Análise Crítica do Filme Critica Meio Sol Amarelo: Vale a Pena Assistir?
Na escola, aprendemos que o continente africano foi fragmentado pela colonização europeia, sem levar em conta aspectos étnicos ou religiosos, mas apenas interesses econômicos. Com a redução do interesse europeu, esses países artificiais começaram a se desintegrar, resultando em inúmeros conflitos e atrocidades que persistem até hoje.
O filme “Meio Sol Amarelo” retrata a Guerra Civil Nigeriana, também conhecida como o conflito entre a Nigéria e Biafra, que ocorreu entre 1967 e 1970. Inspirado no romance homônimo da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, publicado em 2006 e considerado uma das obras de ficção mais importantes sobre o tema, o longa foca na relação entre duas irmãs da elite nigeriana logo após a independência do país, conquistada em 1960.
A Nigéria é um país extremamente diverso, composto por centenas de grupos étnicos e tribos. As protagonistas, Olanna (Thandie Newton) e Kainene (Anika Noni Rose), pertencem à etnia Igbo, dominante no sudeste do país, uma região rica em petróleo e alvo de disputas. Enquanto Kainene se envolve nos negócios da família, Olanna vai estudar em uma cidade mais distante para ficar perto de seu namorado Odenigbo (Chiwetel Ejiofor), um intelectual engajado.
O filme surpreende, negativamente, ao focar demais nas relações pessoais das irmãs — como o romance de Olanna com Odenigbo e o de Kainene com o britânico Richard (Joseph Mawle) — em detrimento da representação do conflito em si. A ideia era mostrar a guerra pelo olhar de pessoas comuns da etnia Igbo, que foi massacrada pela tribo Hausa. No entanto, essa abordagem perde força ao dedicar muito tempo à construção dos personagens e seus ambientes, sem relacioná-los diretamente às tensões étnicas crescentes no país.
“Meio Sol Amarelo” não se propõe a ser um filme de guerra. Não há cenas tradicionais de batalhas, soldados ou armamentos; apenas algumas explosões são mostradas. Isso faz com que o público tenha dificuldade em se conectar à luta dos personagens e aos eventos que se seguem, como a breve existência da República de Biafra, resultado da tentativa de secessão não aceita pela Nigéria. A narrativa mostra os fatos, mas não os faz sentir.
Os dramas pessoais, no entanto, funcionam bem. Por exemplo, a mãe de Odenigbo (interpretada por Onyeka Onwenu) acusa Olanna de bruxaria e tenta separá-los, e o personagem Ugwu (John Boyega), empregado de Odenigbo, emociona quando é dado como morto. Esses momentos ajudam a ilustrar as tensões raciais, mas não apresentam uma visão ampla da Nigéria antes da guerra.
A produção é caprichada, com filmagens em locações reais e reconstruções históricas que impressionam pela autenticidade. Ao longo do filme, vemos a vida confortável de Olanna e Odenigbo desmoronar de forma natural, com mudanças sutis no cenário e figurino. O diretor estreante Biyi Bandele mantém o tom intimista mesmo quando a guerra se intensifica e quando Olanna é acolhida por Kainene, que não perde sua postura empresarial.
As atuações são convincentes, especialmente as de Onyeka Onwenu e John Boyega, que trazem grande autenticidade aos seus papéis. Os demais atores, como Chiwetel Ejiofor e Thandie Newton, têm boa química, embora suas interpretações não sejam particularmente memoráveis.
A escolha de focar nos conflitos pessoais acaba criando uma barreira que impede que o horror da Guerra Civil Nigeriana seja plenamente sentido. Isso dilui o impacto do filme em termos de denúncia social e relevância histórica. Resta uma bela produção e boas atuações, mas Biyi Bandele perde a chance de criar um épico mais profundo e consistente.
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**Meio Sol Amarelo** (Half of a Yellow Sun, Nigéria/Reino Unido – 2013)
Direção: Biyi Bandele
Roteiro: Biyi Bandele, Chimamanda Ngozi Adichie (romance)
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Thandie Newton, Anika Noni Rose, Joseph Mawle, John Boyega, Hakeem Kae-Kazim, Onyeka Onwenu
Duração: 111 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é o contexto histórico retratado no filme “Meio Sol Amarelo”?
O filme retrata a Guerra Civil Nigeriana (1967-1970), também conhecida como o conflito entre a Nigéria e a Biafra, que surgiu após a independência da Nigéria e envolveu disputas étnicas e políticas, especialmente entre a etnia Igbo e a tribo Hausa.
2. Como o filme aborda a guerra e as tensões étnicas no país?
“Meio Sol Amarelo” opta por focar nas relações pessoais e dramas familiares das protagonistas da etnia Igbo, mostrando a guerra de forma indireta, com poucas cenas de batalhas, o que pode dificultar a conexão do público com o conflito e reduzir o impacto da denúncia social.
3. Quais são os pontos fortes e fracos da produção segundo a análise?
Os pontos fortes incluem a produção caprichada, filmagens em locações reais, reconstruções históricas autênticas e atuações convincentes, especialmente de Onyeka Onwenu e John Boyega. Entre os pontos fracos está o foco excessivo nos dramas pessoais, que acaba diluindo o impacto histórico e social do filme, limitando sua profundidade como épico sobre a guerra.