A vida tumultuada de dois agentes do FBI
“Makin’ my way downtown, walkin’ fast
Faces pass and I’m homebound
Starin’ blankly ahead, just makin’ my way
Makin’ a way through the crowd
And I need you
And I miss you
And now I wonder
If I could fall
Into the sky
Do you think time
Would pass me by?
‘Cause you know I’d walk a thousand miles
If I could just see you
Tonight…” – trechos iniciais da canção ‘A Thousand Miles’, de Vanessa Carlton, que integra a trilha sonora do filme.
Apesar de não ter sido bem recebido pela crítica americana, o longa “As Branquelas” é um sucesso garantido na Sessão da Tarde da Rede Globo e conquistou o público brasileiro. Longe de seguir o politicamente correto, essa comédia pastelão remete a clássicos dos anos 2000, como “American Pie” (1998) e “Vovó… Zona” (2000), sendo uma obra para descontrair e se divertir. Desde seu lançamento em 2004, conhecido mundialmente como “White Chicks”, o filme coleciona críticas negativas e polêmicas, incluindo cinco indicações ao Framboesa de Ouro, prêmio que destaca as piores produções do cinema americano. No entanto, por aqui, o longa rendeu inúmeros memes e continua entre os assuntos mais comentados nas redes sociais sempre que é exibido na TV aberta ou disponibilizado em plataformas de streaming.
Dirigido por Keenen Ivory Wayans, a trama acompanha os irmãos agentes do FBI Kevin e Marcus Copeland, interpretados por Shawn e Marlon Wayans, respectivamente. Para proteger as irmãs mimadas Brittany e Tiffany Wilson (vividas por Maitland Ward e Anne Dudek) de uma ameaça de sequestro ligada ao pai delas, os irmãos se disfarçam das herdeiras loiras. A caracterização convincente, inspirada em socialites como Paris Hilton, e a atuação equilibrada evitam exageros caricatos, conferindo humanidade aos personagens. O resultado é uma performance divertida que provoca boas risadas.
A situação se complica quando os irmãos se deparam com as rivais das Wilson: as irmãs Heather e Megan Vandergeld, interpretadas por Jaime King e Brittany Daniel. As trocas de provocações entre elas são um dos pontos altos do filme, com destaque para as cenas cheias de confusões, como as difamações às mães e as coreografias na pista de dança, que chegam a incluir movimentos impressionantes, como girar de cabeça para baixo. O filme transforma situações tolas, como um simples arroto, em momentos hilários, invertendo padrões sociais relacionados a etiqueta, sexo e disputas femininas por status. Dessa forma, “As Branquelas” quebra o molde conservador ao apresentar personagens que fogem das normas tradicionais, com relacionamentos e estilos de vida livres de rótulos.
Outro destaque é a dublagem brasileira, que conquistou os fãs locais ao dar um tom irreverente e único às piadas, algo que não se percebe ao assistir na versão original. A tradução e interpretação dos dubladores brasileiros conferem uma personalidade própria ao filme, reconhecida internacionalmente — assim como ocorreu em “Procurando Nemo” (2003) e na série “Família Dinossauro” (1991). Pequenos detalhes, como a cena no provador onde a falsa Brittany ameaça chamar a saudosa Hebe Camargo para ajudar com as roupas, aproximam o público brasileiro da trama, dando a sensação de que o filme poderia ter sido gravado por aqui.
A obra também funciona como uma sátira da burguesia, retratando a vida fútil dos ricos de maneira exagerada e cômica. É um alívio cômico rir das superficialidades dos “privilegiados”, como o absurdo motivo de faltar a um evento por pequenos machucados no rosto que poderiam ser disfarçados com maquiagem. A trilha sonora pop, com hits como “A Thousand Miles” (Vanessa Carlton), “Crazy in Love” (Beyoncé), “This Love” (Maroon 5) e “Satisfaction” (Benny Benassi), contribui para o clima descontraído e dançante do filme, protagonizado por personagens que não se intimidam em soltar piadas carregadas de sexismo, racismo e estereótipos de gênero — algo que hoje em dia certamente geraria polêmica e cancelamento nas redes sociais, mostrando o quanto o filme envelheceu, apesar de continuar sendo adorado por muitos.
Além disso, “As Branquelas” contém elementos problemáticos, como a objetificação feminina em um leilão, encontros forçados, assédio, tentativas de dopar personagens, e a generalização das mulheres loiras como burras e ciumentas. Com a evolução da consciência social, práticas como o uso de blackface e whiteface são hoje inaceitáveis. O filme parece ter sido feito para um público que aprecia um humor jovem e politicamente incorreto, não devendo ser levado tão a sério. Caso contrário, correria o risco de ser cancelado e esquecido em poucos anos. Ainda assim, a sátira de temas universais permanece atual e relevante para o debate sobre o progresso social.
Dessa forma, “As Branquelas” exemplifica como a comédia pode abordar questões sociais e humanas, mesmo que de forma ingênua e exagerada. Os irmãos Wayans, produtores do filme, citaram como inspiração a clássica comédia “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), estrelada por Marilyn Monroe, na qual dois músicos se disfarçam de mulheres para escapar de mafiosos. Diferentemente daquela obra, em “As Branquelas” o disfarce consiste em uma maquiagem exagerada, culminando em um desfecho simples onde as personagens prometem se reunir para fazer compras junto com os rapazes.
No começo deste ano, foi anunciada a produção de “As Branquelas 2”, uma repaginação da história para os tempos atuais. Marlon Wayans confirmou que, após concluir “Todo Mundo em Pânico 6”, este será seu próximo projeto, com planos de filmar cenas no Brasil e até incluir a cantora Anitta em um show no Rio de Janeiro. Ainda não há elenco confirmado nem data de início das filmagens ou lançamento global. Resta aguardar para ver como será a nova trama, se as piadas serão atualizadas e como será a caracterização das famosas “branquelas”. A expectativa é que a continuação mantenha o sucesso da primeira, especialmente em relação às cenas memoráveis e à trilha sonora que convida o público a cantar e dançar. Fica a dúvida: o humor politicamente incorreto continuará presente ou teremos uma comédia menos exagerada?
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“As Branquelas” (White Chicks) | EUA, 2004
Direção: Keenen Ivory Wayans
Roteiro: Keenen Ivory Wayans, Shawn Wayans, Marlon Wayans, Andrew McElfresh, Michael Anthony Snowden, Xavier Cook
Elenco: Shawn Wayans, Marlon Wayans, Jaime King, Frankie Faison, Lochlyn Munro, John Heard, Busy Philipps, Terry Crews, Brittany Daniel, Eddie Velez, Jessica Caufield, Maitland Ward, Anne Dudek, Rochelle Aytes, Jennifer Carpenter, Faune Chambers Watkins, John Reardon, Steven Grayhm
Duração: 114 minutos
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Sou fã de séries desde 2010 e sempre que descubro trilhas sonoras marcantes, como a de “The O.C.”, não consigo deixar de escrever sobre personagens e histórias envolventes. Estou ansioso por convites imaginários, seja para ajudar Dean e Sam Winchester em suas caçadas sobrenaturais no Impala 1967, seja para integrar a equipe médica do hospital público em “Sob Pressão”. Enquanto isso, acompanho principalmente produções nacionais, que ainda são pouco valorizadas, mas têm seu público fiel, como o sonhador “Boyhood” (2014), estrelado por Arthur Barbosa.
Perguntas Frequentes:
- Qual é a trama principal do filme “As Branquelas” e quem são os protagonistas?
O filme acompanha os irmãos agentes do FBI Kevin e Marcus Copeland, interpretados por Shawn e Marlon Wayans, que se disfarçam das socialites Brittany e Tiffany Wilson para proteger as irmãs de uma ameaça de sequestro. A história mistura comédia pastelão com sátira social. - Quais são os principais temas polêmicos abordados em “As Branquelas” e como eles são tratados?
O filme traz humor politicamente incorreto que inclui piadas sobre sexismo, racismo, estereótipos de gênero, objetificação feminina e o uso de blackface/whiteface. Embora esses elementos sejam problemáticos e hoje considerados inaceitáveis, a obra funciona como sátira e reflete uma época em que tais conteúdos eram mais tolerados. - Há previsão para uma continuação de “As Branquelas”?
Sim, foi anunciada a produção de “As Branquelas 2”, com Marlon Wayans confirmando que será seu próximo projeto após “Todo Mundo em Pânico 6”. A nova história terá cenas gravadas no Brasil, possivelmente com participação da cantora Anitta, mas ainda não há elenco ou data de lançamento definidos.
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