A lenda dos caçadores da arca perdida
Nos últimos anos, o cineasta Guy Ritchie tem buscado se afastar, ou ao menos ampliar seu repertório para além do universo do crime que o consagrou, com filmes como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch: Porcos e Diamantes. Gosto da ousadia do diretor, que mantém uma trajetória marcada pela irregularidade: entre sucessos de bilheteria como Aladdin (2019) e fracassos como Guerra Sem Regras, Ritchie segue sendo imprevisível em termos de qualidade. Pessoalmente, prefiro vê-lo em seu ambiente habitual, como no recente Magnatas do Crime, mas sempre encaro suas novas obras com alguma expectativa, esperando um bom entretenimento através de sua abordagem estilizada e exagerada.
Sua mais recente produção, A Fonte da Juventude (2025), é um filme de aventura que abraça todos os clichês do gênero, inspirando-se tanto nos clássicos da franquia Indiana Jones quanto em filmes menos memoráveis como A Lenda do Tesouro Perdido. O resultado é um produto genérico para a era do streaming, que provavelmente será esquecido tão rápido quanto entrou no catálogo da Apple TV+.
Como o próprio título sugere, a história gira em torno da busca pela mítica fonte da juventude. O arqueólogo Luke (John Krasinski) e sua irmã Charlotte (Natalie Portman) partem em uma expedição financiada pelo ambicioso bilionário Owen Carver (Domhnall Gleeson), que está à beira da morte e desesperado para encontrar a fonte. Ao longo do caminho, eles enfrentam a Interpol, liderada pelo Inspetor Jamal Abbas (Arian Moayed), e uma sociedade secreta que protege o segredo, representada pela astuta Esme (Eiza González), a antagonista da trama. O roteiro, assinado por James Vanderbilt, não traz novidades ou reviravoltas surpreendentes, entregando uma aventura previsível que remete a fórmulas já muito exploradas.
O filme apresenta a clássica perseguição entre protagonistas e antagonistas, elementos fantásticos misturados a referências históricas e enigmas a serem desvendados, além de uma narrativa que circula por diferentes países, cenários exóticos e civilizações antigas. O design de produção merece destaque por criar ambientes imersivos e visualmente ricos. Também temos o típico herói carismático, sempre escapando de situações perigosas com um sorriso no rosto. Embora esses elementos já sejam conhecidos, eles poderiam resultar em um longa razoavelmente divertido, desde que bem executados. O problema é a falta de criatividade e uma trama cansativa, com diálogos excessivamente explicativos e personagens pouco cativantes, mesmo para um entretenimento leve.
Em certo momento, o personagem de Krasinski repete diversas vezes a frase “o que importa é a jornada, não o destino”, uma tentativa de dotar o roteiro de uma autoconsciência que acaba soando vazia. O texto é demasiadamente expositivo e didático, com diálogos artificiais que tentam ser irônicos ou metalinguísticos, mas sem sucesso ou diversão. Cada quebra-cabeça se torna um desafio para a paciência do espectador, com explicações simplistas e conveniências narrativas que não envolvem de fato. Os personagens são estereotipados e pouco interessantes: Krasinski diverte, mas não tem o carisma necessário para o papel principal; González interpreta uma mulher forte forçada; e Gleeson assume o vilão maniqueísta comum, com uma reviravolta previsível e moralista, já vista inúmeras vezes em histórias sobre a fonte da juventude.
A pior atuação fica por conta de Natalie Portman e seu filho, cujas participações são totalmente dispensáveis. A dinâmica entre os irmãos, que poderia trazer algo novo para a narrativa, não funciona e acaba apenas inflando um roteiro que poderia ser mais enxuto, focando em Luke e sua equipe. À medida que a trama avança, o interesse pelos personagens diminui junto com o entusiasmo pela busca da fonte. O problema não está em usar clichês, mas sim na ausência de vontade em torná-los divertidos.
A direção de Ritchie consegue disfarçar um pouco as falhas do roteiro. O diretor demonstra experiência em produções desse porte, apresenta alguns ângulos interessantes e consegue reproduzir uma ação com humor que lembra Steven Spielberg, aproveitando bem os cenários. Porém, nada disso é suficiente para prender a atenção do público. O terço final é especialmente monótono, com cenas em espaços fechados que limitam o estilo de Ritchie e evidenciam a narrativa formulaica. Chamar A Fonte da Juventude (2025) de uma produção derivativa é uma crítica simples, mas inevitável. O filme é exatamente isso, e ainda peca pela pouca inventividade no uso de elementos já batidos. É uma pena, pois o elenco e a equipe técnica são de qualidade. A impressão que fica é que todos estavam em busca de um bom pagamento, enquanto a Apple TV+ investia para ter um título fácil para seu catálogo, embora duvide que alguém se lembre do filme no próximo mês.
Ficha técnica:
A Fonte da Juventude (Fountain of Youth) | EUA, 22 de maio de 2025
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: James Vanderbilt
Elenco: John Krasinski, Natalie Portman, Eiza González, Domhnall Gleeson, Arian Moayed, Laz Alonso, Carmen Ejogo, Stanley Tucci
Duração: 125 minutos
Sobre o autor:
Minha jornada começou na Grand Line, passei pelo Templo do Ar do Leste, explorei o Monte da Justiça em Happy Harbour e mergulhei nas profundezas de Atlântida. Ainda estou em busca do One Piece. Ao longo das viagens, descobri mundos através das imagens dos quadrinhos, imaginei-os nas páginas dos livros e vivi suas histórias nas telas de cinema. Embora ainda não tenha alcançado Laugh Tale, aproveito cada passo do caminho.
Qual é a sinopse do filme “A Fonte da Juventude” dirigido por Guy Ritchie?
O filme acompanha a expedição do arqueólogo Luke (John Krasinski) e sua irmã Charlotte (Natalie Portman) em busca da mítica fonte da juventude, financiada pelo bilionário Owen Carver (Domhnall Gleeson). Durante a aventura, eles enfrentam a Interpol e uma sociedade secreta que protege o segredo da fonte, protagonizando uma trama de ação e mistério inspirada nos clássicos de aventura.
Como é avaliada a qualidade do roteiro e dos personagens em “A Fonte da Juventude”?
O roteiro, escrito por James Vanderbilt, é considerado previsível, cansativo e pouco criativo, com diálogos excessivamente explicativos e personagens estereotipados e pouco cativantes. Apesar de contar com elementos clássicos do gênero, a trama não surpreende e não consegue envolver o público, ficando aquém do potencial do elenco.
Qual é a opinião do crítico sobre a direção de Guy Ritchie no filme?
A direção de Guy Ritchie é vista como um ponto positivo que ajuda a disfarçar algumas falhas do roteiro. O diretor demonstra experiência e apresenta cenas de ação bem coreografadas e com humor, além de aproveitar cenários interessantes. Porém, sua abordagem não é suficiente para tornar o filme envolvente, especialmente no terço final, que é considerado monótono e limitado.
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