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Review Marvel Zumbis: 1ª Temporada

A entrada da Marvel Studios no universo da animação adulta, com “Marvel Zumbis: 1ª Temporada”, representa um movimento audacioso e intrigante, distanciando-se, em certa medida, da fórmula familiar que cimentou seu império cinematográfico. Sob a batuta de Bryan Andrews na direção e Zeb Wells como roteirista principal, a série não se contenta em ser uma mera ramificação de “What If…?”, mas busca consolidar um espaço próprio, mais visceral e sombrio, dentro do vasto multiverso Marvel. O projeto, que amadureceu de um episódio pontual para uma minissérie de quatro capítulos, mergulha os espectadores em uma realidade onde os heróis mais poderosos da Terra sucumbiram a uma praga zumbi, redefinindo as noções de heroísmo e sobrevivência em um cenário apocalíptico. Este não é apenas um espetáculo de superpoderes contra mortos-vivos, mas uma reflexão sobre a resiliência humana e as consequências devastadoras de um mundo onde a esperança é uma moeda rara.

Desde os primeiros momentos, a série estabelece um tom de urgência e desespero, herdando a linha do tempo alternativa introduzida no episódio “What If… Zombies?!” e expandindo-a com uma brutalidade antes restrita às páginas dos quadrinhos. A decisão de atribuir-lhe a classificação etária TV-MA (para maiores de 15 anos nos EUA) é um testemunho da intenção dos criadores de explorar o horror sem as amarras das produções mais acessíveis do MCU. O roteiro de Zeb Wells, co-criador da série, habilmente constrói uma narrativa onde a desolação é palpável, e cada encontro com um zumbi superpoderoso é uma luta pela mera existência. A premissa, embora não revolucionária no gênero zumbi, ganha nova vida ao ser aplicada a ícones da cultura pop, forçando o público a confrontar versões distorcidas e grotescas de figuras que antes inspiravam segurança. A trama segue um grupo de sobreviventes improvável, liderado por Kamala Khan, a Ms. Marvel, em uma busca desesperada por uma cura ou, ao menos, um refúgio, enquanto enfrenta as hordas de heróis e vilões zumbificados, com a Feiticeira Escarlate, agora a Rainha dos Mortos, emergindo como uma força de terror inigualável.

A direção de Bryan Andrews, que também serviu como showrunner, é crucial para a intensidade da série. Andrews, com sua experiência em “What If…?”, demonstra uma compreensão nítida de como extrair o máximo do formato animado para criar sequências de ação dinâmicas e momentos de horror genuíno. A animação, que mantém o estilo cel-shaded (2.5D) visto em “What If…?”, utiliza modelos 3D renderizados com iluminação 2D para simular desenhos planos, conferindo um visual distinto e familiar ao mesmo tempo. Contudo, enquanto as cenas de combate se beneficiam enormemente dessa abordagem, apresentando uma estética que por vezes beira a de um anime bombástico, os momentos de maior carga dramática ocasionalmente sofrem com a rigidez das expressões faciais dos personagens, o que pode prejudicar a imersão emocional. Há, no entanto, um equilíbrio na balança: a série não hesita em mostrar sangue, decapitações e carnificina, abraçando o gore de forma mais explícita do que o usual em produções Marvel, o que reforça o clima de apocalipse e aposta na satisfação dos fãs mais ávidos por um terror sem concessões.

O elenco de vozes é um dos pilares que sustentam a ponte entre esta realidade distópica e o Universo Cinematográfico Marvel que conhecemos. Nomes como Iman Vellani (Ms. Marvel), Dominique Thorne (Coração de Ferro), Hailee Steinfeld (Kate Bishop), Florence Pugh (Yelena Belova), David Harbour (Guardião Vermelho), Simu Liu (Shang-Chi), Elizabeth Olsen (Feiticeira Escarlate) e Paul Rudd (Homem-Formiga) retornam para emprestar suas vozes aos personagens, muitos reprisando seus papéis de produções live-action. Essa continuidade vocal é um acerto, pois infunde uma camada de familiaridade e gravidade nas performances, mesmo quando os heróis são transformados em monstros ou confrontados com horrores inimagináveis. A dublagem ajuda a mitigar algumas das limitações visuais da animação, conferindo profundidade e emoção aos diálogos, que, por vezes, são expositivos mas necessários para avançar a trama em um cenário tão transformado. A aparição de personagens como Blade, mesclado ao avatar de Khonshu, e a presença de T’Challa, embora silente em respeito ao legado de Chadwick Boseman, demonstram a liberdade criativa e a profundidade da exploração que a série se permite.

“Marvel Zumbis” não busca reinventar o gênero de horror, mas sim aplicar suas convenções a um universo já estabelecido, explorando o potencial inesgotável do multiverso para contar histórias sem as amarras da continuidade principal. A série é uma experiência de horror e ação, que, em sua brevíssima primeira temporada de quatro episódios, entrega um “mini-filme evento”, como o diretor Bryan Andrews descreveu. Sua curta duração, aproximadamente 126 minutos no total, é tanto uma força quanto uma limitação, pois condensa a narrativa e a ação, mas pode deixar o espectador desejando mais desenvolvimento em certos arcos ou personagens. A ousadia em apresentar uma versão mais sombria e violenta de seus heróis e de seu universo demonstra uma maturidade narrativa da Marvel, que se arrisca em terrenos menos explorados. Embora possa não inovar fundamentalmente o gênero zumbi, a série se destaca por sua execução dentro do contexto Marvel, entregando um produto que é ao mesmo tempo familiar e chocantemente novo, digno de apreciação por aqueles que buscam uma dose de horror e ação desenfreada com seus personagens favoritos.

Marvel Zumbis: 1ª Temporada (Marvel Zombies – Estados Unidos, 2025)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Zeb Wells
Elenco: Iman Vellani, Dominique Thorne, Hailee Steinfeld, Florence Pugh, David Harbour, Simu Liu, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Randall Park, Awkwafina, Tessa Thompson, Wyatt Russell, Todd Williams, Hudson Thames, Feodor Chin
Duração: 126 min.
Nota: ⭐⭐⭐⭐