Filmes que focam em crianças e adolescentes costumam ser sempre interessantes, pois refletem, mesmo que através das particularidades culturais e familiares de cada história, um retrato de uma época, um traço que define aquela geração e o mundo em que esses personagens estão inseridos.
É possível encontrar diversas abordagens nesse tipo de obra: desde resgatar a inocência, como em O Pequeno Nicolau; explorar a maldade ou estruturas sociais em filmes totalmente distintos, como Aniki Bóbó e O Senhor das Moscas; mostrar vidas “disfuncionais” entre grupos de jovens, como em Os Gigantes; até tratar da descoberta da sexualidade e do primeiro amor, como em Moonrise Kingdom.
Agarrando a Vida, dirigido por Justin Simms, apresenta a história de dois primos que fogem de figuras paternas autoritárias e rígidas. Essa jornada, repleta de desafios, acaba por fortalecer a amizade entre eles e os força a amadurecer mais rápido do que o esperado, especialmente para o “primo da cidade”.
Ambientado na ilha de Terra Nova, no Canadá, o enredo começa de forma simples: Michael fica órfão após a morte dos pais em um acidente de carro e passa a morar com sua tia e tio Ted. Adaptar-se à nova cidade não é fácil para o garoto, que sofre bullying dos colegas mais velhos, o que resulta em suspensão escolar e conflitos com o tio autoritário. Decidido a escapar dessa situação, Michael é surpreendido quando seu primo Curtis, que também enfrenta problemas com o pai, se junta a ele na fuga. Juntos, eles embarcam numa longa jornada emocional, que terá desfechos diferentes para cada um.
Por trabalhar com atores jovens e pouco experientes, Justin Simms não consegue extrair totalmente a profundidade emocional que o roteiro poderia oferecer se interpretado por profissionais mais maduros. Algumas falas soam simplórias e sem a carga dramática necessária, o que diminui o impacto de certas cenas. No entanto, há momentos em que a dupla se destaca, especialmente nas cenas cômicas, onde a química entre os atores e a ação física ganham força.
O filme transita por três cenários distintos — litoral, cidade e floresta — e isso cria uma narrativa fluida, que acompanha o desaparecimento dos garotos do ambiente familiar e revela como suas famílias reagem a isso. As belas paisagens, muito bem capturadas pela fotógrafa Catherine Luthes, ajudam a construir a atmosfera de exploração vivida pelos personagens. Luthes opta por uma paleta de cores equilibrada, sem contrastes exagerados, e utiliza diferentes tipos de planos para destacar cada ambiente.
Embora a inexperiência dos atores seja notável, o filme equilibra bem seu tom cômico e entrega uma experiência satisfatória, sem deixar o público com a sensação de tempo perdido. A trilha sonora, composta por músicas muito bem escolhidas e encaixadas nas cenas, reforça a conexão do espectador com a jornada dos protagonistas e contribui para o envolvimento emocional na história. Por tudo isso, vale a pena dar uma chance ao filme.
O desfecho não é profundamente reflexivo, mas também não deixa a desejar. Ao superar seus medos, entender valores essenciais da vida e fortalecer uma amizade inesperada, os personagens alcançam um amadurecimento pessoal significativo. O voto de Michael diante do túmulo dos pais — “nunca mais fugir” — sintetiza a lição aprendida entre a tragédia e as descobertas da “longa jornada”. Afinal, não é assim que todos nós crescemos?
Agarrando a Vida (Hold Fast) – Canadá, 2013
Direção: Justin Simms
Roteiro: Rosemary House
Elenco: Molly Parker, Aiden Flynn, Avery Ash, Geraldine Hollett, Jane Dingle, Liam Dawson, Des Walsh, Tim Myles, Andy Jones, Douglas Sullivan
Duração: 93 minutos
Perguntas Frequentes:
1. Qual é a temática central do filme “Agarrando a Vida” e onde a história se passa?
O filme “Agarrando a Vida” aborda a jornada de dois primos que fogem de figuras paternas autoritárias, enfrentando desafios que fortalecem sua amizade e os fazem amadurecer. A história se passa na ilha de Terra Nova, no Canadá.
2. Como a direção e o elenco influenciam na qualidade emocional do filme?
Como o diretor Justin Simms trabalhou com atores jovens e pouco experientes, algumas cenas perdem profundidade emocional, com falas simplórias que diminuem o impacto dramático. No entanto, a química entre os atores se destaca especialmente em cenas cômicas, equilibrando o tom do filme.
3. Quais elementos visuais e sonoros contribuem para a atmosfera do filme?
A fotografia de Catherine Luthes utiliza uma paleta de cores equilibrada e diferentes tipos de planos para destacar os ambientes variados (litoral, cidade e floresta). A trilha sonora, com músicas bem escolhidas e encaixadas nas cenas, reforça a conexão emocional do espectador com a jornada dos protagonistas.
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