Análise Crítica do Filme Concerto Theatro Municipal De Sao Paulo Abertura Da Temporada 2013: Vale a Pena Assistir?
A ópera continua conquistando público, com filas na porta dos teatros. O Brasil, que hoje é uma potência cultural, ainda carece de um grande teatro de ópera — algo surpreendente, já que países desenvolvidos contam com várias casas desse tipo. Vale lembrar que uma produção operística envolve o trabalho de cerca de 300 profissionais, entre atores, músicos, bailarinos, maquiadores, técnicos de palco, serralheiros e iluminadores, entre outros. O objetivo é transformar o Theatro Municipal em São Paulo em uma verdadeira “cidade” de excelência, semelhante ao que o Teatro Colón de Buenos Aires representa, funcionando como um enorme polo gerador de empregos nas artes.
O Theatro Municipal de São Paulo foi inaugurado em setembro de 1911, com a proposta de ser uma casa de ópera para a cidade. Nas duas décadas seguintes, apresentou intensa atividade operística, embora essa frequência tenha diminuído com o tempo. Também sediou a emblemática Semana de Arte Moderna de 1922, fato que o consagrou como um símbolo cultural. No entanto, o teatro enfrentou descaso e negligência por parte das autoridades municipais, passando por ciclos alternados de abandono e tentativas de revitalização. A gestão ineficaz tanto da prefeitura quanto do próprio teatro dificultou a consolidação de um desenvolvimento sustentável para a instituição.
Em 2013, entretanto, houve um sinal promissor: John Neschling, conhecido por sua contribuição à “Revolução OSESP”, assumiu a direção artística do Theatro Municipal, enquanto José Luiz Herencia tornou-se diretor geral. Com o apoio do secretário municipal de cultura, Juca Ferreira, essa nova equipe buscou preservar os pontos fortes da temporada anterior — especialmente as óperas — e traçar um novo rumo, tanto estrutural quanto artístico, para o teatro e para a pouco conhecida Praça das Artes.
Nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2013, o teatro reabriu suas portas para o espetáculo inaugural do ano, sob a regência de Neschling, com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, do Coral Lírico e do Coral Paulistano. Presenciei a apresentação do dia 24 e pude sentir a admiração do público pelo maestro, que foi calorosamente ovacionado ao lado dos músicos e cantores, que realizaram uma performance memorável.
O concerto sinfônico que marcou o início da temporada foi dividido em três partes distintas, cada uma carregada de significado: a celebração dos 200 anos do nascimento de Richard Wagner, as duas décadas desde a morte de Camargo Guarnieri e o bicentenário do compositor Giuseppe Verdi.
A abertura ficou por conta do prelúdio “Morte de Amor” da ópera Tristão e Isolda, de Wagner. Essa peça ganhou popularidade recente por ter sido tema central do filme Melancolia, de Lars von Trier, o que facilitou o reconhecimento imediato da música pelo público — inclusive, uma pessoa ao meu lado comentou: “é a música de Melancolia!”. A experiência de ouvir essa obra ao vivo é inesquecível: o prelúdio é uma exposição musical quase infinita, que não oferece uma conclusão tradicional ao tema, criando uma sensação de suspensão e beleza única. A interpretação mais contida de Neschling permitiu apreciar cada nuance de forma mais profunda.
A segunda parte foi dedicada à Sinfonia nº 2, intitulada Uirapuru, de Camargo Guarnieri. Para mim, foi a primeira vez ouvindo essa obra, e fiquei emocionado com sua qualidade e brasilidade, refletidas no diálogo harmônico entre metais, cordas e percussão. Com movimentos enérgico, terno e festivo, a sinfonia traz influências claras de Villa-Lobos e revela o cuidado meticuloso do compositor na elaboração das variações musicais, tornando-se uma experiência rica tanto para iniciantes quanto para conhecedores da obra de Guarnieri.
O encerramento do concerto ficou por conta das Quatro Peças Sacras de Giuseppe Verdi, que requerem diferentes formações corais para sua execução. As duas primeiras, Ave Maria e Laudi alla Vergine Maria, são para coro a cappella — a primeira com coro misto e a segunda com coro feminino —, e impressionam pela delicadeza e profundidade do tema. As duas últimas, Stabat Mater e Te Deum — minhas favoritas — contam com acompanhamento orquestral, apresentando passagens vocal e instrumental de grande complexidade e emoção, fechando o espetáculo com grande impacto.
Assim como muitos paulistanos apaixonados por música, sinto-me otimista quanto ao futuro do Theatro Municipal. Espero que os novos gestores consigam implementar o ambicioso projeto de revitalização, tanto cultural quanto física, e que promovam a harmonia entre as diferentes corporações artísticas da cidade — orquestras, coros e grupos de dança. O ano de 2013 começou para o teatro com uma promessa significativa, e o concerto inaugural nos deu um vislumbre desse potencial. Confiamos em John Neschling e agora resta saber se os “deuses da música” continuarão a apoiá-lo nessa jornada de renovação.
Perguntas Frequentes:
1. Qual a importância do Theatro Municipal de São Paulo para a cultura operística no Brasil?
O Theatro Municipal de São Paulo é um símbolo cultural importante, inaugurado em 1911 como uma casa de ópera para a cidade. Apesar de ter enfrentado períodos de abandono e negligência, ele tem papel fundamental na história da ópera no Brasil, inclusive sediando eventos emblemáticos como a Semana de Arte Moderna de 1922. Atualmente, busca se consolidar como um polo cultural e gerador de empregos nas artes, com projetos de revitalização artística e estrutural.
2. Quem são os principais responsáveis pela revitalização do Theatro Municipal em 2013 e quais mudanças eles promoveram?
Em 2013, John Neschling assumiu a direção artística do Theatro Municipal, e José Luiz Herencia tornou-se diretor geral. Com o apoio do secretário municipal de cultura, Juca Ferreira, a equipe buscou preservar os pontos fortes da temporada anterior e traçar um novo rumo para o teatro, promovendo melhorias estruturais, artísticas e maior integração com outras instituições culturais da cidade, como a Praça das Artes.
3. Quais foram as obras apresentadas no concerto inaugural da temporada de 2013 e qual foi a reação do público?
O concerto inaugural de 2013 contou com três partes: o prelúdio “Morte de Amor” da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner; a Sinfonia nº 2 “Uirapuru”, de Camargo Guarnieri; e as Quatro Peças Sacras de Giuseppe Verdi. A apresentação, sob regência de John Neschling, foi memorável e recebeu calorosas ovações do público, que demonstrou grande admiração pelo maestro e pelos músicos.