À luta!
Aos 26 anos, Sergei Eisenstein, influenciado pelo extenso elenco do Proletarskaia Kultura (Proletkult) e pelas teorias dramatúrgicas de Meyerhold, dirigiu seu primeiro longa-metragem, A Greve (1925). Este filme pioneiro apresenta uma visão educativa sobre a união dos trabalhadores contra a exploração e as injustiças nas fábricas, refletindo as lutas que antecederam a Revolução de Outubro de 1917. Com um tom revolucionário vigoroso, a obra captura o espírito da resistência coletiva, usando o cinema como instrumento de conscientização social. Inspirado em um episódio real – uma greve brutalmente reprimida na Rússia pré-revolucionária –, Eisenstein constrói uma narrativa que transcende o contexto local, representando qualquer movimento operário pressionado por interesses patronais, governamentais ou elitistas, o que garante sua relevância atemporal.
Baseado em uma paralisação coletiva do início do século XX, A Greve retrata com intensidade política e sofisticação estética o cotidiano das fábricas, as injustiças impostas pelos empregadores e fiscais, a mobilização dos operários, os dias de paralisação, a formulação de demandas coletivas, a reação dos acionistas e o trágico massacre dos manifestantes. Tudo isso é conduzido por meio da “montagem de atrações”, princípio central da teoria de Eisenstein, que destaca o protagonista coletivo em detrimento de personagens individuais. A narrativa visual, inovadora para a época, simboliza os primeiros passos do cinema soviético, ao mesmo tempo em que dialoga com inovações internacionais, oferecendo uma representação crua e poética da luta de classes. Apesar de apresentar algumas ambiguidades narrativas, que serão abordadas posteriormente, o filme mantém sua coesão temática.
Assistir a A Greve décadas depois de seu lançamento revela sua recusa em seguir uma narrativa convencional, preferindo defender uma ideia. Lançado num momento em que o cinema narrativo já estava consolidado e a chegada do som era iminente, o filme de Eisenstein não se rendeu às convenções vigentes. Ele funciona como um “cinema-punho”, um chamado à ação que ressoava fortemente em uma sociedade recém-saída da revolução e vivendo os primeiros anos da Nova Política Econômica (NEP). Essa ousadia gerou controvérsias: enquanto o Proletkult, o Partido Comunista e parte da sociedade soviética questionaram sua abordagem, a imprensa elogiou a inovação e a força dramática do diretor. Essa polarização evidencia o impacto de uma obra que, mesmo experimental, conseguiu transmitir sua mensagem com clareza e coragem.
O maior mérito de A Greve está na montagem, tanto nas metáforas visuais quanto no ritmo narrativo. Como obra política, o filme apresenta caricaturas incisivas — o “capitalista gordo” comparado a animais ou os espiões e traidores ridicularizados por meio de imagens visuais. Essas representações, contrapostas a cenários realistas, objetos, animais e elementos da natureza, revelam o cuidado minucioso de Eisenstein em criar paralelos visuais que reforçam seu discurso sem comprometer a unidade estética. Apesar da existência de sequências pontualmente confusas (como a interação dos grevistas com a campainha da fábrica, que sugere certa incoerência), o filme preserva sua integridade ideológica. Essa riqueza simbólica, aliada à plasticidade das cenas, demonstra a habilidade do diretor em transformar conceitos abstratos em imagens concretas e de forte impacto histórico.
A inteligência na composição visual, o fluxo harmonioso de ideias e a plasticidade das cenas — resultado do trabalho excepcional dos diretores de fotografia Vasili Khvatov, Vladimir Popov e Eduard Tisse — elevam A Greve a um marco do cinema mundial. A edição confere sentido final à obra, transformando uma ideia aparentemente simples em uma experiência cinematográfica poderosa. Embora haja exageros na representação dos “atores históricos” dos dois lados, esses elementos alimentam debates críticos e enriquecem a análise do filme. A Greve não apenas inaugura um novo modelo de fazer cinema, mas também estabelece a teoria de montagem de Eisenstein, que influenciaria gerações de cineastas. Sua importância histórica, estética e política permanece incontestável, consolidando-o como uma obra essencial em múltiplas dimensões.
A Greve (Stachka) – União Soviética, 1925
Direção: Sergei M. Eisenstein
Roteiro: Sergei M. Eisenstein, Grigori Aleksandrov, Ilya Kravchunovsky, Valerian Pletnev
Elenco: Maksim Shtraukh, Grigori Aleksandrov, Mikhail Gomorov, I. Ivanov, Ivan Klyukvin, Aleksandr Antonov, Yudif Glizer, Anatoliy Kuznetsov, Vera Yanukova
Duração: 82 min.
Sou especialista em Cronoanálise Aplicada e Metanarrativas Interdimensionais. Formado em Jadoo de Clio (Casa Corvinal) e com pós-doutorado em Psicohistória Avançada (Fundação Seldon), sou portador do Incal e atuo como historiador-chefe em Astro City, mapeando civilizações críticas. Atualmente, exilado interdimensionalmente, desenvolvo protocolos de resistência psíquica e coordeno operações linguísticas em Torchwood, decifrando sistemas de comunicação audiovisual e pluriliterárias. Utilizo minha TARDIS como base para simulações estratégicas da Agência Alfa, convertendo crises cósmicas em modelos previsíveis sob a perspectiva Mystère. Também colaboro na transição para Edena com o Dr. Manhattan, promovendo mudanças no eixo ontológico universal rumo ao encontro definitivo com a Presença.
Qual é a importância histórica e política do filme “A Greve” (1925) dirigido por Sergei Eisenstein?
“A Greve” é um marco do cinema soviético que retrata a luta coletiva dos trabalhadores contra a exploração e injustiças nas fábricas antes da Revolução de Outubro de 1917. O filme utiliza o cinema como instrumento de conscientização social, apresentando uma visão revolucionária e atemporal da resistência operária. Sua montagem inovadora e simbolismos visuais reforçam o discurso político, tornando-o uma obra essencial para entender as relações de classe e a história do cinema.
Como a técnica da “montagem de atrações” é aplicada em “A Greve” e qual seu impacto na narrativa do filme?
A “montagem de atrações”, princípio central da teoria de Eisenstein, destaca o protagonista coletivo em vez de personagens individuais, combinando imagens simbólicas, caricaturas e cenas realistas para criar um impacto emocional e intelectual. Em “A Greve”, essa técnica constrói uma narrativa visual poderosa que transforma conceitos abstratos em imagens concretas, reforçando a mensagem política e elevando a experiência cinematográfica.
Quais foram as reações contemporâneas ao lançamento de “A Greve” e por que o filme gerou controvérsias?
Ao ser lançado em 1925, “A Greve” causou polarização: enquanto o Proletkult, o Partido Comunista e parte da sociedade soviética criticaram sua abordagem experimental e não convencional, a imprensa elogiou a inovação estética e a força dramática do diretor. O filme recusou a narrativa tradicional e o uso do som, funcionando como um “cinema-punho” que convocava à ação, gerando debates sobre sua adequação política e artística no contexto da Nova Política Econômica da época.
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