas para ser assistido, quero compartilhar meu ponto de vista, que é mais científico do que puramente entusiasta. Adorei a trilogia O Senhor dos Anéis, dirigida por Peter Jackson, mas encaro O Hobbit de uma forma diferente.
Dividir um livro relativamente curto, ainda que cheio de detalhes, em três longos filmes é claramente uma estratégia para maximizar ganhos financeiros, obrigando o público a pagar três vezes por uma história que poderia ser contada em um ou dois filmes. Isso, para mim, foi frustrante.
E não venham me dizer que essa decisão foi tomada por motivos artísticos, porque isso é ingenuidade. A única razão para essa divisão é econômica. Se fosse possível fazer seis filmes, certamente fariam.
Mas deixando as reclamações de lado, volto ao que considero a grande novidade de O Hobbit: ele será o primeiro filme a utilizar a filmagem e projeção a 48 quadros por segundo (fps), também conhecido como High Frame Rate.
E por que você, amante do cinema, deveria assistir O Hobbit nesse formato, mesmo que não seja fã do gênero? Vou listar cinco motivos:
1. O fator novidade:
Sempre me fascinei pela tecnologia por trás do cinema. Embora a maioria das inovações no audiovisual — do som ao High Frame Rate — tenha sido motivada por interesses econômicos, o desenvolvimento técnico em si é impressionante.
Pense na era dos filmes mudos, na revolução trazida pelo primeiro filme falado, The Jazz Singer, em 1927, ou na chegada do Technicolor. A introdução do 48 fps tem potencial para causar um impacto semelhante.
O padrão tradicional é de 24 quadros por segundo, cada quadro sendo projetado duas vezes, resultando em 48 imagens por segundo para criar a ilusão de movimento fluido. Isso funciona porque nossos olhos não conseguem distinguir intervalos quando a luz chega a cerca de 50 vezes por segundo.
Filmar e projetar a 48 fps significa, então, mostrar 48 quadros diferentes por segundo, o que aproxima a imagem da realidade, proporcionando maior imersão.
2. O fator 3D:
Tenho minhas reservas quanto à tecnologia 3D — na minha opinião, só funcionou realmente bem em poucos filmes — e um dos grandes inconvenientes são os óculos desconfortáveis e o escurecimento das imagens durante a projeção.
Isso ocorre porque, para o 3D funcionar, as imagens precisam ser mais escuras, e os óculos contribuem para essa percepção.
E o que os 48 fps têm a ver com isso? A maior fluidez e realismo proporcionados pelo High Frame Rate podem tornar o 3D mais eficiente e menos dependente dessa escuridão, o que foi uma das justificativas oficiais usadas por Peter Jackson e James Cameron para adotar essa tecnologia.
3. O fator efeitos práticos:
Tenho curiosidade para ver como um filme repleto de efeitos práticos, como O Hobbit, se comportará a 48 fps. Quando a TV de alta definição surgiu, os estúdios tiveram que reformular seus cenários para que funcionassem melhor com a nova resolução.
O cinema, apesar de sua alta qualidade, sempre manteve uma certa “atmosfera etérea” que diferencia seus filmes das produções televisivas.
Com os 48 fps, a tendência é que os filmes pareçam ainda mais realistas, o que levanta a questão: cenários fantásticos como os da Terra Média conseguirão manter a ilusão de realidade? As filmagens em locações naturais na Nova Zelândia certamente serão belíssimas, mas os cenários construídos em estúdio podem parecer menos convincentes, expondo artifícios.
Confio na habilidade de Peter Jackson, mas vale lembrar que essa é uma experiência pioneira, e alguns problemas podem surgir.
4. O fator efeitos especiais:
Assim como na trilogia anterior, O Hobbit utiliza muitos efeitos especiais digitais, seja para transformar atores em anões, criar criaturas fantásticas ou capturar performances.
É como inserir animações em um ambiente hiper-realista.
Será que, com 48 fps, esses efeitos digitais não se tornarão mais evidentes, quebrando a imersão e nos lembrando de que estamos diante de uma produção?
A Weta, empresa responsável pelos efeitos, é referência na área, mas essa nova tecnologia pode revelar limitações antes imperceptíveis.
5. O fator histórico:
Provavelmente, muitos leitores nunca presenciaram uma revolução técnica significativa no cinema, como a mudança no aspecto da tela, a chegada do filme falado, da cor ou até mesmo do 3D, que já existe há décadas.
A adoção do padrão de 48 fps em uma produção cinematográfica tem potencial para ser a maior inovação dos últimos 40 ou 50 anos.
E quem não gosta de fazer parte de uma pequena revolução, mesmo que seja só para dizer “eu estava lá”?
Convencido? Então nos vemos nas salas de cinema!
Perguntas Frequentes:
1. Por que O Hobbit foi dividido em três filmes, mesmo sendo um livro relativamente curto?
R: A divisão em três filmes é uma estratégia econômica para maximizar os ganhos financeiros, obrigando o público a pagar três vezes por uma história que poderia ser contada em um ou dois filmes. Essa decisão não foi motivada por razões artísticas.
2. O que é o High Frame Rate (48 fps) e por que ele é importante em O Hobbit?
R: O High Frame Rate significa filmar e projetar a 48 quadros por segundo, o dobro do padrão tradicional de 24 fps. Isso proporciona uma imagem mais fluida e próxima da realidade, aumentando a imersão do espectador e podendo melhorar a experiência em 3D ao reduzir o escurecimento das imagens.
3. Quais são os desafios e curiosidades da utilização de 48 fps em um filme cheio de efeitos práticos e digitais como O Hobbit?
R: A maior fluidez e realismo do 48 fps podem tornar cenários construídos em estúdio menos convincentes, expondo artifícios que antes passavam despercebidos. Além disso, efeitos digitais podem se tornar mais evidentes, quebrando a imersão. Essa é uma experiência pioneira que pode revelar limitações técnicas e exige habilidade dos realizadores.
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