A saga Era de Ultron (Age of Ultron) marcou a primeira grande publicação da Marvel dentro do projeto Marvel NOW!, adotando um formato ideal que todas as sagas deveriam seguir: uma série principal composta por 10 edições especiais que condensam toda a narrativa. Isso facilita muito a vida do leitor, que não precisa ficar procurando diversas revistas espalhadas para acompanhar a história completa.
Embora tenham existido alguns tie-ins, eles não tiveram impacto significativo na trama principal, então esta análise será focada exclusivamente nesses 10 números da saga Era de Ultron. Para contextualizar, o crítico já havia comentado os seis primeiros números em textos anteriores, mas aqui o objetivo é fazer uma avaliação ampla de toda a saga, substituindo as análises anteriores.
### Contextualizando Ultron
Para compreender bem a saga, é importante recuar um pouco e entender o histórico de Ultron, um dos maiores vilões dos Vingadores, que deve ser o antagonista principal do filme Vingadores 2, cujo subtítulo é justamente “Era de Ultron”. Embora Joss Whedon tenha esclarecido que o filme não será uma adaptação direta da saga dos quadrinhos de 2013, a expectativa em torno do personagem já existe há algum tempo.
A saga Era de Ultron vinha sendo aguardada desde pelo menos o início de 2012, embora as pistas sobre um evento desse tipo tenham sido lançadas no universo Marvel antes disso. Brian Michael Bendis, que escreveu a saga, já havia trabalhado com Ultron em histórias anteriores, como o arco “A Iniciativa Ultron”, onde o vilão reaparece com um corpo feminino esculpido, inspirado na Vespa, com arte de Frank Cho. Após ser derrotado, Ultron foi enviado para o espaço — literalmente.
Mas na Marvel, personagens importantes raramente ficam fora das páginas por muito tempo. Ultron retornou na saga “Aniquilação: Conquista”, comandando uma raça cibernética chamada Falange em um ataque ao povo Kree. A resistência formada pelos futuros Guardiões da Galáxia, junto com Nova, Phylla-Vell e um ressurgido Adam Warlock, conseguiu derrotar o vilão novamente.
Em 2010, com o relançamento da revista dos Vingadores na chamada Era Heróica, Bendis trouxe Ultron de volta para atormentar os heróis da Terra mais uma vez. Como esperado, Ultron foi derrotado, mas Bendis aproveitou para criar um gráfico intrigante, que mostrava uma linha do tempo do futuro do universo Marvel, incluindo eventos importantes como “A Essência do Medo”, “Cisma”, “Vingadores vs. X-Men” e até mesmo um reboot parcial com Marvel NOW!. No final desse gráfico, aparece a menção a uma “Guerra Ultron”, que seria a saga Era de Ultron. Antes mesmo dessa revelação, já havia indícios de um futuro sombrio nas histórias do Capitão América, escritas por Ed Brubaker, mostrando, inclusive, a destruição total de Nova Iorque.
Esse gráfico e os trabalhos de Brubaker sugeriam que havia um plano maior para o universo Marvel, onde vários eventos estariam interligados, criando um grande pacote de histórias que garantem público e vendas, mesmo que a qualidade nem sempre seja ideal.
Mais adiante, em 2011, Ultron reaparece rapidamente numa edição gratuita “ponto de entrada” para novos leitores, o Vingadores #12.1, novamente escrita por Bendis. Nesta, sua consciência é trazida de volta à Terra por meio de um Cavaleiro Espacial capturado pelo grupo de criminosos conhecido como Inteligência, que, apesar de se autointitular “gênios do crime”, são bastante ineficientes. Após perceber que precisa de um plano, Ultron desaparece, deixando Tony Stark desesperado com o futuro sombrio que se aproxima.
Também houve uma história envolvendo o corpo robótico de Ultron sendo contrabandeado pelo Conde Nefária, numa trama pouco usual envolvendo o Cavaleiro da Lua.
### Análise da Saga Era de Ultron
Sem avisar ou fazer muitos rodeios, Bendis inicia a saga golpeando o status quo do universo Marvel 616 — o universo principal da editora — com o poder destrutivo de Ultron. Logo na primeira página de Era de Ultron #1, com arte de Bryan Hitch, somos apresentados a uma Nova Iorque pós-apocalíptica, mas com a história acontecendo “hoje”. Essa abordagem quebra um pouco o padrão dos grandes eventos da Marvel, trazendo uma narrativa mais direta.
O projeto Marvel NOW! já estava em andamento havia cinco meses, e o último grande evento havia sido Vingadores vs. X-Men. Bendis surpreende ao começar a saga sem prelúdios ou explicações extensas, o que parecia promissor, mas o desenvolvimento acabou sendo controverso.
O primeiro número é excelente, focando no Gavião Arqueiro tentando resgatar o Homem-Aranha de um traficante chamado Cabeça de Martelo, que pretende vendê-lo para Ultron. A história leva o leitor por uma Nova Iorque destruída, onde os heróis sobreviventes vivem escondidos em um abrigo sob o Central Park.
No segundo número, a narrativa desacelera, apresentando o Cavaleiro da Lua e a Viúva Negra em São Francisco, também devastada, ampliando o escopo da catástrofe.
No entanto, o terceiro número repete a fórmula, mostrando outra equipe de heróis tentando se manter viva, desta vez em Chicago. Hulk Vermelho, Pantera Negra e Treinador tentam capturar um dos robôs sentinelas de Ultron. Bendis mostra sua característica brutalidade ao matar personagens com frequência, além de surpreender com uma revelação sobre quem estaria por trás dos acontecimentos — mas essa revelação acaba sendo trivial e sem impacto real na trama.
Além disso, as mortes começam a parecer exageradas e sem a devida importância, levantando questionamentos: por que um raio laser consegue eliminar um dos heróis mais poderosos do universo Marvel, enquanto uma explosão nuclear não tem o mesmo efeito em outro herói menos potente? As incongruências começam a se acumular.
Mais adiante, os poucos heróis que conseguem escapar vão para a Terra Selvagem para encontrar Nick Fury, que, infelizmente, reduz as expectativas dos leitores ao recorrer à velha solução da viagem no tempo para resolver a situação. Ultron estaria controlando tudo a partir do futuro, e os heróis precisam ir até lá para derrotá-lo. Até esse ponto, estamos na metade da saga, e Ultron quase nem apareceu.
Wolverine, mais pragmático, decide viajar secretamente ao passado para matar Hank Pym e evitar que Ultron seja criado, sendo acompanhado pela Mulher Invisível, que atua como sua consciência. O passado é ilustrado com um estilo artístico que remete à Era de Prata dos quadrinhos, com traços mais simples e cores vibrantes, conferindo um tom interessante à narrativa, mesmo que a ação seja moralmente controversa.
Como resultado, Wolverine altera a história do universo Marvel, criando um mundo onde Tony Stark representa a tecnologia e Morgana Le Fey a magia, em constante conflito. Esse novo mundo é ainda mais caótico que o original da Era de Ultron.
Porém, ao invés de retomar a narrativa no futuro onde os heróis estavam inicialmente, Bendis abandona essa linha temporal e passa a focar exclusivamente nessa nova realidade criada por Wolverine.
A partir daí, a saga se torna uma discussão filosófica e moral simplória, que não combina com os personagens e culmina em ações que fazem a história voltar praticamente ao ponto de partida, sem qualquer impacto real no universo Marvel 616. É como se Era de Ultron nunca tivesse acontecido, o que esvazia toda a força da saga. Curiosamente, Ultron quase não aparece durante a trama.
Para não dizer que não houve consequências alguma, os efeitos da história são sentidos no Universo Ultimate da Marvel, dando início a outra saga chamada Cataclisma — assunto para outra análise.
### Conclusão
Era de Ultron, apesar de ter seus momentos interessantes, acaba sendo uma saga inútil em termos de impacto e aproveitamento do potencial. Uma pena, considerando o material e as expectativas criadas.
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**Era de Ultron (Age of Ultron, EUA)**
Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Bryan Hitch, Brandon Peterson, Carlos Pacheco, Butch Guice, Alex Maleev, David Marquez, Joe Quesada
Cores: Paul Mounts
Editora (EUA): Marvel Comics (março a junho de 2013)
Editora (Brasil): ainda não publicado
Páginas: 504
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Sobre o autor: fã de filmes clássicos de ação e aventura, com referências que vão de Marion Cobretti a Sarah Connor, o crítico mistura sua paixão por cultura pop com análises de quadrinhos e cinema em suas colunas.
Perguntas Frequentes:
1. O que é a saga Era de Ultron e como ela foi estruturada dentro do projeto Marvel NOW!?
A saga Era de Ultron é um grande evento da Marvel Comics lançado em 2013, escrito por Brian Michael Bendis. Dentro do projeto Marvel NOW!, ela adotou um formato ideal com uma série principal composta por 10 edições especiais que condensam toda a narrativa, facilitando o acompanhamento da história sem a necessidade de buscar diversos tie-ins espalhados.
2. Qual o papel de Ultron na saga e como ele foi apresentado na história?
Ultron é o principal vilão da saga, um inimigo clássico dos Vingadores. A história começa mostrando um futuro pós-apocalíptico dominado por Ultron, mas ele aparece pouco durante a trama principal. A narrativa foca nos heróis tentando sobreviver e lidar com as consequências de suas ações, incluindo viagens no tempo para impedir a criação de Ultron, o que acaba criando realidades alternativas.
3. Quais foram as principais críticas e consequências da saga Era de Ultron?
Apesar de momentos interessantes e de uma abordagem inicial promissora, a saga foi criticada por incongruências na narrativa, mortes excessivas sem impacto real e um desenvolvimento que esvazia a trama, culminando em uma volta ao status quo sem mudanças significativas no universo Marvel principal. Contudo, a história gerou consequências no Universo Ultimate, dando origem à saga Cataclisma.
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