Nunca tinha ouvido falar dessa série, que acaba entrando na lista daquelas canceladas logo após a primeira temporada, como Firefly. Apesar de ser bem diferente da aventura de cowboys espaciais, Kings também é uma obra-prima e merece ser assistida. No caso de Kings, consigo entender melhor o motivo do cancelamento quase imediato, já que seus conceitos são bastante sofisticados e podem ser difíceis para o público em geral — embora isso possa ser uma impressão equivocada, afinal, The Wire, que comentei aqui diversas vezes, é igualmente complexa, senão mais, e ainda assim durou cinco temporadas — vai entender.
De qualquer forma, vale a pena correr atrás de Kings, pois a série merece ser vista, mesmo tendo sido interrompida precocemente, deixando várias pontas abertas e praticamente implorando por uma segunda temporada.
Lançada em 2009, com 12 episódios, a série reconta a história bíblica de Davi e Golias, mas ambientada nos tempos modernos, em um cenário que pode ser um pouco futurista e certamente situado em algum lugar do Oriente Médio, embora completamente fictício. Davi (interpretado com excelência por Christopher Egan) é um soldado que, em um ato heróico quase impulsivo, salva Jack Benjamin (Sebastian Stan), filho do rei Silas Benjamin (Ian McShane, perfeito no papel, conhecido por Deadwood), e enfrenta o Golias — um tanque de guerra ameaçador vindo das terras inimigas de Gath. Da noite para o dia, Davi se torna uma figura famosa e é acolhido pela família real, especialmente pela filha do rei, Michelle Benjamin (Allison Miller). Ao mesmo tempo, o rei enxerga em Davi uma possível ameaça ao seu trono, que ele acredita ter recebido diretamente de Deus e que não está disposto a abrir mão.
O que descrevi até aqui corresponde apenas ao primeiro episódio, que tem duração estendida de 90 minutos. A partir daí, a série se torna ainda mais envolvente, explorando as intrigas políticas do rei, do multimilionário William Cross (interpretado com maestria por Dylan Baker), que só deseja a guerra e não a paz, e, principalmente, da astuta rainha Rose Benjamin (Susanna Thompson), que remete a uma espécie de Lady Macbeth bíblica.
No meio desse cenário, temos o fiel e ingênuo Davi, sendo manipulado de várias formas, dividido entre a família real, seu amor e o pai dela. Para ele, resta amadurecer rapidamente e aprender da maneira mais dura que as pessoas em quem confia e por quem sempre lutou podem não ser exatamente o que parecem.
A série se destaca não apenas pelo roteiro coeso, bem estruturado e milimetricamente trabalhado, mas também pelas atuações marcantes dos atores principais já citados, além de Eamon Walker como o reverendo Ephram Samuels, um verdadeiro mensageiro de Deus com seus próprios pecados ocultos. Os cenários são bem utilizados, embora, em alguns momentos — especialmente na sala de audiências do rei, que serve de palco para diversos eventos — fique evidente que a produção enfrentou cortes financeiros significativos. Mas isso não compromete, pois o roteiro e as atuações são o que realmente importam.
As discussões sobre guerras em geral e os conflitos entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio, em particular, são o pano de fundo da série, tornando-a extremamente atual sem ser óbvia. A lenda de Davi também não é seguida literalmente — pelo menos pelo que conheço dela —, sofrendo as alterações necessárias para construir um drama eficiente.
É uma pena que provavelmente nunca veremos uma segunda temporada dessa bela produção. Mais uma história que fica incompleta, mas que merece estar entre as melhores já feitas.
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a premissa da série “Kings” e como ela reinterpreta a história bíblica de Davi e Golias?
– “Kings” é uma série lançada em 2009 que reconta a história bíblica de Davi e Golias ambientada em um cenário moderno e fictício no Oriente Médio. A trama acompanha Davi, um soldado que salva o filho do rei e enfrenta uma ameaça militar, tornando-se uma figura famosa e envolvendo-se em intrigas políticas da família real.
2. Por que a série “Kings” foi cancelada após a primeira temporada?
– Embora “Kings” apresente um roteiro sofisticado e atuações marcantes, seus conceitos complexos podem ter dificultado a aceitação pelo público em geral, contribuindo para seu cancelamento precoce após 12 episódios. Além disso, a produção enfrentou cortes financeiros que afetaram aspectos visuais, mas não comprometeram a qualidade do roteiro e da atuação.
3. Quais temas atuais a série “Kings” aborda e como eles são incorporados na história?
– A série aborda temas relevantes como guerras em geral e os conflitos entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio, utilizando esses elementos como pano de fundo para a trama. A narrativa não segue literalmente a lenda de Davi, fazendo adaptações para criar um drama contemporâneo e eficiente, sem ser óbvia em suas discussões.
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