O título pode causar estranhamento, e não, não se trata de uma metáfora. Ele descreve de forma direta o que acontece neste média-metragem de 62 minutos: cinco alunas problemáticas de uma escola no interior do Japão descobrem que sua professora, Sawako (interpretada por Aki Miyata), está grávida de três meses e decidem fazer um pacto para que ela interrompa a gestação. O que torna a história ainda mais impactante é saber que ela é baseada em fatos reais.
No entanto, é um erro descartar o filme apenas por sua premissa chocante. A obra traz uma crítica social evidente, característica do cinema japonês, que frequentemente utiliza situações extremas para debater questões reais. Um bom exemplo é o intenso e violento Batalha Real (2000), onde estudantes são forçados a se enfrentarem até restar apenas um sobrevivente — uma versão mais crua do que se vê em Jogos Vorazes. Embora exagerado, o filme reflete a dura realidade de um mundo marcado pela violência. O choque provocado por essas narrativas pode ser uma forma eficaz de reflexão, desde que o público esteja disposto a enxergar além das cenas na tela.
O mesmo se aplica a O Clube (nome que usarei para facilitar), que não deve ser rejeitado apenas por mostrar crianças agindo com crueldade para forçar o aborto da professora. Ignorar o filme seria fechar os olhos para um problema real. Embora não queira dizer que grupos assim se multiplicam em todo lugar, o noticiário frequentemente revela situações ainda mais perturbadoras. É importante que o espectador ultrapasse a superfície da trama e compreenda o que o diretor e roteirista Eisuke Naitô deseja transmitir.
A mensagem mais imediata é a deterioração da relação entre professores e alunos. Há algumas décadas, a disciplina era respeitada e a autoridade do professor era incontestável. Os pais tinham pouca interferência no ambiente escolar, limitando-se a algumas reuniões e à avaliação das notas. Hoje, essa dinâmica mudou radicalmente. Muitos pais, que sofreram a rigidez daquela época, não educam seus filhos com valores básicos como respeito aos adultos. Qualquer tentativa de disciplina, mesmo que moderada e sem violência física — que, aliás, sou contra —, é vista como inaceitável. A inversão de papéis é clara: as crianças sempre têm razão e, se algo está errado, a culpa recai sobre o professor.
Claro que professores podem cometer erros, mas o que se vê hoje é que eles estão acuados, sem espaço para agir dentro da sala de aula. São confrontados por alunos difíceis que, por sua vez, contam com o respaldo de pais agressivos. No filme de Naitô, a professora está impotente diante desses desafios. Quando tenta reagir às ameaças da manipuladora Mizuki (Kaori Kobayashi), líder do grupo, acaba sendo chamada para uma reunião com pais hostis e um diretor que sempre cede às exigências dos responsáveis.
O Clube usa o exagero para nos fazer refletir sobre a importância de restabelecer o papel da autoridade, tanto na escola quanto na sociedade.
Além disso, o filme aborda a banalização da violência que cresce em um ambiente social marcado pelo desequilíbrio de poderes. Estamos acostumados a ver o desrespeito às autoridades, enquanto estas, por sua vez, perdem seu prestígio. Essa confusão entre o certo e o errado fica evidente na atitude da mãe de uma das meninas, que, ao descobrir o envolvimento da filha no plano, simplesmente expulsa Mizuki de casa, mostrando total indiferença à situação da professora. Essa falta de empatia e preocupação com o outro é um problema real e presente em nosso cotidiano.
Porém, O Clube não é perfeito. O uso inicial de efeitos digitais é bastante ruim, ainda que isso possa ser perdoado. Além disso, os personagens são pouco desenvolvidos, sem profundidade, e os atores têm pouco espaço para explorar suas interpretações. A trama se resume a um embate simples entre a professora e o grupo, com um ritmo lento mesmo para um filme curto.
Embora o diretor sugira que há algo por trás do comportamento de Mizuki — cuja família nunca aparece e que parece estar sozinha — essa tentativa de criar uma aura quase sobrenatural para a personagem não combina com o tom realista do restante da obra, destoando da narrativa. Por fim, o desfecho não convence totalmente, pois acaba traindo a premissa inicial do confronto direto entre aluno e professor, buscando uma espécie de reconciliação que parece forçada.
Ainda assim, o filme provoca reflexão e discussão mesmo após o final, algo raro nos dias atuais, o que já é um mérito importante para O Clube.
Título original: Sensei wo rvûzan saseru-kai (Japão, 2012)
Direção e roteiro: Eisuke Naitô
Elenco principal: Aki Miyata, Kaori Kobayashi, Reika Akukawa, entre outros
Duração: 62 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a premissa do filme “O Clube” e em que ele se baseia?
O filme “O Clube” mostra cinco alunas problemáticas que fazem um pacto para que sua professora grávida interrompa a gestação. A história é baseada em fatos reais e aborda temas delicados relacionados à relação entre alunos e professores.
2. Quais são as principais críticas sociais apresentadas pelo filme?
“O Clube” critica a deterioração da relação entre professores e alunos, a perda da autoridade dos educadores, o respaldo dado por pais agressivos aos filhos desrespeitosos, e a banalização da violência e falta de empatia na sociedade atual.
3. Quais são os pontos fortes e fracos do filme segundo a análise?
Entre os pontos fortes, destaca-se a capacidade do filme de provocar reflexão e discussão sobre temas importantes. Já os pontos fracos incluem efeitos digitais ruins no início, personagens pouco desenvolvidos, ritmo lento e um desfecho que pode parecer forçado.
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