Em um gênero tão saturado quanto o de filmes pós-apocalípticos, especialmente aqueles que abordam a fúria e a desumanização, é um feito notável quando uma obra consegue redefinir os parâmetros e insuflar nova vida em clichês desgastados. A saga “Extermínio”, iniciada em 2002 por Danny Boyle, sempre se destacou por sua crueza e urgência visceral, muito antes de os “zumbis corredores” se tornarem uma constante no imaginário popular. Agora, com “Extermínio: A Evolução”, Boyle retorna à cadeira de diretor, ao lado do roteirista Alex Garland, para explorar um mundo vinte e oito anos depois do surto inicial, prometendo uma reavaliação do terror, da esperança e da própria natureza humana. O filme não é apenas uma continuação tardia, mas uma meditação profunda sobre o que resta da civilização quando a barbárie se torna a norma, e a adaptação é a única chave para a sobrevivência.
A essência do roteiro de Alex Garland, reconhecido por sua habilidade em dissecar complexidades humanas em cenários de ficção científica, reside na exploração das nuances da resiliência e da corrupção em um mundo desolado. Vinte e oito anos se passaram desde que o vírus da raiva transformou a Grã-Bretanha em um cenário de horror. A premissa central de “Extermínio: A Evolução” situa-se em comunidades isoladas que, após quase três décadas, aprenderam a coexistir com o perigo constante, muitas vezes fortificadas em ilhas ou em redutos protegidos. A narrativa se aprofunda quando um dos personagens se aventura para o continente em uma missão, descobrindo que a evolução não atingiu apenas os infectados, mas também os sobreviventes, revelando segredos e mutações que desafiam a compreensão. Há uma busca por um médico para uma mãe moribunda, revelando a persistência do afeto e da desesperança em meio ao caos. O enredo se tece com uma tensão palpável, questionando se a maior ameaça reside nas criaturas desumanizadas ou nos próprios humanos que, em sua ânsia por sobrevivência, podem se tornar igualmente cruéis. A escolha de situar a trama em um futuro tão distante do surto original permite ao filme investigar as consequências de longo prazo da catástrofe, algo que raras obras do gênero ousam fazer com tal profundidade.
A direção de Danny Boyle é um espetáculo à parte, mantendo a intensidade frenética que se tornou sua marca registrada, mas adicionando camadas de um drama quase contemplativo. Boyle não apenas orquestra sequências de ação de tirar o fôlego, com os infectados em seu ritmo implacável, mas também constrói momentos de silêncio e reflexão que ressaltam a desolação e a fragilidade dos personagens. A cinematografia de Anthony Dod Mantle, conhecida por sua abordagem arrojada e por capturar a sujeira e a beleza em igual medida, confere ao filme uma estética visual perturbadora e deslumbrante. Os vastos e desolados cenários da Inglaterra pós-apocalíptica são transformados em personagens por si só, transmitindo uma sensação de isolamento e perigo iminente. A trilha sonora, com a ousadia de contar com o grupo Young Fathers, rompe com as expectativas e cria uma paisagem sonora que é ao mesmo tempo desconfortável e instigante, complementando a narrativa visual sem sobrecarregá-la.
O elenco principal, que inclui Jodie Comer, Aaron Taylor-Johnson e Ralph Fiennes, entrega performances que elevam o material para além de um simples terror de sobrevivência. Jodie Comer, em particular, irradia uma força e vulnerabilidade que a tornam o coração emocional do filme, enquanto Aaron Taylor-Johnson traz uma dimensão de desespero e resiliência que impulsiona a trama. Ralph Fiennes, com sua presença magnética, encarna um personagem que pode ser tanto um farol de esperança quanto uma figura ambígua, adicionando complexidade moral à narrativa. Os atores conseguem transmitir a exaustão física e psicológica de viver em um mundo à beira do colapso, onde a esperança é uma moeda rara e a perda é constante. É notável como a química entre eles se traduz em momentos de genuína emoção, tornando as apostas ainda mais altas. Para explorar mais sobre o universo dos filmes e séries, plataformas como AdoroCinema oferecem vasto conteúdo.
“Extermínio: A Evolução” é um filme que, embora mantenha as raízes de terror e ação de seus predecessores, se aprofunda em questões filosóficas sobre o que nos torna humanos quando tudo mais é tirado. É uma obra que se beneficia imensamente do distanciamento temporal do surto original, permitindo-lhe especular sobre as novas formas de vida, as mutações do vírus e as adaptações da sociedade. Ele não oferece respostas fáceis, preferindo lançar perguntas incômodas sobre a capacidade da humanidade de aprender com seus erros ou de sucumbir repetidamente à própria natureza violenta. Para aqueles que apreciam filmes com essa profundidade e tensão, muitas opções estão disponíveis em serviços de streaming como Netflix, HBO Max, Prime Video, Disney+ e Paramount+, entre outros. O filme é um testemunho da visão de Danny Boyle e Alex Garland, que conseguem, mais uma vez, criar um terror que é tanto físico quanto existencial, um lembrete sombrio da fragilidade da civilização e da força inabalável do espírito humano. É uma experiência cinematográfica que ressoa muito além da sala escura, convidando à reflexão sobre a própria condição humana em um cenário de desespero.
Extermínio: A Evolução (28 Years Later – Reino Unido, Estados Unidos, 2025)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Jodie Comer, Aaron Taylor-Johnson, Ralph Fiennes
Duração: 126 min.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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