O Universo Cinematográfico Marvel (MCU) alcançou um ponto de virada, e a chegada de “Thunderbolts*” marca uma tentativa ousada de redefinir o que significa ser um “herói” nesse vasto cosmos de histórias. Sob a batuta de Jake Schreier, que nos presenteou com narrativas sensíveis em trabalhos anteriores, o filme se propõe a ser mais do que uma simples aventura de superpoderes, explorando as fissuras e os lados sombrios de figuras conhecidas do público. É um convite a olhar para os desajustados, os esquecidos e aqueles cujos passados são mais manchados do que reluzentes.
A trama de “Thunderbolts*” tece uma tapeçaria complexa de moralidade ambígua, reunindo um grupo de anti-heróis para uma missão governamental perigosa, orquestrada pela enigmática Valentina Allegra de Fontaine. A equipe é composta por figuras como Yelena Belova, Bucky Barnes, Guardião Vermelho, Fantasma, Treinadora e John Walker, todos eles com cicatrizes profundas e histórias de redenção ainda não concluídas. O roteiro, assinado por Eric Pearson e Joanna Calo, com a contribuição de Lee Sung Jin, mergulha nas profundezas desses personagens, forçando-os a confrontar seus traumas e a essência de suas identidades. O filme não se esquiva de mostrar a dificuldade de confiar em si mesmos e nos outros, construindo uma narrativa que se afasta do heroísmo tradicional para abraçar a complexidade humana.
A direção de Jake Schreier é fundamental para estabelecer o tom agridoce de “Thunderbolts*”. Ele evita os clichês do gênero, optando por uma abordagem que valoriza o drama pessoal e as interações disfuncionais da equipe. A escolha de Schreier, cujos trabalhos anteriores incluíram produções com uma forte veia dramática e de desenvolvimento de personagens, como visto em projetos que foram aclamados, inclusive em plataformas como a Netflix, permite que o filme respire para além das sequências de ação. Há uma atenção perceptível aos detalhes visuais e à construção de uma atmosfera que reflete o estado de espírito fragmentado dos protagonistas.
O elenco brilha com performances notáveis. Florence Pugh, como Yelena Belova, lidera o grupo com uma mistura de sarcasmo e vulnerabilidade, consolidando sua posição como uma das atrizes mais cativantes da nova geração do MCU. Sebastian Stan entrega um Bucky Barnes que continua a lutar contra seu passado sombrio, enquanto David Harbour traz o carisma e a complexidade paternal de Guardião Vermelho. Wyatt Russell, como o Agente Americano, oferece uma performance multifacetada de um personagem que busca seu lugar em um mundo que o rejeitou. A química entre esses atores, muitos deles reprisando papéis que desenvolveram ao longo de anos no universo Marvel, é palpável e eleva o impacto emocional do filme. A presença de Julia Louis-Dreyfus como Valentina Allegra de Fontaine adiciona um toque de intriga e manipulação, sendo ela a força motriz por trás da formação dessa equipe inusitada.
Os aspectos técnicos de “Thunderbolts*” contribuem significativamente para a imersão na história. A cinematografia de Andrew Droz Palermo utiliza uma paleta de cores que se inclina para tons mais sóbrios e realistas, sublinhando a natureza mais sombria da trama. As cenas de ação são bem coreografadas e impactantes, sem ofuscar o desenvolvimento dos personagens. A trilha sonora, composta por Son Lux, complementa a narrativa com arranjos que variam do melancólico ao tenso, reforçando os arcos emocionais dos personagens e a tensão das missões. É um trabalho que demonstra como os elementos visuais e sonoros podem se unir para enriquecer a profundidade de uma história.
Um detalhe que intrigou o público desde o anúncio do filme foi o asterisco no título: “Thunderbolts“. Esse elemento, que gerou muita especulação, é inteligentemente desvendado ao final da projeção, revelando uma reviravolta que projeta a equipe para um novo patamar dentro do MCU, aludindo a uma potencial renomeação para “Os Novos Vingadores”. Isso não apenas sublinha a importância do filme para o futuro da Fase 5 do universo Marvel, mas também serve como uma metáfora para a própria jornada dos personagens: um grupo de indivíduos marcados que, talvez, possam se transformar em algo maior e mais significativo. A produção é distribuída pela Walt Disney Studios Motion Pictures, e após sua exibição nos cinemas, “Thunderbolts” estará disponível para streaming na plataforma Disney+.
“Thunderbolts” é um filme que arrisca e, em grande parte, acerta. Ao focar em anti-heróis e em suas lutas internas, o longa oferece uma “lufada de ar fresco” para o MCU, como observado pelo AdoroCinema, após um período de recepções mistas. Ele encerra a Fase 5 com uma nota de esperança sombria, mostrando que mesmo os mais quebrados podem encontrar um propósito e, talvez, um caminho para a redenção. É uma obra que prova que o heroísmo pode vir de lugares inesperados e que as imperfeições podem ser a maior força de um time. “Thunderbolts” não é apenas um filme de ação; é um estudo de personagens, um mergulho na psique de figuras que foram exploradas em suas próprias produções e que agora se unem para escrever um novo capítulo, um capítulo que, apesar de suas falhas, ressoa com uma autenticidade bem-vinda e emocionante.
Thunderbolts* (Thunderbolts* – Estados Unidos, 2025)
Direção: Jake Schreier
Roteiro: Eric Pearson, Joanna Calo
Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, David Harbour, Wyatt Russell, Olga Kurylenko, Hannah John-Kamen, Lewis Pullman, Julia Louis-Dreyfus
Duração: 126 min.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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